QUE SAUDADES DO "AGENTE AMERICANO"!
Noticia-se hoje que «Portugal perdeu seis lugares, desde há um ano apenas, na classificação dos países europeus no que ao potencial de crescimento diz respeito». Isto é gravíssimo pois Portugal é o segundo país, senão o primeiro, menos desenvolvido da União Europeia.
Virão certamente os "anestesistas" do Governo e seus apoiantes desvalorizar esta notícia dizendo que «isso não é grave» pois Portugal encontra-se, mesmo assim, à frente da França e da Itália nessa mesma classificação.
É uma treta este tipo de defesa. Porque a França e a Itália já são suficientemente adultas e desenvolvidas para não terem grande potencial de desenvolvimento.
Isto é como em biologia: é grave sabermos, por exemplo, que uma criança de quatro anos não está a crescer; e não há gravidade nenhuma, sendo mesmo natural e esperado, que um adulto de cinquenta anos não cresça.
Portugal é a criança cujo potencial de crescimento diminuiu; a França é o adulto que já está crescido e que por isso não tem grande potencial de crescimento.
A verdade é que o país patina e a economia definha enquanto o Governo vai fazendo truques de ilusionismo com o Orçamento. Tudo porque o maior partido da oposição deixou de fazer política e entregou-se de alma e coração à defesa de Paulo Pedroso.
Que saudades de Mário Soares, que considerávamos "o agente americano" nos tempos do PREC, homem que ensinou a todos como se deve fazer oposição.
quinta-feira, outubro 30, 2003
quarta-feira, outubro 29, 2003
CÃO DE NOME COBARDE PARA JORNALISTAS?
O Diário de Notícias de hoje faz este relato chocante:
«O primeiro-ministro regressa hoje de Angola com uma nova crise em mãos para resolver. Os ministros do Ambiente e da Agricultura estão de costas voltadas por causa da eventual transferência da tutela das áreas protegidas do Ministério de Amílcar Theias para o de Sevinate Pinto. Theias assumiu ontem aos jornalistas que foi «apanhado de surpresa» com essa possível transferência (que admitiu estar em cima da mesa), à qual se opõe, e passou ao contra-ataque. Afirma que se trata de «uma cedência a interesses particulares». «O Estado tem de ser forte, a política não pode ser apenas uma gestão de interesses particulares», disse.»
A ser verdade o que se diz no DN (e eu não tenho nenhuma razão para duvidar), temos então agora uma prova mais que clara de que o Governo de Portugal (com o dos outros podemos nós bem) tem governado e está a governar cada vez mais para satisfazer interesses privados.
É um ministro que levanta esta lebre, a enfeita, a engalana e a faz correr para que não tenhamos a menor dúvida de que assim é: governa-se para os privados; o povo que se lixe.
Eu tenho batido, aqui neste blogue, na tecla do descalabro que vai ser a privatização da Saúde em Portugal. E verifico, estupefacto - não pelo facto de não me ouvirem (não é disso que se trata - quem sou eu?) -, que apenas o Senhor Presidente da República se preocupa com este magno problema.
A própria comunicação social está-se nas tintas para o problema. Não sei se porque quem paga não quer que se fale no assunto, ou se a razão é outra.
Facto é que a classe dos jornalistas, exceptuando uns quantos (bem poucos), é uma classe de profissionais mal pagos que experimentam dificuldades, senão no dia a dia, pelo menos no mês a mês; e apesar de estarem a sofrer os problemas na pele, os jornalistas ainda não acordaram para se debruçarem sobre o assunto.
Terão os senhores jornalistas tantos médicos amigos, assim, para que nem sequer a nível individual e familiar (ao menos a estes níveis) tenham ainda acordado para o risco que correm (e todos nós corremos) de o acesso aos cuidados de saúde passar a ser mais difícil e esses cuidados passarem a ser de menor qualidade ou mesmo de qualidade duvidosa?
Não viram ainda que as nuvens negras se encastelam no horizonte a cada dia, a cada declaração, a cada decreto, a cada portaria que saem do Governo?
De que é que estão à espera os senhores jornalistas para pegarem no assunto, investigarem e revelarem o estado em que está já, e o estado em que se quer transformar a Saúde em Portugal?
O medo já os tolhe? O chicote do patrão já os amedronta? E se não é disso que se trata, então porque é que estão calados?
Se é por medo comprem um cão e chamem-lhe Cobarde. Sempre é uma solução.
O Diário de Notícias de hoje faz este relato chocante:
«O primeiro-ministro regressa hoje de Angola com uma nova crise em mãos para resolver. Os ministros do Ambiente e da Agricultura estão de costas voltadas por causa da eventual transferência da tutela das áreas protegidas do Ministério de Amílcar Theias para o de Sevinate Pinto. Theias assumiu ontem aos jornalistas que foi «apanhado de surpresa» com essa possível transferência (que admitiu estar em cima da mesa), à qual se opõe, e passou ao contra-ataque. Afirma que se trata de «uma cedência a interesses particulares». «O Estado tem de ser forte, a política não pode ser apenas uma gestão de interesses particulares», disse.»
A ser verdade o que se diz no DN (e eu não tenho nenhuma razão para duvidar), temos então agora uma prova mais que clara de que o Governo de Portugal (com o dos outros podemos nós bem) tem governado e está a governar cada vez mais para satisfazer interesses privados.
É um ministro que levanta esta lebre, a enfeita, a engalana e a faz correr para que não tenhamos a menor dúvida de que assim é: governa-se para os privados; o povo que se lixe.
Eu tenho batido, aqui neste blogue, na tecla do descalabro que vai ser a privatização da Saúde em Portugal. E verifico, estupefacto - não pelo facto de não me ouvirem (não é disso que se trata - quem sou eu?) -, que apenas o Senhor Presidente da República se preocupa com este magno problema.
A própria comunicação social está-se nas tintas para o problema. Não sei se porque quem paga não quer que se fale no assunto, ou se a razão é outra.
Facto é que a classe dos jornalistas, exceptuando uns quantos (bem poucos), é uma classe de profissionais mal pagos que experimentam dificuldades, senão no dia a dia, pelo menos no mês a mês; e apesar de estarem a sofrer os problemas na pele, os jornalistas ainda não acordaram para se debruçarem sobre o assunto.
Terão os senhores jornalistas tantos médicos amigos, assim, para que nem sequer a nível individual e familiar (ao menos a estes níveis) tenham ainda acordado para o risco que correm (e todos nós corremos) de o acesso aos cuidados de saúde passar a ser mais difícil e esses cuidados passarem a ser de menor qualidade ou mesmo de qualidade duvidosa?
Não viram ainda que as nuvens negras se encastelam no horizonte a cada dia, a cada declaração, a cada decreto, a cada portaria que saem do Governo?
De que é que estão à espera os senhores jornalistas para pegarem no assunto, investigarem e revelarem o estado em que está já, e o estado em que se quer transformar a Saúde em Portugal?
O medo já os tolhe? O chicote do patrão já os amedronta? E se não é disso que se trata, então porque é que estão calados?
Se é por medo comprem um cão e chamem-lhe Cobarde. Sempre é uma solução.
PORTUGAL ENCOSTADO ÀS BOXES
A vida parou no planeta Portugal. Todas as atenções (dos jornais às rádios, das televisões ao mais simples transeunte) vão para o julgamento de Carlos Silvino.
Ninguém melhor que Fernando Pessoa, digo, Bernardo Soares, para nos lembrar como somos grandes ou pequenos consoante as nossas sensações.
«A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nela, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida».
Tenham um bom dia.
A vida parou no planeta Portugal. Todas as atenções (dos jornais às rádios, das televisões ao mais simples transeunte) vão para o julgamento de Carlos Silvino.
Ninguém melhor que Fernando Pessoa, digo, Bernardo Soares, para nos lembrar como somos grandes ou pequenos consoante as nossas sensações.
«A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe ainda é pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais que as nossas próprias sensações; nela, pois, que não no que elas vêem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida».
Tenham um bom dia.
terça-feira, outubro 28, 2003
POR PURA COERÊNCIA
Sem cortar o cordão umbilical entre o "Salmoura" e o África Minha, decidi retirar o link deste último do conjunto de links para blogues e colocá-lo mais abaixo com a chamada de atenção de que se trata de um álbum familiar. Acho isto mais honesto e liberta-me para poder trabalhar à vontade naquele álbum.
"África Minha" foi pensado para ser um blogue como outro qualquer, mas desde que começaram a entrar nele assuntos e fotografias de família vi logo que iria ter um carácter radicalmente diferente do que lhe quisera dar configurando apenas um álbum de família em vez de um verdadeiro blogue.
É devido sobretudo às hesitações por que tem passado o autor, entre fazer um blogue como prometera, ou fazer um álbum como está sendo feito, que o África Minha tem estado parado e sem assunto.
A partir de agora "África Minha" pode crescer sem constrangimentos pois assume-se como gato que é em vez da lebre que quisera ser.
Sem cortar o cordão umbilical entre o "Salmoura" e o África Minha, decidi retirar o link deste último do conjunto de links para blogues e colocá-lo mais abaixo com a chamada de atenção de que se trata de um álbum familiar. Acho isto mais honesto e liberta-me para poder trabalhar à vontade naquele álbum.
"África Minha" foi pensado para ser um blogue como outro qualquer, mas desde que começaram a entrar nele assuntos e fotografias de família vi logo que iria ter um carácter radicalmente diferente do que lhe quisera dar configurando apenas um álbum de família em vez de um verdadeiro blogue.
É devido sobretudo às hesitações por que tem passado o autor, entre fazer um blogue como prometera, ou fazer um álbum como está sendo feito, que o África Minha tem estado parado e sem assunto.
A partir de agora "África Minha" pode crescer sem constrangimentos pois assume-se como gato que é em vez da lebre que quisera ser.
FLASH BACK WILL IT BE BACK?
Ouvi António Lobo Xavier, um dos residentes do ex-programa Flash Back da TSF, dizer ontem numa entrevista a Maria João Avillez, na SIC Notícias, que está para breve o regresso do programa, no mesmo formato, só que talvez noutro meio (a televisão, supõe-se).
Não auguro grande audiência televisiva a um programa que vale em mais de 90% por aquilo que nele é dito e não por aquilo que nele pode ser mostrado.
O Flash Back, no seu formato conhecido, é um programa para se ouvir no carro, enquanto se viaja; na cozinha, enquanto se prepara o almoço de domingo; no jardim ou no quintal, enquanto se poda uma roseira ou se faz um churrasco. Nunca refastelado no sofá com os olhos pregados à pantalha onde quatro respeitáveis senhores opinam (sobre coisas interessantes, sem dúvida), analisam, vaticinam, etc.
Ou vencem, na rádio, quem lhes cortou o pio, ou então o que teremos será um espectáculo imageticamente pobre e incapaz de prender, por isso, o telespectador.
Por mim, tenho pena se vier a ser esta a solução.
Ouvi António Lobo Xavier, um dos residentes do ex-programa Flash Back da TSF, dizer ontem numa entrevista a Maria João Avillez, na SIC Notícias, que está para breve o regresso do programa, no mesmo formato, só que talvez noutro meio (a televisão, supõe-se).
Não auguro grande audiência televisiva a um programa que vale em mais de 90% por aquilo que nele é dito e não por aquilo que nele pode ser mostrado.
O Flash Back, no seu formato conhecido, é um programa para se ouvir no carro, enquanto se viaja; na cozinha, enquanto se prepara o almoço de domingo; no jardim ou no quintal, enquanto se poda uma roseira ou se faz um churrasco. Nunca refastelado no sofá com os olhos pregados à pantalha onde quatro respeitáveis senhores opinam (sobre coisas interessantes, sem dúvida), analisam, vaticinam, etc.
Ou vencem, na rádio, quem lhes cortou o pio, ou então o que teremos será um espectáculo imageticamente pobre e incapaz de prender, por isso, o telespectador.
Por mim, tenho pena se vier a ser esta a solução.
EXPLICAÇÃO AOS LEITORES
Não é só a Marmeleira que é aldeia. Olivais Sul, em plena Lisboa, também, às vezes, é aldeia. Por isso Salmoura esteve estes dois últimos dias sem poder blogar devido a falta de sinal decente por parte da TV Cabo. Resolvido o problema, eis que retornamos à "linha", por enquanto sem qualquer novidade.
Não é só a Marmeleira que é aldeia. Olivais Sul, em plena Lisboa, também, às vezes, é aldeia. Por isso Salmoura esteve estes dois últimos dias sem poder blogar devido a falta de sinal decente por parte da TV Cabo. Resolvido o problema, eis que retornamos à "linha", por enquanto sem qualquer novidade.
domingo, outubro 26, 2003
TSF E DN ATINGIDOS PELO MESMO MAL
Não sei bem se está suficientemente claro que os órgãos de informação que pertencem ao universo Lusomundo, nomeadamente o Diário de Notícias e a TSF, atingiram já um grau de transformação suficientemente consistente para que possamos classificá-los como degradados relativamente ao ponto de partida (a altura em que foram adquiridos pelo coronel Luís Silva), mas creio que não restam muitas dúvidas de que as "reestruturações" que têm sofrido determinaram já, de forma inequívoca, uma diminuição significativa da sua qualidade jornalística: através da fuga, do afastamento ou do despedimento de jornalistas; da diminuição do seu pluralismo ao se verificar o estreitamento do universo dos seus colaboradores; e da diminuição da sua independência e isenção pela submissão a estratégias de cariz maioritariamente economicista que passam, forçosamente, pela compra ou pagamento de favores a partidos políticos, autarcas poderosos, proto-candidatos presidenciais, tendo na mira a obtenção futura de condições vantajosas de influência junto do Poder com as inevitáveis contrapartidas económico-financeiras que esse tipo de conúbio sempre proporciona e exige.
Assistimos com espanto ao desaparecimento, da antena da TSF, do programa Flash Back (de qualidade indiscutível no panorama radiofónico nacional) e ao saneamento de Carlos Andrade, um profissional cujo currículo dispensa quaisquer elogios, que ocupava uma posição de Director na estação, sem que na tal "reestruturação" tenha surgido outro programa melhor ou sequer de qualidade sofrível.
No Diário de Notícias, depois de terem cessado algumas colaborações mais incómodas, noticia-se a "promoção" (com um pontapé para cima) de Mário Bettencourt Resendes, outro profissional que à semelhança de Carlos Andrade também dispensa quaisquer elogios.
Relativamente ao Flash Back, Pacheco Pereira informara-nos, há mais de um mês, que «em breve», neste Outubro que já está a findar, teríamos o programa, «com o mesmo formato e os mesmos intervenientes», noutra emissora. Como podemos ver (ouvir), isso ainda não aconteceu. Terão surgido dificuldades nas negociações, dificuldades essas que têm a ver com interferências tentacularmente poderosas por parte de quem os "despediu" da TSF e se mostra capaz de os manter calados "cortando" os fios dos microfones alheios?
No Diário de Notícias teme-se o pior quando vem para director um assessor do ex-ministro Martins da Cruz. Aqui a estratégia de que falámos acima é mais claramente cristalina no que à colagem ao Poder diz respeito.
No meio disto tudo quem fica a perder somos todos nós (a Nação). E fica claro que privatizar não é sinónimo de liberdade. Assim como estatizar também não o é.
Há que encontrar sempre um ponto de equilíbrio entre uma coisa e a outra.
