POSTA ESCATOLÓGICA
No passado sábado, à noite, reparei, por uma fresta do estore da janela do meu escritório, que estava uma coruja pousada no parapeito da mesma. Não quis incomodar o animal (que ali estava, talvez, a refugiar-se do encandeamento que lhe provocava a iluminação pública) e por isso não mexi no estore e fui-me deitar.
Na manhã seguinte levantei o estore e, através da vidraça, constatei que a coruja se fora embora e deixara-me de presente um bocado de cocó.
E pude constatar ainda, pela primeira vez na minha vida, que o cocó das corujas, ao contrário do que eu sempre pensara, é bem diferente do cocó das galinhas.
O cocó das corujas é tal e qual o cocó dos gatos: moldado, de forma cilindróide, de consistência aparentemente dura e deixando ver, à superfície, pelos ou lanugem de algum animal distraído caçado na véspera.
Como o meu escritório é limpo uma vez por semana, às sextas-feiras, o cocó ainda lá está.
Já fiz as contas: bastar-me-iam menos de dez segundos para remover o cocó do parapeito da janela e resolver o problema. Mas prefiro estar aqui a fazer esta posta do que resolver, de facto, o problema.
E estamos nisto, eu e o cocó:
Eu olho para ele, ele olha para mim, e cada um de nós fica na sua à espera que um milagre aconteça e o cocó desapareça do parapeito. E enquanto isso não acontece vamos para o café ou vimos aqui para o blogue teorizar sobre o assunto.
Esta é uma forma bem portuguesa de encarar os problemas, não é?
E eu que pensava que a aculturação não era um fenómeno tão marcante da personalidade!...