PORTAS DE VIDRO
Sei que a minha opinião, como se costuma dizer, vale o que vale (vale nada, dirão alguns) mas não é por isso que me abstenho de a publicar.
Vem isto a propósito da posta intitulada Portas de vidro do blogue O Projecto.
Nessa posta é-nos dada uma visão outra (que só podia vir de quem é especialista na matéria – um arquitecto), visão essa que, a mim, por exemplo, permitiu-me descobrir alguma razão da, até aqui, inexplicada sensação de incómodo que sempre se apoderava de mim quando olhava para uma porta de vidro (isto pode parecer um disparate, mas tenho todo o direito de o dizer).
Este é um exemplo do contributo ímpar que as pessoas das artes e das ciências trazem à blogosfera como meio de comunicação de massas: olhares outros sobre a realidade; olhares que nos permitem ver (ler) por prismas diferentes dos habituais os objectos, as coisas, os espaços e as pessoas que nos cercam (num cerco muitas vezes surdo e invisível). É este olhar novo, dizíamos, que constitui uma das riquezas de que a blogosfera é portadora: qual seja a de permitir democratizar certos conhecimentos específicos antes arrumados nas páginas inacessíveis de obras específicas destinadas preferencialmente a especialistas.
Bem digo eu que não é por não dominarmos a palavra, a gramática e as técnicas de comunicação, que devemos, nós as pessoas das ciências e das artes, deixar de descer ao terreiro da comunicação de massas para o "poluirmos" com as nossas opiniões abstrusas. Temos até o dever de fazer essa "poluição".
Isso é democracia. Isso pode acabar, em última instância, por constituir mais uma via para a Cultura.
Parabéns a O Projecto, na pessoa de Lourenço Ataíde Cordeiro, por pensar assim e trazer-nos, pé ante pé, um pouco da visão que do seu mundo profissional tem sobre nós e tudo o que nos cerca.