É por isso que vamos avisando aqui neste blogue que a privatização da Saúde vai custar caríssimo à Nação pelo simples facto de que o que se quer é dar tudo aos amigos de tal forma que não haverá lugar para a existência do tal ponto de equilíbrio tão necessário para que exista liberdade, equidade, justiça e Direito(s).
Oxalá estejamos enganadíssimos da Costa e com os neurónios num fanico. Até rezamos a Deus, apesar de sermos incréus, para que assim seja. Amem.
Não sei bem se está suficientemente claro que os órgãos de informação que pertencem ao universo Lusomundo, nomeadamente o Diário de Notícias e a TSF, atingiram já um grau de transformação suficientemente consistente para que possamos classificá-los como degradados relativamente ao ponto de partida (a altura em que foram adquiridos pelo coronel Luís Silva), mas creio que não restam muitas dúvidas de que as "reestruturações" que têm sofrido determinaram já, de forma inequívoca, uma diminuição significativa da sua qualidade jornalística: através da fuga, do afastamento ou do despedimento de jornalistas; da diminuição do seu pluralismo ao se verificar o estreitamento do universo dos seus colaboradores; e da diminuição da sua independência e isenção pela submissão a estratégias de cariz maioritariamente economicista que passam, forçosamente, pela compra ou pagamento de favores a partidos políticos, autarcas poderosos, proto-candidatos presidenciais, tendo na mira a obtenção futura de condições vantajosas de influência junto do Poder com as inevitáveis contrapartidas económico-financeiras que esse tipo de conúbio sempre proporciona e exige.
Assistimos com espanto ao desaparecimento, da antena da TSF, do programa Flash Back (de qualidade indiscutível no panorama radiofónico nacional) e ao saneamento de Carlos Andrade, um profissional cujo currículo dispensa quaisquer elogios, que ocupava uma posição de Director na estação, sem que na tal "reestruturação" tenha surgido outro programa melhor ou sequer de qualidade sofrível.
No Diário de Notícias, depois de terem cessado algumas colaborações mais incómodas, noticia-se a "promoção" (com um pontapé para cima) de Mário Bettencourt Resendes, outro profissional que à semelhança de Carlos Andrade também dispensa quaisquer elogios.
Relativamente ao Flash Back, Pacheco Pereira informara-nos, há mais de um mês, que «em breve», neste Outubro que já está a findar, teríamos o programa, «com o mesmo formato e os mesmos intervenientes», noutra emissora. Como podemos ver (ouvir), isso ainda não aconteceu. Terão surgido dificuldades nas negociações, dificuldades essas que têm a ver com interferências tentacularmente poderosas por parte de quem os "despediu" da TSF e se mostra capaz de os manter calados "cortando" os fios dos microfones alheios?
No Diário de Notícias teme-se o pior quando vem para director um assessor do ex-ministro Martins da Cruz. Aqui a estratégia de que falámos acima é mais claramente cristalina no que à colagem ao Poder diz respeito.
No meio disto tudo quem fica a perder somos todos nós (a Nação). E fica claro que privatizar não é sinónimo de liberdade. Assim como estatizar também não o é.
Há que encontrar sempre um ponto de equilíbrio entre uma coisa e a outra.
É por isso que vamos avisando aqui neste blogue que a privatização da Saúde vai custar caríssimo à Nação pelo simples facto de que o que se quer é dar tudo aos amigos de tal forma que não haverá lugar para a existência do tal ponto de equilíbrio tão necessário para que exista liberdade, equidade, justiça e Direito(s).
Oxalá estejamos enganadíssimos da Costa e com os neurónios num fanico. Até rezamos a Deus, apesar de sermos incréus, para que assim seja. Amem.
sábado, outubro 25, 2003
NÃO DIGAM DEPOIS QUE NÃO VOS AVISEI
Aqui em O Espelho (chamo-o assim porque é onde algumas vezes nos revemos) podemos ler o seguinte:
«Em Hipocras 4, servir a comunidade, ser útil, não é uma prioridade para a maioria dos médicos. Primeiro está a sua comodidadezinha, o seu negócio. Que é isso de aceitar ser colocado na província? Que é isso de ser operado no meu hospital antes de deixar o dinheiro de algumas consultas lá no consultório que tenho na cidade? Que é isso de tratar das «pequenas» coisas – a vacinação de crianças, as bronquites, as queixas dos velhos?»
Isto que escreveu o autor dessa posta é uma caricatura a traço grosso da realidade actual, o que quer dizer que em parte da classe médica verifica-se algo de muito parecido mas nada de tão descarado e inumano. Mas caminha-se a passos largos para que esse traço grosso venha a ser no futuro a pura expressão da realidade. E porquê?
Porque toda a filosofia que está hoje a ser aplicada na política oficial de Saúde, desde o Governo Guterres, com Correia de Campos a ministro, em que o que interessa são os negócios que se podem fazer com a Saúde e os resultados de gestão que se querem obter (números, balancetes e dinheiro) - para o que à frente dos hospitais se colocam gestores vindos de fábricas de parafusos, de refrigerantes, de papel higiénico; de empresas de electricidade, de cimentos, de pasta de papel e por aí fora - em nítido e chocante desprezo pelos cidadãos doentes e pelos técnicos de Saúde, toda essa filosofia de privatização, privatização, privatização - em que os hospitais passarão a ser mega centros comerciais de assistência médica - só pode levar a que os médicos se sintam comerciantes, lojistas, feirantes, vendedores de "artigos" que podem interessar ao comprador necessitado e esqueçam de vez que houve um senhor chamado Hipócrates que deixou um texto lindo que ainda hoje se chama "O Juramento de Hipócrates", juramento este que hoje em dia já não compromete nenhum médico porque, simplesmente, deixou de ser exigido de há muitos anos nas Faculdades de Medicina - dizia eu - essa filosofia que os Governos estão a implementar à martelada para satisfação de clientelas bem conhecidas, vai de facto fazer com que a Saúde passe a ser encarada como mais um negócio banal e à sua volta se venham a fazer movimentos transaccionais de puro comércio em que de um lado estará o médico e os profissionais "produtores" de bens, e do outro lado estarão os doentes "consumidores" que terão que arranjar forma de adquirirem os "produtos" que lhes fazem falta e a que só terão acesso se tiverem dinheiro, seguros chorudos ou então crédito.
Caminha-se a passos largos (não sei se firmes - espero que não) para a perda do Direito à Saúde por parte dos cidadãos.
Esta é a maior batalha que os cidadãos enfrentam neste momento. E está nas mãos do senhor Presidente da República (que felizmente está sensibilizado para o problema) liderar por inteiro este processo. Porque se não for ele a interessar-se pelo assunto, o "Zé" estará positivamente tramado.
Não acreditem não, que ainda terão uma surpresa do caraças!
Este é um assunto que deveria estar na ordem do dia e só não está (para bem do Governo) por causa das porcarias em que chafurda a comunicação social, com as televisões todas à cabeça.
Entretenham-se com as «novelas» e o crédito barato que ainda se lixam!
Aqui em O Espelho (chamo-o assim porque é onde algumas vezes nos revemos) podemos ler o seguinte:
«Em Hipocras 4, servir a comunidade, ser útil, não é uma prioridade para a maioria dos médicos. Primeiro está a sua comodidadezinha, o seu negócio. Que é isso de aceitar ser colocado na província? Que é isso de ser operado no meu hospital antes de deixar o dinheiro de algumas consultas lá no consultório que tenho na cidade? Que é isso de tratar das «pequenas» coisas – a vacinação de crianças, as bronquites, as queixas dos velhos?»
Isto que escreveu o autor dessa posta é uma caricatura a traço grosso da realidade actual, o que quer dizer que em parte da classe médica verifica-se algo de muito parecido mas nada de tão descarado e inumano. Mas caminha-se a passos largos para que esse traço grosso venha a ser no futuro a pura expressão da realidade. E porquê?
Porque toda a filosofia que está hoje a ser aplicada na política oficial de Saúde, desde o Governo Guterres, com Correia de Campos a ministro, em que o que interessa são os negócios que se podem fazer com a Saúde e os resultados de gestão que se querem obter (números, balancetes e dinheiro) - para o que à frente dos hospitais se colocam gestores vindos de fábricas de parafusos, de refrigerantes, de papel higiénico; de empresas de electricidade, de cimentos, de pasta de papel e por aí fora - em nítido e chocante desprezo pelos cidadãos doentes e pelos técnicos de Saúde, toda essa filosofia de privatização, privatização, privatização - em que os hospitais passarão a ser mega centros comerciais de assistência médica - só pode levar a que os médicos se sintam comerciantes, lojistas, feirantes, vendedores de "artigos" que podem interessar ao comprador necessitado e esqueçam de vez que houve um senhor chamado Hipócrates que deixou um texto lindo que ainda hoje se chama "O Juramento de Hipócrates", juramento este que hoje em dia já não compromete nenhum médico porque, simplesmente, deixou de ser exigido de há muitos anos nas Faculdades de Medicina - dizia eu - essa filosofia que os Governos estão a implementar à martelada para satisfação de clientelas bem conhecidas, vai de facto fazer com que a Saúde passe a ser encarada como mais um negócio banal e à sua volta se venham a fazer movimentos transaccionais de puro comércio em que de um lado estará o médico e os profissionais "produtores" de bens, e do outro lado estarão os doentes "consumidores" que terão que arranjar forma de adquirirem os "produtos" que lhes fazem falta e a que só terão acesso se tiverem dinheiro, seguros chorudos ou então crédito.
Caminha-se a passos largos (não sei se firmes - espero que não) para a perda do Direito à Saúde por parte dos cidadãos.
Esta é a maior batalha que os cidadãos enfrentam neste momento. E está nas mãos do senhor Presidente da República (que felizmente está sensibilizado para o problema) liderar por inteiro este processo. Porque se não for ele a interessar-se pelo assunto, o "Zé" estará positivamente tramado.
Não acreditem não, que ainda terão uma surpresa do caraças!
Este é um assunto que deveria estar na ordem do dia e só não está (para bem do Governo) por causa das porcarias em que chafurda a comunicação social, com as televisões todas à cabeça.
Entretenham-se com as «novelas» e o crédito barato que ainda se lixam!
ARNALDO JABOR DE NOVO
É simplesmente "imperdível" a última crónica de Arnaldo Jabor no jornal O Globo, do Rio de Janeiro.
«As coisas já mandam em tudo».
«A grande mentira da globalização poderá ser um movimento internacional, com as massas em busca de outros valores. Essa revisão crítica aconteceu nos anos 60/70 e poderá se repetir, se começar nos USA».
É simplesmente "imperdível" a última crónica de Arnaldo Jabor no jornal O Globo, do Rio de Janeiro.
«As coisas já mandam em tudo».
«A grande mentira da globalização poderá ser um movimento internacional, com as massas em busca de outros valores. Essa revisão crítica aconteceu nos anos 60/70 e poderá se repetir, se começar nos USA».
SALMOURA INSPIRA EDITORIAL DO PÚBLICO
Tudo leva a crer que José Manuel Fernandes, director do Público, leu a posta logo aqui em baixo, inspirou-se nela e escreveu hoje, no editorial daquele jornal, sobre a situação de Ferro Rodrigues aos comandos do PS e a decisão que sobre isso tomou a Comissão Política daquele partido, para terminar a sua análise escrevendo à la Salmoura: «A "liderança reforçada" de Ferro Rodrigues não é pois mais do que um exercício de hipocrisia e de cobardia política. Ferro foi aclamado como Balsemão era aclamado no PSD há 20 anos atrás, onde foi de vitória em vitória até à queda final».
Tenho que começar a cobrar direitos de autor. E, pelo sim, pelo não, vou começar por me inscrever na Sociedade Portuguesa de Autores.
Tudo leva a crer que José Manuel Fernandes, director do Público, leu a posta logo aqui em baixo, inspirou-se nela e escreveu hoje, no editorial daquele jornal, sobre a situação de Ferro Rodrigues aos comandos do PS e a decisão que sobre isso tomou a Comissão Política daquele partido, para terminar a sua análise escrevendo à la Salmoura: «A "liderança reforçada" de Ferro Rodrigues não é pois mais do que um exercício de hipocrisia e de cobardia política. Ferro foi aclamado como Balsemão era aclamado no PSD há 20 anos atrás, onde foi de vitória em vitória até à queda final».
Tenho que começar a cobrar direitos de autor. E, pelo sim, pelo não, vou começar por me inscrever na Sociedade Portuguesa de Autores.
HÁ FESTA RIJA NO PSD
Ferro Rodrigues – de vitória em vitória, até à derrota final – continua como líder do P.S. após reunião da Comissão Política do partido que votou maioritariamente a sua permanência no cargo.
Dizem que há festa rija na S. Caetano e que só não há fogo de artifício por causa do perigo de os foguetes originarem incêndios na capital.
Dizem ainda que António Vitorino mandou recado de que enquanto houver motim a bordo e o barco se mantiver atracado ao cais da Casa Pia não de disponibiliza a sequer admitir a hipótese de uma (des)promoção a comandante.
Ferro Rodrigues – de vitória em vitória, até à derrota final – continua como líder do P.S. após reunião da Comissão Política do partido que votou maioritariamente a sua permanência no cargo.
Dizem que há festa rija na S. Caetano e que só não há fogo de artifício por causa do perigo de os foguetes originarem incêndios na capital.
Dizem ainda que António Vitorino mandou recado de que enquanto houver motim a bordo e o barco se mantiver atracado ao cais da Casa Pia não de disponibiliza a sequer admitir a hipótese de uma (des)promoção a comandante.
sexta-feira, outubro 24, 2003
O MISTÉRIO DA SIMPLICIDADE
Sabemos todos que os diversos aparelhos electrónicos que temos em nossas casas (televisor, rádio, computador, etc.) são constituídos por um grande número de variadas peças electrónicas: transístores, resistências, bobines, condensadores, etc. Imaginemos agora que alguém era capaz de construir um desses aparelhos utilizando apenas e só transístores; ou somente resistências; ou apenas condensadores.
No dia em que o homem for capaz de fazer algo semelhante terá descoberto o segredo do funcionamento do cérebro.
Como sabemos muito bem, o cérebro é constituído apenas por um único tipo de peça: o neurónio. Aos biliões.
Como é possível que uma máquina tão rudimentar tenha tantas e tão variadas funções?
Sabemos todos que os diversos aparelhos electrónicos que temos em nossas casas (televisor, rádio, computador, etc.) são constituídos por um grande número de variadas peças electrónicas: transístores, resistências, bobines, condensadores, etc. Imaginemos agora que alguém era capaz de construir um desses aparelhos utilizando apenas e só transístores; ou somente resistências; ou apenas condensadores.
No dia em que o homem for capaz de fazer algo semelhante terá descoberto o segredo do funcionamento do cérebro.
Como sabemos muito bem, o cérebro é constituído apenas por um único tipo de peça: o neurónio. Aos biliões.
Como é possível que uma máquina tão rudimentar tenha tantas e tão variadas funções?
UM NOVO BLOGUE SOBRE ARQUITECTURA
Salmoura foi convidado, visitou e gostou do novo blogue, Epiderme, sobre arquitectura. Mais um blogue desta área a somar a O Projecto e a enriquecer a blogosfera com novos pontos de vista e reflexões sobre a realidade e a vida. Gostámos sobretudo da posta "O Corpo Errado". E damos os parabéns a Pedro Jordão por esta iniciativa.
Salmoura foi convidado, visitou e gostou do novo blogue, Epiderme, sobre arquitectura. Mais um blogue desta área a somar a O Projecto e a enriquecer a blogosfera com novos pontos de vista e reflexões sobre a realidade e a vida. Gostámos sobretudo da posta "O Corpo Errado". E damos os parabéns a Pedro Jordão por esta iniciativa.
terça-feira, outubro 21, 2003
A MAIOR CRISE DO REGIME?
Qualquer cidadão responsável que tenha seguido com atenção as declarações que o senhor bastonário da Ordem dos Advogados acabou de fazer há pouco no Jornal 2 da RTP tem razões de sobra para ficar profundamente preocupado com o estado a que chegou o Regime Democrático em Portugal.
O senhor bastonário foi claríssimo quando declarou que há instituições respeitadas que deveriam ser respeitáveis e que andam a praticar «autênticas garotices» no que ao seu funcionamento e ao funcionamento do Estado de Direito diz respeito. E ele só não foi mais claro porque não o podia ser: subentendia-se que estava a falar da investigação policial, do Ministério Público e da Procuradoria Geral da República.
Isto são declarações de uma gravidade extrema que não podem deixar de preocupar o mais simples dos cidadãos.
Na linha do meu (mau) estilo eu já ia trazer à colação o que se tem passado na Guiné-Bissau. Mas calo-me e não caio na tentação de o fazer porque acho que tenho o dever de pensar preocupadamente sobre de que forma é que eu, cidadão que me considero responsável, devo agir no sentido de contribuir para que haja uma solução para tudo isto e não se continue a seguir o caminho de degradação das instituições como ora se verifica.
Penso que terá de haver ao menos formas de intervenção cívica que podemos ter para dar o nosso contributo para a solução dos problemas focados. Porque, a não serem resolvidos a tempo, temos todas as razões para temermos pelo futuro dos nossos filhos.
Qualquer cidadão responsável que tenha seguido com atenção as declarações que o senhor bastonário da Ordem dos Advogados acabou de fazer há pouco no Jornal 2 da RTP tem razões de sobra para ficar profundamente preocupado com o estado a que chegou o Regime Democrático em Portugal.
O senhor bastonário foi claríssimo quando declarou que há instituições respeitadas que deveriam ser respeitáveis e que andam a praticar «autênticas garotices» no que ao seu funcionamento e ao funcionamento do Estado de Direito diz respeito. E ele só não foi mais claro porque não o podia ser: subentendia-se que estava a falar da investigação policial, do Ministério Público e da Procuradoria Geral da República.
Isto são declarações de uma gravidade extrema que não podem deixar de preocupar o mais simples dos cidadãos.
Na linha do meu (mau) estilo eu já ia trazer à colação o que se tem passado na Guiné-Bissau. Mas calo-me e não caio na tentação de o fazer porque acho que tenho o dever de pensar preocupadamente sobre de que forma é que eu, cidadão que me considero responsável, devo agir no sentido de contribuir para que haja uma solução para tudo isto e não se continue a seguir o caminho de degradação das instituições como ora se verifica.
Penso que terá de haver ao menos formas de intervenção cívica que podemos ter para dar o nosso contributo para a solução dos problemas focados. Porque, a não serem resolvidos a tempo, temos todas as razões para temermos pelo futuro dos nossos filhos.
JUSTIFICAÇÃO PACÓVIA HABITUAL
Este é o País onde tudo o que acontece "não acontece bem assim".
Noticia a TSF on-line:
«Imprensa portuguesa está menos livre»
«Portugal caiu 21 lugares na escala da liberdade de imprensa elaborada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), numa tabela onde é ultrapassado por países como Trinidade e Tobago, Letónia, Nova Zelândia, Jamaica e África do Sul.»
«Contactado pela agência Lusa o presidente do Sindicato de Jornalistas, Alfredo Maia, desdramatizou os resultados do estudo dos Repórteres Sem Fronteiras, pois «não são conhecidos os critérios do estudo».
Estou a ver Alfredo Maia a entrar na redacção do jornal e a dizer aos colegas: fui hoje ao urologista e o tipo, pá, depois de me submeter a uns exames, disse-me que tenho um cancro da próstata.
Observa-lhe então um dos colegas: e dizes isso, assim, sem a menor preocupação, como se nada fosse?
Ao que Alfredo Maia lhe responde: o que é que queres, pá. Achas que devo acreditar? Eu não conheço os critérios em que o gajo se baseou para fazer o diagnóstico!
Este é o País onde tudo o que acontece "não acontece bem assim".
Noticia a TSF on-line:
«Imprensa portuguesa está menos livre»
«Portugal caiu 21 lugares na escala da liberdade de imprensa elaborada pela organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), numa tabela onde é ultrapassado por países como Trinidade e Tobago, Letónia, Nova Zelândia, Jamaica e África do Sul.»
«Contactado pela agência Lusa o presidente do Sindicato de Jornalistas, Alfredo Maia, desdramatizou os resultados do estudo dos Repórteres Sem Fronteiras, pois «não são conhecidos os critérios do estudo».
Estou a ver Alfredo Maia a entrar na redacção do jornal e a dizer aos colegas: fui hoje ao urologista e o tipo, pá, depois de me submeter a uns exames, disse-me que tenho um cancro da próstata.
Observa-lhe então um dos colegas: e dizes isso, assim, sem a menor preocupação, como se nada fosse?
Ao que Alfredo Maia lhe responde: o que é que queres, pá. Achas que devo acreditar? Eu não conheço os critérios em que o gajo se baseou para fazer o diagnóstico!
O MEDO
Fiquemos hoje com este quadro de Gauguin (que vem mesmo a propósito nestes dias em que pairam fantasmas sobre Portugal) para nos lembrar a existência do medo dos demónios mas também para nos dar a fruir a imagem da beleza e da sensualidade de um corpo feminino.
Spirit of the Dead Watching
Gauguin (1892)
Gauguin descreve no seu diário o incidente que o inspirou para pintar este quadro: de regresso a casa, a altas horas da noite, acendeu um fósforo e viu sua mulher, Tehura, imóvel, nua, deitada sobre o ventre com os olhos abertos de medo. «Ter-me-á tomado por um dos demónios ou espectros que lendariamente costumam visitar os Tupapaus nas noites de insónia?», pergunta o artista no seu diário.
Fiquemos hoje com este quadro de Gauguin (que vem mesmo a propósito nestes dias em que pairam fantasmas sobre Portugal) para nos lembrar a existência do medo dos demónios mas também para nos dar a fruir a imagem da beleza e da sensualidade de um corpo feminino.
Spirit of the Dead Watching
Gauguin (1892)
Gauguin descreve no seu diário o incidente que o inspirou para pintar este quadro: de regresso a casa, a altas horas da noite, acendeu um fósforo e viu sua mulher, Tehura, imóvel, nua, deitada sobre o ventre com os olhos abertos de medo. «Ter-me-á tomado por um dos demónios ou espectros que lendariamente costumam visitar os Tupapaus nas noites de insónia?», pergunta o artista no seu diário.
domingo, outubro 19, 2003
ESCATOLOGIA ANIMAL A SÉRIO
Jorge Nunes, com e-mail sedeado na Universidade de Évora, que suponho especialista no assunto, escreveu-me a propósito da "POSTA ESCATOLÓGICA" em que eu falava do cocó de coruja.
Esclarece-me esse especialista: «Pela discrição que faz, não me parece que seja "cocó", mas antes uma plumada, ou seja o produto da regurgitação dos materiais que a coruja não é capaz de digerir, como pelos ossos, escamas, etc.»
Agradeço, por mim e pelos leitores interessados no conhecimento dos animais. E já agora declaro que sou "especializado" em felinos domésticos – gatos, em resumo. Tenho dois persas azuis-fumados, inteligentes mas com certas manias de que falarei mais tarde.
Jorge Nunes, com e-mail sedeado na Universidade de Évora, que suponho especialista no assunto, escreveu-me a propósito da "POSTA ESCATOLÓGICA" em que eu falava do cocó de coruja.
Esclarece-me esse especialista: «Pela discrição que faz, não me parece que seja "cocó", mas antes uma plumada, ou seja o produto da regurgitação dos materiais que a coruja não é capaz de digerir, como pelos ossos, escamas, etc.»
Agradeço, por mim e pelos leitores interessados no conhecimento dos animais. E já agora declaro que sou "especializado" em felinos domésticos – gatos, em resumo. Tenho dois persas azuis-fumados, inteligentes mas com certas manias de que falarei mais tarde.
AH GRANDE CAMARADA MARCELO!
Confirmando o domínio da Esquerda na comunicação social, hoje à noite, nos seus comentários na TVi, Marcelo elogiou Durão Barroso pelo facto de, nas negociações com Bruxelas, Portugal ter conseguido, para a produção leiteira dos Açores, «aquilo que o governo anterior já tinha conseguido mas se corria o risco de não se continuar a ter».
Eu traduzo:
Durão Barroso é felicitado por Marcelo por ter conseguido que os Açores mantivessem a mesma cota de produção de leite que já tinham.
Grande proeza, sim senhor. Venham de lá esses ossos, camarada!
Nota: Esta é uma pequena amostra do tipo de manipulação que os comentadores de telejornais costumam fazer para propagandear o Governo mesmo quando este está paralizado ou faz asneira grossa. E depois aparecem, aqui pelos blogues, cabecinhas loiras a dizer que a Esquerda domina a comunicação social.
Confirmando o domínio da Esquerda na comunicação social, hoje à noite, nos seus comentários na TVi, Marcelo elogiou Durão Barroso pelo facto de, nas negociações com Bruxelas, Portugal ter conseguido, para a produção leiteira dos Açores, «aquilo que o governo anterior já tinha conseguido mas se corria o risco de não se continuar a ter».
Eu traduzo:
Durão Barroso é felicitado por Marcelo por ter conseguido que os Açores mantivessem a mesma cota de produção de leite que já tinham.
Grande proeza, sim senhor. Venham de lá esses ossos, camarada!
Nota: Esta é uma pequena amostra do tipo de manipulação que os comentadores de telejornais costumam fazer para propagandear o Governo mesmo quando este está paralizado ou faz asneira grossa. E depois aparecem, aqui pelos blogues, cabecinhas loiras a dizer que a Esquerda domina a comunicação social.
POSTA ESCATOLÓGICO-POLÍTICA
Há coisas que todos nós fazemos em privado e que nos destituiria de qualquer cargo se as fizéssemos em público. Apesar de toda a gente saber que fazemos estas coisas e que é natural que as façamos.
É um problema de imagem, de ética e de estética.
São convenções a que atribuímos imensa importância em sociedade e que contam sobremaneira para manter os "barcos" à tona da água e no rumo certo.
Todos nós dizemos obscenidades em privado. E achamos isso perfeitamente natural. Mas não admitimos, por um momento só que seja, que, em determinadas circunstâncias, possamos fazer o mesmo sem consequências.
O simples facto de sabermos hoje, sem quaisquer dúvidas, que Ferro Rodrigues, secretário geral do PS e líder do maior partido da oposição, disse que se estava «cagando para o segredo de justiça» desqualifica-o para continuar no cargo que ora ocupa. Por mais que o segredo de justiça mereça hoje que todos nós caguemos para ele.
Nós admitimos que o sistema digestivo de Ferro Rodrigues funciona maravilhosamente e que por isso ele caga todos os dias como qualquer outro mortal.
Isso é perfeitamente natural.
Mas não admitiríamos vê-lo arrear as calças e cagar em plena praça do Rossio, por exemplo.
Foi o que ele fez pelo telefone: cagou em público.
E isso é imperdoável a uma figura com as responsabilidades que ele tem.
E basta para que lhe seja apontada a porta da rua da liderança do PS.
Não pode haver contemplações quanto a isso.
Ninguém sente respeito e vota num partido dirigido por um cagador tão descarado.
Há coisas que todos nós fazemos em privado e que nos destituiria de qualquer cargo se as fizéssemos em público. Apesar de toda a gente saber que fazemos estas coisas e que é natural que as façamos.
É um problema de imagem, de ética e de estética.
São convenções a que atribuímos imensa importância em sociedade e que contam sobremaneira para manter os "barcos" à tona da água e no rumo certo.
Todos nós dizemos obscenidades em privado. E achamos isso perfeitamente natural. Mas não admitimos, por um momento só que seja, que, em determinadas circunstâncias, possamos fazer o mesmo sem consequências.
O simples facto de sabermos hoje, sem quaisquer dúvidas, que Ferro Rodrigues, secretário geral do PS e líder do maior partido da oposição, disse que se estava «cagando para o segredo de justiça» desqualifica-o para continuar no cargo que ora ocupa. Por mais que o segredo de justiça mereça hoje que todos nós caguemos para ele.
Nós admitimos que o sistema digestivo de Ferro Rodrigues funciona maravilhosamente e que por isso ele caga todos os dias como qualquer outro mortal.
Isso é perfeitamente natural.
Mas não admitiríamos vê-lo arrear as calças e cagar em plena praça do Rossio, por exemplo.
Foi o que ele fez pelo telefone: cagou em público.
E isso é imperdoável a uma figura com as responsabilidades que ele tem.
E basta para que lhe seja apontada a porta da rua da liderança do PS.
Não pode haver contemplações quanto a isso.
Ninguém sente respeito e vota num partido dirigido por um cagador tão descarado.
sexta-feira, outubro 17, 2003
ISTO CHEIRA-ME A ESTURRO!
Noticia a TSF on-line:
«A Juventude Popular (JP) quer que o aborto passe a ser classificado inconstitucional na próxima revisão constitucional. Esta alteração impediria a apresentação de qualquer proposta para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.»
Querem ver que esses meninos estão a pensar proibir também os abortos espontâneos, que são considerados pela ciência médica como que uma "medida" que a Natureza "toma" para se livrar de produtos de concepção com defeitos genéticos e outros afins?
Querem ver que esses meninos descobriram que a melhor forma de engrossarem o campo de recrutamento de militantes e de políticos da Direita é aumentando o número de abortos-vivos?
Não chegam os que já lá têm? seus glutões!
Noticia a TSF on-line:
«A Juventude Popular (JP) quer que o aborto passe a ser classificado inconstitucional na próxima revisão constitucional. Esta alteração impediria a apresentação de qualquer proposta para a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.»
Querem ver que esses meninos estão a pensar proibir também os abortos espontâneos, que são considerados pela ciência médica como que uma "medida" que a Natureza "toma" para se livrar de produtos de concepção com defeitos genéticos e outros afins?
Querem ver que esses meninos descobriram que a melhor forma de engrossarem o campo de recrutamento de militantes e de políticos da Direita é aumentando o número de abortos-vivos?
Não chegam os que já lá têm? seus glutões!
quinta-feira, outubro 16, 2003
GNRs PARA O IRAQUE, JÁ!
Foi aprovada hoje na ONU uma resolução que «vem legitimar» (palavras do senhor Primeiro-ministro) o envio dos elementos da GNR para o Iraque.
Se a resolução VEM LEGITIMAR, isto quer dizer que a decisão tomada antes pelo Governo de enviar esses elementos da GNR para o Iraque não era legítima.
Mas adiante:
Escolham lá então as potenciais vítimas portuguesas, façam-lhes uma despedida condigna e vão preparando os caixões.
Agora é que é. O ministro Paulo Portas vai começar a ter mais razões para aparecer perante as câmaras de televisão limpando lágrimas e exaltando os valores patrióticos defendidos no Iraque pelos nossos heróis.
Aguardemos.
Foi aprovada hoje na ONU uma resolução que «vem legitimar» (palavras do senhor Primeiro-ministro) o envio dos elementos da GNR para o Iraque.
Se a resolução VEM LEGITIMAR, isto quer dizer que a decisão tomada antes pelo Governo de enviar esses elementos da GNR para o Iraque não era legítima.
Mas adiante:
Escolham lá então as potenciais vítimas portuguesas, façam-lhes uma despedida condigna e vão preparando os caixões.
Agora é que é. O ministro Paulo Portas vai começar a ter mais razões para aparecer perante as câmaras de televisão limpando lágrimas e exaltando os valores patrióticos defendidos no Iraque pelos nossos heróis.
Aguardemos.
A PROPÓSITO DA UNIVERSIDADE
Segunda-feira passada, no programa "Prós e Contras" da RTP, o professor José Tribolet disse isto: a Universidade hoje é uma balda; na Universidade, hoje em dia, a maior parte das aulas não são (sic) dadas, a maior parte das aulas não são (sic) dadas – repetiu.
Sobre isso quero só dizer duas coisas apenas:
1) Sei, por vivência pessoal, que essa afirmação é verdadeira.
2) Essas aulas que não são dadas não fazem falta nenhuma.
E essas aulas não fazem falta nenhuma porque, hoje em dia, a preparação dos assistentes das diversas cadeiras é deficientíssima. Para além disso os assistentes não têm as condições mínimas de trabalho exigíveis; alguns deles trabalham de graça gastando, às vezes, ainda por cima, dinheiro do seu próprio bolso para dar as aulas.
O recrutamento de assistentes em certas cadeiras do curso de Medicina, por exemplo, obedece ao critério de escolha dos menos capazes no mercado de trabalho porque são os únicos que ainda têm tempo para perder com o ensino que já não acrescenta nada ao currículo de um médico. É TRISTE MAS É VERDADE.
A grande maioria dos assistentes debita nas aulas apenas parte das matérias que constam das sebentas e dos livros tornando a presença dos alunos nas aulas um puro desperdício de tempo.
Eu conheço esta realidade de ginjeira. É assim mesmo como digo.
Longe vai o tempo em que os alunos iam às aulas porque os professores, para além de ensinarem o que vinha nos livros e nas sebentas, ensinavam ainda matérias que não vinham neles e que podiam sair nos exames.
Hoje em dia a Universidade é maioritariamente um lugar onde os alunos se encontram com colegas e professores e onde se organizam e se realizam exames.
O que se aprende está todo nos livros e basta tê-los e estudá-los para se passar nos exames.
O que acaba dito aplica-se inteiramente às aulas teóricas.
As aulas práticas continuam a ser úteis para os cursos que as têm, mas a sua qualidade tem baixado para níveis caninos em certos deles.
Qualquer dia, mesmo as aulas práticas, deixarão de ter razão de existir.
E então sim. Teremos licenciados à imagem do País: profissionais de brincadeira, actores reais de uma autêntica ópera bufa.
É SÓ ESPERAR QUE O ENSINO SEJA TODO PRIVATIZADO PARA CHEGARMOS A ISSO.
Nota: Como em tudo na vida, há excepções (oásis a caminho de serem terras de sequeiro?).
Segunda-feira passada, no programa "Prós e Contras" da RTP, o professor José Tribolet disse isto: a Universidade hoje é uma balda; na Universidade, hoje em dia, a maior parte das aulas não são (sic) dadas, a maior parte das aulas não são (sic) dadas – repetiu.
Sobre isso quero só dizer duas coisas apenas:
1) Sei, por vivência pessoal, que essa afirmação é verdadeira.
2) Essas aulas que não são dadas não fazem falta nenhuma.
E essas aulas não fazem falta nenhuma porque, hoje em dia, a preparação dos assistentes das diversas cadeiras é deficientíssima. Para além disso os assistentes não têm as condições mínimas de trabalho exigíveis; alguns deles trabalham de graça gastando, às vezes, ainda por cima, dinheiro do seu próprio bolso para dar as aulas.
O recrutamento de assistentes em certas cadeiras do curso de Medicina, por exemplo, obedece ao critério de escolha dos menos capazes no mercado de trabalho porque são os únicos que ainda têm tempo para perder com o ensino que já não acrescenta nada ao currículo de um médico. É TRISTE MAS É VERDADE.
A grande maioria dos assistentes debita nas aulas apenas parte das matérias que constam das sebentas e dos livros tornando a presença dos alunos nas aulas um puro desperdício de tempo.
Eu conheço esta realidade de ginjeira. É assim mesmo como digo.
Longe vai o tempo em que os alunos iam às aulas porque os professores, para além de ensinarem o que vinha nos livros e nas sebentas, ensinavam ainda matérias que não vinham neles e que podiam sair nos exames.
Hoje em dia a Universidade é maioritariamente um lugar onde os alunos se encontram com colegas e professores e onde se organizam e se realizam exames.
O que se aprende está todo nos livros e basta tê-los e estudá-los para se passar nos exames.
O que acaba dito aplica-se inteiramente às aulas teóricas.
As aulas práticas continuam a ser úteis para os cursos que as têm, mas a sua qualidade tem baixado para níveis caninos em certos deles.
Qualquer dia, mesmo as aulas práticas, deixarão de ter razão de existir.
E então sim. Teremos licenciados à imagem do País: profissionais de brincadeira, actores reais de uma autêntica ópera bufa.
É SÓ ESPERAR QUE O ENSINO SEJA TODO PRIVATIZADO PARA CHEGARMOS A ISSO.
Nota: Como em tudo na vida, há excepções (oásis a caminho de serem terras de sequeiro?).
quarta-feira, outubro 15, 2003
UM E-MAIL SOBRE MATEMÁTICA
Na sequência de uma posta, aqui mais abaixo, em que digo que gostaria de ter a notícia da existência de um blogue sobre matemática, recebi um e-mail de Pedro J Freitas, Professor Auxiliar do Departamento de Matemáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em que ele me diz: «Eu faria de bom grado um blogue sobre matemática. Mas com quê? E quem o leria?».
Atrevido, respondi-lhe que penso que desde que nos traga a Matemática ligada ao quotidiano e conte histórias para exemplificação do que vai transmitir, terá, de certeza, leitores interessados. Atabalhoadamente (ignorantemente misturando Física com Matemática) falei-lhe na teoria dos números, na teoria dos conjuntos, na noção de dimensão em matemática, etc.
Sua contra-resposta deixou-me satisfeito: vai pensar no assunto.
E desde logo deu um primeiro contributo para quem queira desbravar caminho indicando os seguintes nomes de autores com livros de divulgação publicados sobre o assunto:
Michael Guillen nos Estados Unidos, Miguel de Guzmán em Espanha, ou cá em Portugal o Jorge Buescu (com bons livros publicados na Gradiva).
Vamos ler esses livros pensando no letreiro que o matemático americano Ronald Graham tinha pendurado na parede do seu gabinete dizendo o seguinte:
«Quem não for capaz de lidar com a Matemática não é totalmente humano. Na melhor das hipóteses, é um sub-humano tolerável que aprendeu a usar sapatos, a tomar banho e a não fazer porcarias em casa.»
Na sequência de uma posta, aqui mais abaixo, em que digo que gostaria de ter a notícia da existência de um blogue sobre matemática, recebi um e-mail de Pedro J Freitas, Professor Auxiliar do Departamento de Matemáticas da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, em que ele me diz: «Eu faria de bom grado um blogue sobre matemática. Mas com quê? E quem o leria?».
Atrevido, respondi-lhe que penso que desde que nos traga a Matemática ligada ao quotidiano e conte histórias para exemplificação do que vai transmitir, terá, de certeza, leitores interessados. Atabalhoadamente (ignorantemente misturando Física com Matemática) falei-lhe na teoria dos números, na teoria dos conjuntos, na noção de dimensão em matemática, etc.
Sua contra-resposta deixou-me satisfeito: vai pensar no assunto.
E desde logo deu um primeiro contributo para quem queira desbravar caminho indicando os seguintes nomes de autores com livros de divulgação publicados sobre o assunto:
Michael Guillen nos Estados Unidos, Miguel de Guzmán em Espanha, ou cá em Portugal o Jorge Buescu (com bons livros publicados na Gradiva).
Vamos ler esses livros pensando no letreiro que o matemático americano Ronald Graham tinha pendurado na parede do seu gabinete dizendo o seguinte:
«Quem não for capaz de lidar com a Matemática não é totalmente humano. Na melhor das hipóteses, é um sub-humano tolerável que aprendeu a usar sapatos, a tomar banho e a não fazer porcarias em casa.»
terça-feira, outubro 14, 2003
POSTA ESCATOLÓGICA
No passado sábado, à noite, reparei, por uma fresta do estore da janela do meu escritório, que estava uma coruja pousada no parapeito da mesma. Não quis incomodar o animal (que ali estava, talvez, a refugiar-se do encandeamento que lhe provocava a iluminação pública) e por isso não mexi no estore e fui-me deitar.
Na manhã seguinte levantei o estore e, através da vidraça, constatei que a coruja se fora embora e deixara-me de presente um bocado de cocó.
E pude constatar ainda, pela primeira vez na minha vida, que o cocó das corujas, ao contrário do que eu sempre pensara, é bem diferente do cocó das galinhas.
O cocó das corujas é tal e qual o cocó dos gatos: moldado, de forma cilindróide, de consistência aparentemente dura e deixando ver, à superfície, pelos ou lanugem de algum animal distraído caçado na véspera.
Como o meu escritório é limpo uma vez por semana, às sextas-feiras, o cocó ainda lá está.
Já fiz as contas: bastar-me-iam menos de dez segundos para remover o cocó do parapeito da janela e resolver o problema. Mas prefiro estar aqui a fazer esta posta do que resolver, de facto, o problema.
E estamos nisto, eu e o cocó:
Eu olho para ele, ele olha para mim, e cada um de nós fica na sua à espera que um milagre aconteça e o cocó desapareça do parapeito. E enquanto isso não acontece vamos para o café ou vimos aqui para o blogue teorizar sobre o assunto.
Esta é uma forma bem portuguesa de encarar os problemas, não é?
E eu que pensava que a aculturação não era um fenómeno tão marcante da personalidade!...
No passado sábado, à noite, reparei, por uma fresta do estore da janela do meu escritório, que estava uma coruja pousada no parapeito da mesma. Não quis incomodar o animal (que ali estava, talvez, a refugiar-se do encandeamento que lhe provocava a iluminação pública) e por isso não mexi no estore e fui-me deitar.
Na manhã seguinte levantei o estore e, através da vidraça, constatei que a coruja se fora embora e deixara-me de presente um bocado de cocó.
E pude constatar ainda, pela primeira vez na minha vida, que o cocó das corujas, ao contrário do que eu sempre pensara, é bem diferente do cocó das galinhas.
O cocó das corujas é tal e qual o cocó dos gatos: moldado, de forma cilindróide, de consistência aparentemente dura e deixando ver, à superfície, pelos ou lanugem de algum animal distraído caçado na véspera.
Como o meu escritório é limpo uma vez por semana, às sextas-feiras, o cocó ainda lá está.
Já fiz as contas: bastar-me-iam menos de dez segundos para remover o cocó do parapeito da janela e resolver o problema. Mas prefiro estar aqui a fazer esta posta do que resolver, de facto, o problema.
E estamos nisto, eu e o cocó:
Eu olho para ele, ele olha para mim, e cada um de nós fica na sua à espera que um milagre aconteça e o cocó desapareça do parapeito. E enquanto isso não acontece vamos para o café ou vimos aqui para o blogue teorizar sobre o assunto.
Esta é uma forma bem portuguesa de encarar os problemas, não é?
E eu que pensava que a aculturação não era um fenómeno tão marcante da personalidade!...
AO LEVANTAR-ME PARA SAIR
Li aqui no Barnabé uma opinião de Renato Carmo [um amigo do Barnabé], professor do ensino superior, que vem dar-me razão sobre o problema da QUALIDADE que abordei na minha posta "Uma Questão de Filosofia". Leiam e opinem.
Li aqui no Barnabé uma opinião de Renato Carmo [um amigo do Barnabé], professor do ensino superior, que vem dar-me razão sobre o problema da QUALIDADE que abordei na minha posta "Uma Questão de Filosofia". Leiam e opinem.
UM BOM DIA PARA TODOS
Dei uma volta às notícias dos jornais lisboetas da manhã e verifiquei que não há assunto: é tudo requentado. As páginas de opinião primam pela sensaboria e uma espécie de esoterismo, ou então vão ao baú das ideias-feitas para as glosar mais uma vez.
Quem sou eu, pobre blogueiro, para não sofrer hoje do mesmo mal?
Por isso vou curar-me para o trabalho e logo mais para o fim do dia se verá.
Dei uma volta às notícias dos jornais lisboetas da manhã e verifiquei que não há assunto: é tudo requentado. As páginas de opinião primam pela sensaboria e uma espécie de esoterismo, ou então vão ao baú das ideias-feitas para as glosar mais uma vez.
Quem sou eu, pobre blogueiro, para não sofrer hoje do mesmo mal?
Por isso vou curar-me para o trabalho e logo mais para o fim do dia se verá.
domingo, outubro 12, 2003
AGRADECIMENTO
Glória Fácil teve a gentileza de nos ajudar a mostrar aos leitores os dois quadros fabulosos de Lucien Freud que mais abaixo reproduzimos. Agradecemos, penhorados, esse gesto, na pessoa de Maria José Oliveira (MJO).
Glória Fácil teve a gentileza de nos ajudar a mostrar aos leitores os dois quadros fabulosos de Lucien Freud que mais abaixo reproduzimos. Agradecemos, penhorados, esse gesto, na pessoa de Maria José Oliveira (MJO).
UMA QUESTÃO DE FILOSOFIA
O Professor Veiga Simão, hoje, no programa "Directo ao Assunto", da TSF, apelou aos estudantes para que apresentem como pedra basilar das suas preocupações e reivindicações a luta pela QUALIDADE.
Acho que concordamos todos com ele e não sei bem se essa preocupação já não fará parte das exigências dos estudantes.
A falta de qualidade da Universidade Portuguesa radica fundo na filosofia de vida do Português (seja ele governante, docente, administrativo ou estudante). Radica, antes de mais, na pouca exigência que fazemos, durante a vida toda, em relação a tudo com que nos confrontamos.
Sem pretender ser exaustivo, elejo para abordar, aqui, uma vertente não despicienda porque dela (melhor: da sua falta) resultam danos importantes condicionadores, em cascata, de outros danos de maiores proporções na qualidade do ensino universitário e da escola em geral. Esta vertente é: condições de trabalho. Condições de trabalho de todas as pessoas, sem excepção, que vivem e dão vida à Universidade.
A luta pela qualidade deve passar, logo nos seus primeiros passos, pela mudança radical das condições de trabalho que são historicamente miseráveis em muitas das Faculdades e Institutos da Universidade de Lisboa (cinjo-me a esta que conheço razoavelmente).
Não pretendo teorizar sobre os ganhos que se podem obter com a melhoria das condições de trabalho, tão óbvio isso é para qualquer um que queira pensar nisso um segundo só que seja.
Dou apenas um exemplo real para que quem anda iludido sobre a qualidade existente em certas Faculdades da Universidade de Lisboa possa desiludir-se e concluir que ela (Universidade) é o espelho do País. Sempre foi o espelho do País. É o espelho da forma como o Português encara e vive a vida:
Havia um Professor Catedrático cujos únicos "bens" que a sua Universidade lhe fornecera para trabalhar foram: uma secretária (de carne e osso) para tratar do expediente, um computador, uma máquina de escrever, algumas pastas de arquivo e pouco mais. Ele que se amanhasse no reduzido espaço (acanhadinho) que outra instituição onde trabalhava lhe fornecera para se desenvencilhar da sua tarefa de director de Serviço desta instituição. Os seus assistentes reuniam-se no bar ou tinham que ir para a rua buscar outro sítio para o fazer.
Os exames eram feitos em salas com os alunos e o júri enquadrados por máquinas de café, forno micro-ondas, pratos, chávenas e talheres, sapatos usados, cobertores e colchões de campanha (dobrados e encostados aqui e ali), enfim...
Este problema de falta de condições de trabalho, como é evidente, verifica-se em outro tipo de instituições públicas (nas privadas então nem falemos – o bluff aqui costuma ser assustador).
E esta falta de condições agrava-se com o tempo pela deficiente ou inexistente manutenção do que existe. Exemplos comezinhos: quando aparece um rasgão num sofá deita-se um cobertor por cima dele e continua-se a usar o sofá cada dia mais rasgado; se cai um parafuso de uma máquina é logo substituído por um bocado de adesivo que se substituirá ad etaernum sem nunca se exigir outro parafuso. E por aí adiante até atingir proporções inimagináveis.
Diz-se com piada que, nos hospitais, por exemplo, há um curso de adesivologia que é tirado por todos os seus funcionários. Eu já vi (foi há pouco mais de um mês) grandes bocados de adesivo fazendo as vezes de uma dobradiça de uma porta guarda-vento de um corredor hospitalar (acreditem, por favor, que é verdade!).
O problema vem sempre da falta de exigência: fazem-se aquisições de instalações (edifícios) e de material e não se fazem os necessários contratos de manutenção dos materiais e dos edifícios. "Aquilo" durará o tempo que durar até cair de podre e depois logo se verá. É esta a filosofia.
Conheço quem trabalha num local onde já houve aparelhos indispensáveis no mundo de hoje (por sinal estes até já eram também indispensáveis no mundo de ontem) que se estragaram e que nunca mais foram arranjados ou substituídos. Os profissionais trabalham "no arame" sem os ditos aparelhos. Alguns desses profissionais já vêm protestando de há muito contra isso, mas o certo é que continua tudo na mesma.
Querem saber mais (e vou terminar): um dia um cirurgião foi operar à tarde. Mal se preparou para iniciar a primeira de duas operações começou a ouvir o ruído fortíssimo de um martelo pneumático que trabalhadores da construção civil estavam a usar naquele momento na sala contígua à do bloco operatório (logo ali do outro lado da parede). Indignado o cirurgião exigiu logo, sob pena de não operar as pacientes, que de imediato se extinguisse o ruído que mal permitia que as pessoas se ouvissem umas às outras na sala de operações quanto mais permitir a concentração necessária a um bom trabalho cirúrgico.
Sabem o que lhe foi dito? Querem saber? Isto:
«oh doutor, de manhã o ruído era o mesmo e os seus colegas que aqui estiveram a operar não fizeram a mínima reclamação».
Tratava-se ou não de um problema de exigência?
O certo é que as pacientes, nessa tarde, foram operadas em silêncio. Como deve sempre fazer-se.
O Professor Veiga Simão, hoje, no programa "Directo ao Assunto", da TSF, apelou aos estudantes para que apresentem como pedra basilar das suas preocupações e reivindicações a luta pela QUALIDADE.
Acho que concordamos todos com ele e não sei bem se essa preocupação já não fará parte das exigências dos estudantes.
A falta de qualidade da Universidade Portuguesa radica fundo na filosofia de vida do Português (seja ele governante, docente, administrativo ou estudante). Radica, antes de mais, na pouca exigência que fazemos, durante a vida toda, em relação a tudo com que nos confrontamos.
Sem pretender ser exaustivo, elejo para abordar, aqui, uma vertente não despicienda porque dela (melhor: da sua falta) resultam danos importantes condicionadores, em cascata, de outros danos de maiores proporções na qualidade do ensino universitário e da escola em geral. Esta vertente é: condições de trabalho. Condições de trabalho de todas as pessoas, sem excepção, que vivem e dão vida à Universidade.
A luta pela qualidade deve passar, logo nos seus primeiros passos, pela mudança radical das condições de trabalho que são historicamente miseráveis em muitas das Faculdades e Institutos da Universidade de Lisboa (cinjo-me a esta que conheço razoavelmente).
Não pretendo teorizar sobre os ganhos que se podem obter com a melhoria das condições de trabalho, tão óbvio isso é para qualquer um que queira pensar nisso um segundo só que seja.
Dou apenas um exemplo real para que quem anda iludido sobre a qualidade existente em certas Faculdades da Universidade de Lisboa possa desiludir-se e concluir que ela (Universidade) é o espelho do País. Sempre foi o espelho do País. É o espelho da forma como o Português encara e vive a vida:
Havia um Professor Catedrático cujos únicos "bens" que a sua Universidade lhe fornecera para trabalhar foram: uma secretária (de carne e osso) para tratar do expediente, um computador, uma máquina de escrever, algumas pastas de arquivo e pouco mais. Ele que se amanhasse no reduzido espaço (acanhadinho) que outra instituição onde trabalhava lhe fornecera para se desenvencilhar da sua tarefa de director de Serviço desta instituição. Os seus assistentes reuniam-se no bar ou tinham que ir para a rua buscar outro sítio para o fazer.
Os exames eram feitos em salas com os alunos e o júri enquadrados por máquinas de café, forno micro-ondas, pratos, chávenas e talheres, sapatos usados, cobertores e colchões de campanha (dobrados e encostados aqui e ali), enfim...
Este problema de falta de condições de trabalho, como é evidente, verifica-se em outro tipo de instituições públicas (nas privadas então nem falemos – o bluff aqui costuma ser assustador).
E esta falta de condições agrava-se com o tempo pela deficiente ou inexistente manutenção do que existe. Exemplos comezinhos: quando aparece um rasgão num sofá deita-se um cobertor por cima dele e continua-se a usar o sofá cada dia mais rasgado; se cai um parafuso de uma máquina é logo substituído por um bocado de adesivo que se substituirá ad etaernum sem nunca se exigir outro parafuso. E por aí adiante até atingir proporções inimagináveis.
Diz-se com piada que, nos hospitais, por exemplo, há um curso de adesivologia que é tirado por todos os seus funcionários. Eu já vi (foi há pouco mais de um mês) grandes bocados de adesivo fazendo as vezes de uma dobradiça de uma porta guarda-vento de um corredor hospitalar (acreditem, por favor, que é verdade!).
O problema vem sempre da falta de exigência: fazem-se aquisições de instalações (edifícios) e de material e não se fazem os necessários contratos de manutenção dos materiais e dos edifícios. "Aquilo" durará o tempo que durar até cair de podre e depois logo se verá. É esta a filosofia.
Conheço quem trabalha num local onde já houve aparelhos indispensáveis no mundo de hoje (por sinal estes até já eram também indispensáveis no mundo de ontem) que se estragaram e que nunca mais foram arranjados ou substituídos. Os profissionais trabalham "no arame" sem os ditos aparelhos. Alguns desses profissionais já vêm protestando de há muito contra isso, mas o certo é que continua tudo na mesma.
Querem saber mais (e vou terminar): um dia um cirurgião foi operar à tarde. Mal se preparou para iniciar a primeira de duas operações começou a ouvir o ruído fortíssimo de um martelo pneumático que trabalhadores da construção civil estavam a usar naquele momento na sala contígua à do bloco operatório (logo ali do outro lado da parede). Indignado o cirurgião exigiu logo, sob pena de não operar as pacientes, que de imediato se extinguisse o ruído que mal permitia que as pessoas se ouvissem umas às outras na sala de operações quanto mais permitir a concentração necessária a um bom trabalho cirúrgico.
Sabem o que lhe foi dito? Querem saber? Isto:
«oh doutor, de manhã o ruído era o mesmo e os seus colegas que aqui estiveram a operar não fizeram a mínima reclamação».
Tratava-se ou não de um problema de exigência?
O certo é que as pacientes, nessa tarde, foram operadas em silêncio. Como deve sempre fazer-se.
NÃO HÁ DINHEIRO
Parecem-me justos os montantes das propinas fixados pelas Faculdades de Direito e de Medicina de Lisboa.
Que quem tem que as pagar, as possa de facto pagar, já é outra história.
Sei que há (conheço) casos de agregados familiares cujo rendimento obriga ao pagamento integral das propinas dos seus filhos, mas que, na realidade não têm liquidez para o fazer. É uma realidade que temo se multiplique mais do que se possa pensar.
O crédito barato, a publicidade sedutora, a forma leviana de encarar as dificuldades da vida nos dias de hoje, os cantos de sereia das técnicas de marketing – tudo isso junto e mais alguma coisa – "sequestraram" os ordenados e os salários de uma enormíssima fatia das famílias portuguesas que hoje, com a corda na garganta, têm dificuldades tremendas em satisfazer, muitas vezes, despesas consideradas básicas para o funcionamento de uma família, quanto mais o pagamento de propinas.
É por isso que eu acho que a contestação às propinas vai ser um caso sério para o Governo resolver pois, não se trata, ao contrário do que já vi muito boa gente defender, de miúdos ricos que vão à universidade de popó e que por birra ou leviandade não querem pagar a bagatela das propinas.
Muitos dos popós, senão a sua quase totalidade, foram adquiridos a crédito e estão a ser pagos com as mesmas dificuldades do pagamento de tudo o resto.
O problema hoje é escolher entre o que se pode e se quer pagar e o que não se pode pagar porque não se consegue pagar tudo.
Entre o popó e as propinas, a escolha é óbvia.
Parecem-me justos os montantes das propinas fixados pelas Faculdades de Direito e de Medicina de Lisboa.
Que quem tem que as pagar, as possa de facto pagar, já é outra história.
Sei que há (conheço) casos de agregados familiares cujo rendimento obriga ao pagamento integral das propinas dos seus filhos, mas que, na realidade não têm liquidez para o fazer. É uma realidade que temo se multiplique mais do que se possa pensar.
O crédito barato, a publicidade sedutora, a forma leviana de encarar as dificuldades da vida nos dias de hoje, os cantos de sereia das técnicas de marketing – tudo isso junto e mais alguma coisa – "sequestraram" os ordenados e os salários de uma enormíssima fatia das famílias portuguesas que hoje, com a corda na garganta, têm dificuldades tremendas em satisfazer, muitas vezes, despesas consideradas básicas para o funcionamento de uma família, quanto mais o pagamento de propinas.
É por isso que eu acho que a contestação às propinas vai ser um caso sério para o Governo resolver pois, não se trata, ao contrário do que já vi muito boa gente defender, de miúdos ricos que vão à universidade de popó e que por birra ou leviandade não querem pagar a bagatela das propinas.
Muitos dos popós, senão a sua quase totalidade, foram adquiridos a crédito e estão a ser pagos com as mesmas dificuldades do pagamento de tudo o resto.
O problema hoje é escolher entre o que se pode e se quer pagar e o que não se pode pagar porque não se consegue pagar tudo.
Entre o popó e as propinas, a escolha é óbvia.
sábado, outubro 11, 2003
SE O RIDÍCULO PAGASSE IMPOSTOS
(Ter-se-ia acabado ontem a crise económica em Portugal)
As convicções de um Primeiro-ministro deveriam ser trabalhadas de forma a que constituíssem para ele e para nós, com a maior aproximação possível, autênticos teoremas matemáticos. Deveriam constituir-se em afirmações cuja demonstração está feita.
Tal como a demonstração de um teorema é uma demonstração rigorosa da veracidade do teorema, de tal modo que não possa ser posta em causa por ninguém que siga as regras da lógica e aceite um conjunto de axiomas definidos à partida como sendo a base do sistema lógico,
assim pudessem ser apresentadas as convicções do Senhor Primeiro-ministro de forma a não parecerem tão ridículas como quando nos disse, por exemplo:
«não tenho dúvidas da existência das armas de destruição massiva do Iraque porque vi as provas de que elas existem»
para depois acrescentar como fez ontem no Parlamento:
«as provas que vi foram os relatórios dos serviços secretos britânicos que me foram mostrados pelo Senhor Blair, e como eu acredito mais no Senhor Blair do que no Senhor Saddam Hussein, não tive dúvidas de que essas armas existiam».
(Ter-se-ia acabado ontem a crise económica em Portugal)
As convicções de um Primeiro-ministro deveriam ser trabalhadas de forma a que constituíssem para ele e para nós, com a maior aproximação possível, autênticos teoremas matemáticos. Deveriam constituir-se em afirmações cuja demonstração está feita.
Tal como a demonstração de um teorema é uma demonstração rigorosa da veracidade do teorema, de tal modo que não possa ser posta em causa por ninguém que siga as regras da lógica e aceite um conjunto de axiomas definidos à partida como sendo a base do sistema lógico,
assim pudessem ser apresentadas as convicções do Senhor Primeiro-ministro de forma a não parecerem tão ridículas como quando nos disse, por exemplo:
«não tenho dúvidas da existência das armas de destruição massiva do Iraque porque vi as provas de que elas existem»
para depois acrescentar como fez ontem no Parlamento:
«as provas que vi foram os relatórios dos serviços secretos britânicos que me foram mostrados pelo Senhor Blair, e como eu acredito mais no Senhor Blair do que no Senhor Saddam Hussein, não tive dúvidas de que essas armas existiam».
VOTOS E DESEJO
Não teremos olhos a medir quando os blogueiros despertarem para aqui colocarem novas postas; assim espero. É que a hibernação é o estado em que se encontram, desde há quase uma semana (em alguns casos mais que isso), alguns dos meus "favoritos". Oxalá esse marinar de ideias nos traga coisas interessantes nos próximos dias.
Não teremos olhos a medir quando os blogueiros despertarem para aqui colocarem novas postas; assim espero. É que a hibernação é o estado em que se encontram, desde há quase uma semana (em alguns casos mais que isso), alguns dos meus "favoritos". Oxalá esse marinar de ideias nos traga coisas interessantes nos próximos dias.
sexta-feira, outubro 10, 2003
HOJE NÃO HÁ CHUVA
Lucien Freud é neto de Sigmund Freud. Adquiriu reputação como um dos expoentes máximos da pintura figurativa contemporânea.
Este quadro (um dos seus primeiros) meticulosamente pintado (repare-se no realismo quase fotográfico do cão) e alguns close ups que pintou levaram a que fosse algumas vezes considerado realista embora a sua obra futura viesse desfazer definitivamente esse equívoco.
Girl with a white dog
Lucien Freud (1951-52)
Lucien Freud é neto de Sigmund Freud. Adquiriu reputação como um dos expoentes máximos da pintura figurativa contemporânea.
Este quadro (um dos seus primeiros) meticulosamente pintado (repare-se no realismo quase fotográfico do cão) e alguns close ups que pintou levaram a que fosse algumas vezes considerado realista embora a sua obra futura viesse desfazer definitivamente esse equívoco.
Girl with a white dog
Lucien Freud (1951-52)
A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR
Recebi dois e-mail com uma mesma pergunta que se resume nisto: porque escrevo tanto sobre Pacheco Pereira?
Dou já a resposta e sem quaisquer problemas em assumir isto:
Pelo menos por ora não é possível evitar falar de Pacheco Pereira aqui na blogosfera. Em primeiro lugar porque ele é, de facto, uma referência na blogosfera portuguesa (quer queiramos quer não). Desde logo porque é muito lido e porque faz opinião para uma grande massa dos seus leitores. Por outro lado há que reconhecer-lhe o facto de ter sido ele a "publicitar", num vendaval que chegou em pouquíssimo tempo às rádios, jornais, revistas e televisão, a existência dos blogues portugueses. E há ainda que concordar que a contribuição dele, no Abrupto, para diversificar o universo temático da discussão de assuntos é assinalável.
Não tenho qualquer problema em dizer aqui que de há muito tempo (mais que uma década) que sigo com atenção as opiniões e as tomadas de atitudes políticas por parte de Pacheco Pereira, entre outros intervenientes mediáticos, de antes e de agora (Raul Rego, Mário Soares, Vítor Cunha Rego, José Cutileiro, António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente, Vasco Graça Moura, Miguel Portas, para só citar alguns bem poucos) que com valor e qualidade se exprimem com regularidade nos meios de comunicação de massas.
E para aqueles que possam achar pífia esta minha atitude sempre lhes irei dizendo que não é pregando nós, sozinhos, no deserto, que podemos atribuir-nos alguma importância como cidadãos responsáveis (?????, estarão alguns a pensar agora) e contributários do bem comum, e satisfazermos, ao mesmo tempo, o narcisismo salutar que todos temos e devemos exercitar para bem do nosso equilíbrio psíquico, social e intelectual. Precisamos todos de ter referências em relação às quais pode ser aferida a justeza, a qualidade, o interesse, a oportunidade e o valor (ou o contrário disto tudo) do que dizemos e fazemos.
E é graças à existência do Abrupto que se escrevem imensas coisas nos mais variados blogues portugueses – concordando, discordando, ironizando, apreciando, elogiando ou menorizando o que vem nesse blogue ou o que diz o seu autor noutros meios de comunicação – e não é por Pacheco Pereira não se referir agora ao Governo e à actuação concreta do mesmo que ele deixa de ocupar a posição central que acho que, de facto, ocupa na blogosfera portuguesa.
Tenho dito.
Recebi dois e-mail com uma mesma pergunta que se resume nisto: porque escrevo tanto sobre Pacheco Pereira?
Dou já a resposta e sem quaisquer problemas em assumir isto:
Pelo menos por ora não é possível evitar falar de Pacheco Pereira aqui na blogosfera. Em primeiro lugar porque ele é, de facto, uma referência na blogosfera portuguesa (quer queiramos quer não). Desde logo porque é muito lido e porque faz opinião para uma grande massa dos seus leitores. Por outro lado há que reconhecer-lhe o facto de ter sido ele a "publicitar", num vendaval que chegou em pouquíssimo tempo às rádios, jornais, revistas e televisão, a existência dos blogues portugueses. E há ainda que concordar que a contribuição dele, no Abrupto, para diversificar o universo temático da discussão de assuntos é assinalável.
Não tenho qualquer problema em dizer aqui que de há muito tempo (mais que uma década) que sigo com atenção as opiniões e as tomadas de atitudes políticas por parte de Pacheco Pereira, entre outros intervenientes mediáticos, de antes e de agora (Raul Rego, Mário Soares, Vítor Cunha Rego, José Cutileiro, António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente, Vasco Graça Moura, Miguel Portas, para só citar alguns bem poucos) que com valor e qualidade se exprimem com regularidade nos meios de comunicação de massas.
E para aqueles que possam achar pífia esta minha atitude sempre lhes irei dizendo que não é pregando nós, sozinhos, no deserto, que podemos atribuir-nos alguma importância como cidadãos responsáveis (?????, estarão alguns a pensar agora) e contributários do bem comum, e satisfazermos, ao mesmo tempo, o narcisismo salutar que todos temos e devemos exercitar para bem do nosso equilíbrio psíquico, social e intelectual. Precisamos todos de ter referências em relação às quais pode ser aferida a justeza, a qualidade, o interesse, a oportunidade e o valor (ou o contrário disto tudo) do que dizemos e fazemos.
E é graças à existência do Abrupto que se escrevem imensas coisas nos mais variados blogues portugueses – concordando, discordando, ironizando, apreciando, elogiando ou menorizando o que vem nesse blogue ou o que diz o seu autor noutros meios de comunicação – e não é por Pacheco Pereira não se referir agora ao Governo e à actuação concreta do mesmo que ele deixa de ocupar a posição central que acho que, de facto, ocupa na blogosfera portuguesa.
Tenho dito.
1 MINUTO DE SILÊNCIO
Façamos um minuto de silêncio por mais esta desgraça.
E contemplemos o desvario dos adultos que governam o planeta.
O Público noticia hoje:
«Um Quinto dos Jovens Sofrem de Distúrbios Mentais»
«Cerca de 20 por cento das crianças e adolescentes de todo o mundo padecem de uma enfermidade mental incapacitante, que surge muitas vezes em consequência "de guerras e catástrofes, de tensões familiares e de adversidades económicas". Mas só um em cada cinco doentes recebe a ajuda que necessita, nota aquele organismo. Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental.»
Nota: eu acho que Um quinto SOFRE; não SOFREM. Mas nas redacções dos jornais já estamos habituados a ver a Língua Portuguesa a ser tratada a pontapé. E no país do futebol em que vivemos, mais normal isso se torna, não é?
Façamos um minuto de silêncio por mais esta desgraça.
E contemplemos o desvario dos adultos que governam o planeta.
O Público noticia hoje:
«Um Quinto dos Jovens Sofrem de Distúrbios Mentais»
«Cerca de 20 por cento das crianças e adolescentes de todo o mundo padecem de uma enfermidade mental incapacitante, que surge muitas vezes em consequência "de guerras e catástrofes, de tensões familiares e de adversidades económicas". Mas só um em cada cinco doentes recebe a ajuda que necessita, nota aquele organismo. Hoje é o Dia Mundial da Saúde Mental.»
Nota: eu acho que Um quinto SOFRE; não SOFREM. Mas nas redacções dos jornais já estamos habituados a ver a Língua Portuguesa a ser tratada a pontapé. E no país do futebol em que vivemos, mais normal isso se torna, não é?
quinta-feira, outubro 09, 2003
O SILÊNCIO DE JPP
José Mário, nesta posta no Blog de Esquerda, estranha o silêncio de Pacheco Pereira pela demissão de Martins da Cruz.
Para além de lembrar que JPP, no seu último comentário, na SIC, disse que «a palavra de honra do ministro lhe bastava» (confesso que não percebi o que ele quis dizer com esse "bastar") – para além de lembrar isso – queria chamar a atenção dos leitores para o facto de Pacheco Pereira estar, desde há muito tempo (pelo menos no seu Abrupto isso é evidente) a fazer puros exercícios de nefelibata, que vê e fala de tudo, mas que, talvez devido ao tapete de nuvens-tabu em que anda, quando olha para baixo não consegue divisar um sítio chamado Portugal, que tem um Governo em funções, Governo esse que mexe (e remexe) e que, por acaso, é formado por gente do partido de JPP, embora coligada com o venal (palavra de JPP no falecido "Flashback" da TSF) Paulo Portas da Moderna.
Agora que JPP se recusou publicamente a pertencer às listas conjuntas PSD/PP, de candidatos a deputados ao Parlamento Europeu, esperemos que faça um buraquinho nessas nuvens-tabu e espreite cá para baixo o ninho onde repousa o ovo da serpente de onde surgirá um dia Paulo Portas transfigurado para adulterar e/ou tomar conta do PSD (como, aliás, JPP previu, vaticinou, profetizou há dias neste artigo no Público) e nos fale não só desse ninho mas também do que andam a fazer os honrados mantenedores dessa gigantesca chocadeira governamental.
José Mário, nesta posta no Blog de Esquerda, estranha o silêncio de Pacheco Pereira pela demissão de Martins da Cruz.
Para além de lembrar que JPP, no seu último comentário, na SIC, disse que «a palavra de honra do ministro lhe bastava» (confesso que não percebi o que ele quis dizer com esse "bastar") – para além de lembrar isso – queria chamar a atenção dos leitores para o facto de Pacheco Pereira estar, desde há muito tempo (pelo menos no seu Abrupto isso é evidente) a fazer puros exercícios de nefelibata, que vê e fala de tudo, mas que, talvez devido ao tapete de nuvens-tabu em que anda, quando olha para baixo não consegue divisar um sítio chamado Portugal, que tem um Governo em funções, Governo esse que mexe (e remexe) e que, por acaso, é formado por gente do partido de JPP, embora coligada com o venal (palavra de JPP no falecido "Flashback" da TSF) Paulo Portas da Moderna.
Agora que JPP se recusou publicamente a pertencer às listas conjuntas PSD/PP, de candidatos a deputados ao Parlamento Europeu, esperemos que faça um buraquinho nessas nuvens-tabu e espreite cá para baixo o ninho onde repousa o ovo da serpente de onde surgirá um dia Paulo Portas transfigurado para adulterar e/ou tomar conta do PSD (como, aliás, JPP previu, vaticinou, profetizou há dias neste artigo no Público) e nos fale não só desse ninho mas também do que andam a fazer os honrados mantenedores dessa gigantesca chocadeira governamental.
PARABÉNS AO BLOGUE O PROJECTO
Estão de parabéns António Damásio, Lourenço Ataíde Cordeiro e Luísa Ramalho que, no blogue O PROJECTO, nos têm brindado com postas interessantíssimas capazes de nos irem despertando para outras formas de ver, sentir, estar e abordar a cidade; e despertar-nos os sentidos para realidades que por vezes nos furam os olhos e mesmo assim não as vemos.
Chapeau!
Estão de parabéns António Damásio, Lourenço Ataíde Cordeiro e Luísa Ramalho que, no blogue O PROJECTO, nos têm brindado com postas interessantíssimas capazes de nos irem despertando para outras formas de ver, sentir, estar e abordar a cidade; e despertar-nos os sentidos para realidades que por vezes nos furam os olhos e mesmo assim não as vemos.
Chapeau!
FINALMENTE RECUPERADO (pela metade)
Ainda combalido, saí arrastando-me um pouco do consultório do meu médico que me animou dizendo-me: «Não se acanhe, meu amigo! já pode bloguear à vontade. Metade dos seus neurónios estão já a funcionar em pleno pelo que garanto-lhe qualidade superior de raciocínio nesta pátria».
«E digo-lhe mais – continuou o meu médico – essa metade dos seus neurónios daria bem para construir dezenas de cérebros de, por exemplo, porta-vozes partidários da direita com méritos e direito a candidaturas a cargos ministeriais».
«Vá para casa e blogueie à sua inteira vontade».
Ainda combalido, saí arrastando-me um pouco do consultório do meu médico que me animou dizendo-me: «Não se acanhe, meu amigo! já pode bloguear à vontade. Metade dos seus neurónios estão já a funcionar em pleno pelo que garanto-lhe qualidade superior de raciocínio nesta pátria».
«E digo-lhe mais – continuou o meu médico – essa metade dos seus neurónios daria bem para construir dezenas de cérebros de, por exemplo, porta-vozes partidários da direita com méritos e direito a candidaturas a cargos ministeriais».
«Vá para casa e blogueie à sua inteira vontade».
ACUDAM-ME, ESTOU EM APUROS!
Apetecia-me escrever algo sobre o quotidiano no dia em que Paulo Pedroso foi devolvido à liberdade. Mas não vou fazê-lo. Confesso que estou, no mínimo, obnubilado (bêbado, em linguagem comum).
Estive hoje num jantar de aniversário de uma amiga de longa data tendo bebido alguns cálices de uma aguardente velhíssima de Cabo Verde, a qual (aguardente) tem cerca de quarenta anos de estágio (é assim que se diz, não é?) e que, por ter sido detestada por falsos apreciadores espanhóis, pois fora levada para Espanha por uma filha de Luís Silva Rendall, antigo Intendente em Cabo Verde e proprietário primeiro de dita aguardente, filha essa que herdou as divinas (para mim) garrafas e as doou ao marido espanhol que lhe coube desposar, cujo não apreciou o néctar e achou por bem despachá-lo de novo para Lisboa para felicidade dos amigos da família, em que me incluo – dizia eu – ao ver à minha frente uma garrafa de dito néctar, não resisti aos seus encantos e despejei-a, com todo o carinho, pelo esófago abaixo (tão devagarinho que, «dou a minha palavra de honra», não chegou ao meu estômago) e agora encontro-me neste estado difícil em que não sei bem se hei-de congratular-me com a libertação de Paulo Pedroso ou se hei-de telefonar a Pacheco Pereira para me aconselhar sobre que hospital escolher, a estas horas, para uma lavagem aos meus neurónios.
Apetecia-me escrever algo sobre o quotidiano no dia em que Paulo Pedroso foi devolvido à liberdade. Mas não vou fazê-lo. Confesso que estou, no mínimo, obnubilado (bêbado, em linguagem comum).
Estive hoje num jantar de aniversário de uma amiga de longa data tendo bebido alguns cálices de uma aguardente velhíssima de Cabo Verde, a qual (aguardente) tem cerca de quarenta anos de estágio (é assim que se diz, não é?) e que, por ter sido detestada por falsos apreciadores espanhóis, pois fora levada para Espanha por uma filha de Luís Silva Rendall, antigo Intendente em Cabo Verde e proprietário primeiro de dita aguardente, filha essa que herdou as divinas (para mim) garrafas e as doou ao marido espanhol que lhe coube desposar, cujo não apreciou o néctar e achou por bem despachá-lo de novo para Lisboa para felicidade dos amigos da família, em que me incluo – dizia eu – ao ver à minha frente uma garrafa de dito néctar, não resisti aos seus encantos e despejei-a, com todo o carinho, pelo esófago abaixo (tão devagarinho que, «dou a minha palavra de honra», não chegou ao meu estômago) e agora encontro-me neste estado difícil em que não sei bem se hei-de congratular-me com a libertação de Paulo Pedroso ou se hei-de telefonar a Pacheco Pereira para me aconselhar sobre que hospital escolher, a estas horas, para uma lavagem aos meus neurónios.
terça-feira, outubro 07, 2003
O SAL DA BLOGOSFERA ESCUSA DE SER TÃO AMARGO
Nelson de Matos na posta 108 , colocada no seu blogue "Textos de Contracapa", critica a prestação de Pacheco Pereira na última intervenção que este teve no domingo passado na SIC.
Pacheco Pereira, na posta intitulada "Sobre a edição portuguesa de Desgraça", publicada aqui reitera as críticas que fez à edição da editora D. Quixote, dirigida por Nelson de Matos, de Desgraça, obra do último Nobel de Literatura, Coetzee.
Devo dizer aqui que concordo plenamente com o que diz Nelson de Matos na sua posta acima referida.
Não era esse tipo de coisas que JPP disse agora, que a primeira intervenção dele na SIC, em que falou do D. Quixote, de Cervantes, fazia prever. E não era isso que, no meu entender, se esperava que JPP viesse fazer das próxima vezes que aparecesse na SIC.
O que esperamos todos que JPP faça quando fala de livros, na SIC, é que seja erudito e fale de literatura e do interesse que esta representa para o grande público (porque o público dos nichos já está servido).
Agora, vir criticar, como ele fez, um texto de contracapa de uma obra do último Nobel de literatura, em vez de nos falar concretamente do conteúdo dessa obra e do autor premiado, é no mínimo despropositado. E estranho.
E é estranho porque configurando embora uma forma simultâneamente verrinosa e subtil de atingir terceiros, a que JPP já nos vem habituando nos seus escritos, não o julgávamos, contudo, capaz (ou necessitado) de a utilizar num meio tão poderoso como é a televisão.
Como exemplos dessa verrina subtilmente utilizada referimos apenas os seguintes casos que podem ser constatados no Abrupto:
1) Na posta de Agosto passado (que não posso "linkar" porque a não encontro no arquivo do Abrupto) JPP escrevia ter percebido «porque é que a lagartixa nunca chega a Jacaré»;
2) Noutra posta de Agosto passado (que também não encontro no arquivo do Abrupto) JPP, primeiro elogia Carlos Fino, para depois o enterrar vivo construindo-lhe um autêntico arranha-céus em cima da cana do nariz;
3) Na posta "Early Morning Blogs 52" do Abrupto JPP "vê" «a chuva que invade a pátria» num claríssimo gesto de concordância (quem poria isso em dúvida?) por certo gemelar da interpretação que este escriba que sou eu fez de um quadro de Caillebotte.
Mas agora a coisa mudou de figura: JPP veio, na SIC, perante uma audiência de milhões (que para o efeito constitui uma autêntica bomba atómica) esmagar um texto de contracapa cujo autor, mesmo que queira defender-se, não tem a possibilidade de o fazer perante idêntica audiência.
Repito que é uma atitude no mínimo deselegante e espero que não configure um daqueles tiques para que chamei a atenção dos leitores na minha posta "Os Custos do Virar da Casaca", do dia 27/09/2003, posta já arquivada aqui no Salmoura.
Nós que apreciamos as opiniões de Pacheco Pereira, mesmo quando não concordamos com elas, não gostaríamos de o ver na televisão a comentar apenas os fait divers desta "piolheira" e a "bater" em vítimas indefesas.
Para os fait divers bastam o Marcelo e todos os outros que sabemos.
Para bater em vítimas indefesas não há necessidade e é um acto muito feio.
Se JPP se sente vocacionado para fazer o mesmo que fazem os outros comentadores televisivos dos telejornais, então dou-lhe um conselho (que como sempre vale o que vale e não vale nada para muitos): retire-se enquanto é tempo para poder manter o seu capital de prestígio (que o tem – quer se concorde ou não com muitas das suas posições e opiniões –).
Até porque, como é no mundo dos contrários que as partes melhor se definem e justificam as suas existências, torna-se necessário que preserve as suas qualidades para que o debate prossiga com interesse e elevação.
Nota: eu sei que sou por vezes agressivo, violento, exigente, desbocado e do piorio de quantos existem na blogosfera. Mas isso tudo não me impede de fazer um apelo à mais pequeníssima réstia de bom-senso que ainda existe em mim para dizer que eu gostaria de ver Pacheco Pereira equilibrado e sereno (um blogo-calmo, talvez) pois ele é, neste momento, o sal da blogosfera portuguesa.
Já não digo "o sol que alumia" a blogosfera portuguesa porque Cunhal encarregou-se de estigmatizar negativamente esta frase.
Nelson de Matos na posta 108 , colocada no seu blogue "Textos de Contracapa", critica a prestação de Pacheco Pereira na última intervenção que este teve no domingo passado na SIC.
Pacheco Pereira, na posta intitulada "Sobre a edição portuguesa de Desgraça", publicada aqui reitera as críticas que fez à edição da editora D. Quixote, dirigida por Nelson de Matos, de Desgraça, obra do último Nobel de Literatura, Coetzee.
Devo dizer aqui que concordo plenamente com o que diz Nelson de Matos na sua posta acima referida.
Não era esse tipo de coisas que JPP disse agora, que a primeira intervenção dele na SIC, em que falou do D. Quixote, de Cervantes, fazia prever. E não era isso que, no meu entender, se esperava que JPP viesse fazer das próxima vezes que aparecesse na SIC.
O que esperamos todos que JPP faça quando fala de livros, na SIC, é que seja erudito e fale de literatura e do interesse que esta representa para o grande público (porque o público dos nichos já está servido).
Agora, vir criticar, como ele fez, um texto de contracapa de uma obra do último Nobel de literatura, em vez de nos falar concretamente do conteúdo dessa obra e do autor premiado, é no mínimo despropositado. E estranho.
E é estranho porque configurando embora uma forma simultâneamente verrinosa e subtil de atingir terceiros, a que JPP já nos vem habituando nos seus escritos, não o julgávamos, contudo, capaz (ou necessitado) de a utilizar num meio tão poderoso como é a televisão.
Como exemplos dessa verrina subtilmente utilizada referimos apenas os seguintes casos que podem ser constatados no Abrupto:
1) Na posta de Agosto passado (que não posso "linkar" porque a não encontro no arquivo do Abrupto) JPP escrevia ter percebido «porque é que a lagartixa nunca chega a Jacaré»;
2) Noutra posta de Agosto passado (que também não encontro no arquivo do Abrupto) JPP, primeiro elogia Carlos Fino, para depois o enterrar vivo construindo-lhe um autêntico arranha-céus em cima da cana do nariz;
3) Na posta "Early Morning Blogs 52" do Abrupto JPP "vê" «a chuva que invade a pátria» num claríssimo gesto de concordância (quem poria isso em dúvida?) por certo gemelar da interpretação que este escriba que sou eu fez de um quadro de Caillebotte.
Mas agora a coisa mudou de figura: JPP veio, na SIC, perante uma audiência de milhões (que para o efeito constitui uma autêntica bomba atómica) esmagar um texto de contracapa cujo autor, mesmo que queira defender-se, não tem a possibilidade de o fazer perante idêntica audiência.
Repito que é uma atitude no mínimo deselegante e espero que não configure um daqueles tiques para que chamei a atenção dos leitores na minha posta "Os Custos do Virar da Casaca", do dia 27/09/2003, posta já arquivada aqui no Salmoura.
Nós que apreciamos as opiniões de Pacheco Pereira, mesmo quando não concordamos com elas, não gostaríamos de o ver na televisão a comentar apenas os fait divers desta "piolheira" e a "bater" em vítimas indefesas.
Para os fait divers bastam o Marcelo e todos os outros que sabemos.
Para bater em vítimas indefesas não há necessidade e é um acto muito feio.
Se JPP se sente vocacionado para fazer o mesmo que fazem os outros comentadores televisivos dos telejornais, então dou-lhe um conselho (que como sempre vale o que vale e não vale nada para muitos): retire-se enquanto é tempo para poder manter o seu capital de prestígio (que o tem – quer se concorde ou não com muitas das suas posições e opiniões –).
Até porque, como é no mundo dos contrários que as partes melhor se definem e justificam as suas existências, torna-se necessário que preserve as suas qualidades para que o debate prossiga com interesse e elevação.
Nota: eu sei que sou por vezes agressivo, violento, exigente, desbocado e do piorio de quantos existem na blogosfera. Mas isso tudo não me impede de fazer um apelo à mais pequeníssima réstia de bom-senso que ainda existe em mim para dizer que eu gostaria de ver Pacheco Pereira equilibrado e sereno (um blogo-calmo, talvez) pois ele é, neste momento, o sal da blogosfera portuguesa.
Já não digo "o sol que alumia" a blogosfera portuguesa porque Cunhal encarregou-se de estigmatizar negativamente esta frase.
JOSÉ ESTALINE É AGORA DE DIREITA? QUEM DIRIA!
Ouvimos há dias o ex-ministro Martins da Cruz, no parlamento, dar a sua «palavra de honra» de que não falara com o senhor ministro Pedro Lynce sobre o assunto da candidatura de sua filha ao ensino superior.
Alguns papistas acharam que essa «palavra de honra» se estenderia a qualquer outra diligência, omissão, ou acto tendente a que sua filha fosse aceite ilegalmente no ensino superior.
Ao que parece, hoje que o ministro pediu a demissão, essa «palavra de honra» que bastou aos papistas para o absolverem em toda a linha, não bastou, paradoxalmente, ao próprio ministro para se manter no lugar.
Isto é o que acontece quando ouvimos só aquilo que nos interessa ou somos obrigados a ouvir.
Ele deu a sua «palavra de honra» e disse «não falei neste assunto ao senhor ministro do ensino superior».
Os papistas entenderam: «Dou a minha palavra de honra de que eu nunca tomei conhecimento de nada nem fiz nada para que minha filha entrasse ilegalmente para o ensino superior».
É no que dão as fidelidades cegas à la estaliniana.
Até parece que Estaline está a ser ressuscitado em força pela direita portuguesa.
Freitas do Amaral já chamou a atenção para isso.
Ouvimos há dias o ex-ministro Martins da Cruz, no parlamento, dar a sua «palavra de honra» de que não falara com o senhor ministro Pedro Lynce sobre o assunto da candidatura de sua filha ao ensino superior.
Alguns papistas acharam que essa «palavra de honra» se estenderia a qualquer outra diligência, omissão, ou acto tendente a que sua filha fosse aceite ilegalmente no ensino superior.
Ao que parece, hoje que o ministro pediu a demissão, essa «palavra de honra» que bastou aos papistas para o absolverem em toda a linha, não bastou, paradoxalmente, ao próprio ministro para se manter no lugar.
Isto é o que acontece quando ouvimos só aquilo que nos interessa ou somos obrigados a ouvir.
Ele deu a sua «palavra de honra» e disse «não falei neste assunto ao senhor ministro do ensino superior».
Os papistas entenderam: «Dou a minha palavra de honra de que eu nunca tomei conhecimento de nada nem fiz nada para que minha filha entrasse ilegalmente para o ensino superior».
É no que dão as fidelidades cegas à la estaliniana.
Até parece que Estaline está a ser ressuscitado em força pela direita portuguesa.
Freitas do Amaral já chamou a atenção para isso.
domingo, outubro 05, 2003
ADRIANO MOREIRA DIRECTO AO ASSUNTO
(para os belicistas da nossa praça meditarem)
Importantíssima e "imperdível" a reflexão hoje acontecida no programa da TSF "Directo ao Assunto", com o moderador Carlos Pinto Coelho, em que foram protagonistas Adriano Moreira e Mário Soares.
Grande parte dessa reflexão incidiu sobre a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e pela Grã Bretanha, e transcrevo aqui algumas palavras do Professor Adriano Moreira, sem qualquer comentário (os sublinhados são da minha responsabilidade):
«Este presidente da República, quando se apresentou, foi para diminuir as responsabilidades externas dos Estados Unidos. Ele é um homem marcado pelo "regresso a casa". E encontra-se envolvido numa responsabilidade mundial para a qual, como é evidente, ele não tinha apoios de estudos de projectos sérios. Há um pouco de inconsistência na atitude desenvolvida. E há maus sinais, há maus sinais: porque primeiro lembram-se que um dos seus secretários de Estado (não me lembro agora qual) sustentava que os Estados Unidos podem ganhar duas guerras, desenvolver duas guerras, mas essa energia verbal teve efeitos para invadir o Iraque em busca de umas armas que não existiam e sabemos hoje que havia sérias dúvidas documentadas de que existissem. Mas no lugar onde elas existem, que é a Coreia, aí o diálogo já volta a ser o instrumento. Bom, isto leva a pensar o seguinte: que talvez alguém pudesse mandar uma História do Império Romano ao presidente dos Estados Unidos para ele ver que os impérios também sofrem da fadiga dos metais; e que um responsável como ele, posto no lugar onde provavelmente assumiu mais responsabilidades pela intervenção mundial (que não estiveram nunca no seu programa) tem que pensar que a fadiga dos metais atinge este alargar impensado ou incontrolado de responsabilidades. Isto é uma inquietação que tem que ser para o Ocidente.»
Oiça todo o programa aqui
(para os belicistas da nossa praça meditarem)
Importantíssima e "imperdível" a reflexão hoje acontecida no programa da TSF "Directo ao Assunto", com o moderador Carlos Pinto Coelho, em que foram protagonistas Adriano Moreira e Mário Soares.
Grande parte dessa reflexão incidiu sobre a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e pela Grã Bretanha, e transcrevo aqui algumas palavras do Professor Adriano Moreira, sem qualquer comentário (os sublinhados são da minha responsabilidade):
«Este presidente da República, quando se apresentou, foi para diminuir as responsabilidades externas dos Estados Unidos. Ele é um homem marcado pelo "regresso a casa". E encontra-se envolvido numa responsabilidade mundial para a qual, como é evidente, ele não tinha apoios de estudos de projectos sérios. Há um pouco de inconsistência na atitude desenvolvida. E há maus sinais, há maus sinais: porque primeiro lembram-se que um dos seus secretários de Estado (não me lembro agora qual) sustentava que os Estados Unidos podem ganhar duas guerras, desenvolver duas guerras, mas essa energia verbal teve efeitos para invadir o Iraque em busca de umas armas que não existiam e sabemos hoje que havia sérias dúvidas documentadas de que existissem. Mas no lugar onde elas existem, que é a Coreia, aí o diálogo já volta a ser o instrumento. Bom, isto leva a pensar o seguinte: que talvez alguém pudesse mandar uma História do Império Romano ao presidente dos Estados Unidos para ele ver que os impérios também sofrem da fadiga dos metais; e que um responsável como ele, posto no lugar onde provavelmente assumiu mais responsabilidades pela intervenção mundial (que não estiveram nunca no seu programa) tem que pensar que a fadiga dos metais atinge este alargar impensado ou incontrolado de responsabilidades. Isto é uma inquietação que tem que ser para o Ocidente.»
Oiça todo o programa aqui
sábado, outubro 04, 2003
FICÇÃO, FICÇÃO, FICÇÃO (nada de confusões)
Tenho um amigo que está a escrever um romance intitulado "De como não se deve cuspir para cima" onde se pode ler a certa altura o seguinte:
«Rodeado de amigos à mesa de um restaurante, dizia um político:
"Não há maneira de dar a volta a isto, pá! Estes médicos são uns pelintras. Não sabem o que é abusar do poder; também não o têm e é bem feita! Têm apenas o poder de passarem uns atestadozitos fraudulentos aos amigos e mais nada. Isso não rende a ponta de um corno, pá. O que rende é este abuso de poder que nós fazemos e felizmente já enraizámos na sociedade: cunhas, favores aos amigos, licenciamento de obras em clara violação dos PDMs, concursos fantasmas para aquisição de bens, viagens turísticas com ajudas de custo e cartão de crédito para despesas de representação, utilização de documentos falsos para fuga aos impostos; isto sim, isto é que é abuso de poder, pá. Olha lá, Zé, convido-te a ti mais a tua mulher para um fim de semana prolongado na neve, queres ir? Diremos que vamos em trabalho político e damos mais uma golpada no erário público, está bem?"».
Tenho um amigo que está a escrever um romance intitulado "De como não se deve cuspir para cima" onde se pode ler a certa altura o seguinte:
«Rodeado de amigos à mesa de um restaurante, dizia um político:
"Não há maneira de dar a volta a isto, pá! Estes médicos são uns pelintras. Não sabem o que é abusar do poder; também não o têm e é bem feita! Têm apenas o poder de passarem uns atestadozitos fraudulentos aos amigos e mais nada. Isso não rende a ponta de um corno, pá. O que rende é este abuso de poder que nós fazemos e felizmente já enraizámos na sociedade: cunhas, favores aos amigos, licenciamento de obras em clara violação dos PDMs, concursos fantasmas para aquisição de bens, viagens turísticas com ajudas de custo e cartão de crédito para despesas de representação, utilização de documentos falsos para fuga aos impostos; isto sim, isto é que é abuso de poder, pá. Olha lá, Zé, convido-te a ti mais a tua mulher para um fim de semana prolongado na neve, queres ir? Diremos que vamos em trabalho político e damos mais uma golpada no erário público, está bem?"».
PORTAS DE VIDRO
Sei que a minha opinião, como se costuma dizer, vale o que vale (vale nada, dirão alguns) mas não é por isso que me abstenho de a publicar.
Vem isto a propósito da posta intitulada Portas de vidro do blogue O Projecto.
Nessa posta é-nos dada uma visão outra (que só podia vir de quem é especialista na matéria – um arquitecto), visão essa que, a mim, por exemplo, permitiu-me descobrir alguma razão da, até aqui, inexplicada sensação de incómodo que sempre se apoderava de mim quando olhava para uma porta de vidro (isto pode parecer um disparate, mas tenho todo o direito de o dizer).
Este é um exemplo do contributo ímpar que as pessoas das artes e das ciências trazem à blogosfera como meio de comunicação de massas: olhares outros sobre a realidade; olhares que nos permitem ver (ler) por prismas diferentes dos habituais os objectos, as coisas, os espaços e as pessoas que nos cercam (num cerco muitas vezes surdo e invisível). É este olhar novo, dizíamos, que constitui uma das riquezas de que a blogosfera é portadora: qual seja a de permitir democratizar certos conhecimentos específicos antes arrumados nas páginas inacessíveis de obras específicas destinadas preferencialmente a especialistas.
Bem digo eu que não é por não dominarmos a palavra, a gramática e as técnicas de comunicação, que devemos, nós as pessoas das ciências e das artes, deixar de descer ao terreiro da comunicação de massas para o "poluirmos" com as nossas opiniões abstrusas. Temos até o dever de fazer essa "poluição".
Isso é democracia. Isso pode acabar, em última instância, por constituir mais uma via para a Cultura.
Parabéns a O Projecto, na pessoa de Lourenço Ataíde Cordeiro, por pensar assim e trazer-nos, pé ante pé, um pouco da visão que do seu mundo profissional tem sobre nós e tudo o que nos cerca.
Sei que a minha opinião, como se costuma dizer, vale o que vale (vale nada, dirão alguns) mas não é por isso que me abstenho de a publicar.
Vem isto a propósito da posta intitulada Portas de vidro do blogue O Projecto.
Nessa posta é-nos dada uma visão outra (que só podia vir de quem é especialista na matéria – um arquitecto), visão essa que, a mim, por exemplo, permitiu-me descobrir alguma razão da, até aqui, inexplicada sensação de incómodo que sempre se apoderava de mim quando olhava para uma porta de vidro (isto pode parecer um disparate, mas tenho todo o direito de o dizer).
Este é um exemplo do contributo ímpar que as pessoas das artes e das ciências trazem à blogosfera como meio de comunicação de massas: olhares outros sobre a realidade; olhares que nos permitem ver (ler) por prismas diferentes dos habituais os objectos, as coisas, os espaços e as pessoas que nos cercam (num cerco muitas vezes surdo e invisível). É este olhar novo, dizíamos, que constitui uma das riquezas de que a blogosfera é portadora: qual seja a de permitir democratizar certos conhecimentos específicos antes arrumados nas páginas inacessíveis de obras específicas destinadas preferencialmente a especialistas.
Bem digo eu que não é por não dominarmos a palavra, a gramática e as técnicas de comunicação, que devemos, nós as pessoas das ciências e das artes, deixar de descer ao terreiro da comunicação de massas para o "poluirmos" com as nossas opiniões abstrusas. Temos até o dever de fazer essa "poluição".
Isso é democracia. Isso pode acabar, em última instância, por constituir mais uma via para a Cultura.
Parabéns a O Projecto, na pessoa de Lourenço Ataíde Cordeiro, por pensar assim e trazer-nos, pé ante pé, um pouco da visão que do seu mundo profissional tem sobre nós e tudo o que nos cerca.
NÃO HÁ VOLTA A DAR-LHE
Não conheço o ex-ministro Pedro Lynce, que se demitiu na sequência do "escândalo da filha de Martins da Cruz". Mas conheço o irmão dele, Nuno Lynce, pediatra, que é um homem de antes quebrar que torcer. Pelos vistos o irmão Pedro é da mesma cepa que o Nuno e por isso demitiu-se ao considerar-se culpado no escândalo.
Martins da Cruz, com aquela voz catacúmbico-gregoriana declarou nada ter a ver com o assunto pois foi sua filha quem fez o requerimento pedindo a concessão de uma ilegalidade (que lhe foi concedida) e não ele.
Quem é pai, e sabe como estas coisas acontecem no seio das famílias, tem muita dificuldade em acreditar no homem.
É que se Martins da Cruz, de facto, não se envolveu na candidatura da filha ao ensino superior, isso só revela que ele é muito mau pai e por isso não serve para ministro de Portugal;
Mas se, por outro lado (como se espera de qualquer pai) ele se interessou e se envolveu na candidatura fraudulenta da filha ao ensino superior, então só merece reprovação e por isso mesmo não deveria continuar a ser ministro de Portugal.
É tão simples como isso.
Não conheço o ex-ministro Pedro Lynce, que se demitiu na sequência do "escândalo da filha de Martins da Cruz". Mas conheço o irmão dele, Nuno Lynce, pediatra, que é um homem de antes quebrar que torcer. Pelos vistos o irmão Pedro é da mesma cepa que o Nuno e por isso demitiu-se ao considerar-se culpado no escândalo.
Martins da Cruz, com aquela voz catacúmbico-gregoriana declarou nada ter a ver com o assunto pois foi sua filha quem fez o requerimento pedindo a concessão de uma ilegalidade (que lhe foi concedida) e não ele.
Quem é pai, e sabe como estas coisas acontecem no seio das famílias, tem muita dificuldade em acreditar no homem.
É que se Martins da Cruz, de facto, não se envolveu na candidatura da filha ao ensino superior, isso só revela que ele é muito mau pai e por isso não serve para ministro de Portugal;
Mas se, por outro lado (como se espera de qualquer pai) ele se interessou e se envolveu na candidatura fraudulenta da filha ao ensino superior, então só merece reprovação e por isso mesmo não deveria continuar a ser ministro de Portugal.
É tão simples como isso.
sexta-feira, outubro 03, 2003
AI SE O DR. BRITO CALDEIRA AINDA FOSSE VIVO!
O dermatologista, já falecido, Dr. Brito Caldeira, um dia, examinando alunos da cadeira dessa especialidade (alunos do 5º ano de medicina), fez a seguinte advertência a um aluno que insistia em iniciar as suas respostas com um "portanto":
«Meu caro senhor, a palavra "portanto" é conclusiva, por isso eu não posso admitir que o senhor inicie as suas respostas com essa palavra. O senhor está num curso de ciências, mas está na Universidade e por isso tem a obrigação de falar bem a língua portuguesa. Se o senhor persistir em dizer "portanto" no início das respostas às minhas perguntas eu vou ser obrigado a "chumbá-lo".»
Ora bem, escutem com atenção o pequeno "flash"-áudio que a TSF disponibiliza aqui e oiçam o senhor ministro da Ciência e do Ensino Superior a dizer: «...admitindo que esta solução possa vir a PROJEDICAR o processo em curso...»
Quando, meu Deus, é que a palavra PREJUDICAR entra de facto na língua portuguesa?
O dermatologista, já falecido, Dr. Brito Caldeira, um dia, examinando alunos da cadeira dessa especialidade (alunos do 5º ano de medicina), fez a seguinte advertência a um aluno que insistia em iniciar as suas respostas com um "portanto":
«Meu caro senhor, a palavra "portanto" é conclusiva, por isso eu não posso admitir que o senhor inicie as suas respostas com essa palavra. O senhor está num curso de ciências, mas está na Universidade e por isso tem a obrigação de falar bem a língua portuguesa. Se o senhor persistir em dizer "portanto" no início das respostas às minhas perguntas eu vou ser obrigado a "chumbá-lo".»
Ora bem, escutem com atenção o pequeno "flash"-áudio que a TSF disponibiliza aqui e oiçam o senhor ministro da Ciência e do Ensino Superior a dizer: «...admitindo que esta solução possa vir a PROJEDICAR o processo em curso...»
Quando, meu Deus, é que a palavra PREJUDICAR entra de facto na língua portuguesa?
quinta-feira, outubro 02, 2003
O PAÍS DA TRETA EXISTE E CHAMA-SE PORTUGAL
Soubemos hoje, através de uma notícia da SIC, que a filha do senhor ministro dos negócios estrangeiros entrou ilegal e fraudulentamente para o curso de Medicina.
Sabendo-se, como se sabe, que a inteligência se herda geneticamente, pergunto:
Será que minha filha é, verdadeiramente, mais inteligente que a filha do senhor ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, Senhor Martins da Cruz?
Será que, como dadores de cromossomas portadores de factores de inteligência, eu e minha mulher somos dadores de maior quantidade de factores de inteligência aos nossos descendentes de que o senhor ministro e sua excelsa esposa?
Tenho que admitir que sim: eu e minha mulher somos, de facto, mais inteligentes que o senhor ministro Martins da Cruz e sua esposa.
O que quer dizer que bem podia eu ser ministro dos negócios estrangeiros de Portugal que ao menos pouparia ao Governo a vergonha de ter um membro seu a fazer falcatruas para ter uma filha a estudar medicina.
É que a minha filha entrou e está em Medicina porque cumpriu todos os requisitos exigidos para fazer esse curso.
Enquanto que a filha do senhor ministro lá está porque VIVEMOS NUM PAÍS DA TRETA onde vale tudo e o crime compensa.
Nota: posta modificada por respeito ao País e aos leitores.
Soubemos hoje, através de uma notícia da SIC, que a filha do senhor ministro dos negócios estrangeiros entrou ilegal e fraudulentamente para o curso de Medicina.
Sabendo-se, como se sabe, que a inteligência se herda geneticamente, pergunto:
Será que minha filha é, verdadeiramente, mais inteligente que a filha do senhor ministro dos negócios estrangeiros de Portugal, Senhor Martins da Cruz?
Será que, como dadores de cromossomas portadores de factores de inteligência, eu e minha mulher somos dadores de maior quantidade de factores de inteligência aos nossos descendentes de que o senhor ministro e sua excelsa esposa?
Tenho que admitir que sim: eu e minha mulher somos, de facto, mais inteligentes que o senhor ministro Martins da Cruz e sua esposa.
O que quer dizer que bem podia eu ser ministro dos negócios estrangeiros de Portugal que ao menos pouparia ao Governo a vergonha de ter um membro seu a fazer falcatruas para ter uma filha a estudar medicina.
É que a minha filha entrou e está em Medicina porque cumpriu todos os requisitos exigidos para fazer esse curso.
Enquanto que a filha do senhor ministro lá está porque VIVEMOS NUM PAÍS DA TRETA onde vale tudo e o crime compensa.
Nota: posta modificada por respeito ao País e aos leitores.
CHUVA NA PÁTRIA E NO PSD
O quadro logo aqui em baixo, considerado o melhor de Caillebotte, dominou a Exposição Impressionista de 1877 em Paris. É apreciado pela sua cuidada organização de perspectiva e por reflectir o momentâneo, o casual e a atmosfera da vida urbana parisiense da época. Há críticos que chamam a atenção para o facto de, na obra de Caillebotte, este pintor fazer questão em não fornecer, muitas vezes, algum elemento "que devia lá estar mas não está". É o caso da ausência da chuva neste quadro.
Sendo este quadro uma obra aberta não admira que JPP tenha "visto" nele, no early morning blogs 52, «a chuva que invade a pátria»; outros poderão ver nele antes a chuva com que Paulo Portas anda a regar o PSD, Durão Barroso e seus barões tresmalhados.
Mudando de assunto: leiam o artigo de JPP no "Público" de hoje. Vale a pena. É um indício claro de que céus com nuvens carregadas se escondem algures sobre o planeta; um claro convite à ressurreição de Caillebotte para este ilustrar a prosa.
Vem aí chuva grossa.
O quadro logo aqui em baixo, considerado o melhor de Caillebotte, dominou a Exposição Impressionista de 1877 em Paris. É apreciado pela sua cuidada organização de perspectiva e por reflectir o momentâneo, o casual e a atmosfera da vida urbana parisiense da época. Há críticos que chamam a atenção para o facto de, na obra de Caillebotte, este pintor fazer questão em não fornecer, muitas vezes, algum elemento "que devia lá estar mas não está". É o caso da ausência da chuva neste quadro.
Sendo este quadro uma obra aberta não admira que JPP tenha "visto" nele, no early morning blogs 52, «a chuva que invade a pátria»; outros poderão ver nele antes a chuva com que Paulo Portas anda a regar o PSD, Durão Barroso e seus barões tresmalhados.
Mudando de assunto: leiam o artigo de JPP no "Público" de hoje. Vale a pena. É um indício claro de que céus com nuvens carregadas se escondem algures sobre o planeta; um claro convite à ressurreição de Caillebotte para este ilustrar a prosa.
Vem aí chuva grossa.
quarta-feira, outubro 01, 2003
NO COMMENTS
Fernando Dacosta, na página 91 da 3ª edição de "Salazar fotobiografia", publicada pela "Editorial Notícias", no ano 2000, atribui ao político biografado a seguinte frase que partilho hoje com os leitores para reflexão:
«Tenho de me libertar de todo o romantismo. Prefiro o respeito ao amor. A felicidade atinge-se pela renúncia do que se deseja, não pela sua posse.»
Como escrevi no título da posta: sem comentários.
Fernando Dacosta, na página 91 da 3ª edição de "Salazar fotobiografia", publicada pela "Editorial Notícias", no ano 2000, atribui ao político biografado a seguinte frase que partilho hoje com os leitores para reflexão:
«Tenho de me libertar de todo o romantismo. Prefiro o respeito ao amor. A felicidade atinge-se pela renúncia do que se deseja, não pela sua posse.»
Como escrevi no título da posta: sem comentários.
O SORTILÉGIO DA ARTE
Para os transeuntes e para a moda, a melhor chuva é a chuva que não cai.
Neste quadro “chuvoso” Caillebotte dá-nos tudo menos chuva. Mas o que mais sentimos quando observamos o quadro é… chuva. Eis um sortilégio que Caillebotte genialmente “pôs” no quadro para nosso deleite.
Rainy
Gustave Caillebotte
Para os transeuntes e para a moda, a melhor chuva é a chuva que não cai.
Neste quadro “chuvoso” Caillebotte dá-nos tudo menos chuva. Mas o que mais sentimos quando observamos o quadro é… chuva. Eis um sortilégio que Caillebotte genialmente “pôs” no quadro para nosso deleite.
Rainy
Gustave Caillebotte
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