quinta-feira, outubro 16, 2003

A PROPÓSITO DA UNIVERSIDADE

Segunda-feira passada, no programa "Prós e Contras" da RTP, o professor José Tribolet disse isto: a Universidade hoje é uma balda; na Universidade, hoje em dia, a maior parte das aulas não são (sic) dadas, a maior parte das aulas não são (sic) dadas – repetiu.

Sobre isso quero só dizer duas coisas apenas:

1) Sei, por vivência pessoal, que essa afirmação é verdadeira.
2) Essas aulas que não são dadas não fazem falta nenhuma.

E essas aulas não fazem falta nenhuma porque, hoje em dia, a preparação dos assistentes das diversas cadeiras é deficientíssima. Para além disso os assistentes não têm as condições mínimas de trabalho exigíveis; alguns deles trabalham de graça gastando, às vezes, ainda por cima, dinheiro do seu próprio bolso para dar as aulas.

O recrutamento de assistentes em certas cadeiras do curso de Medicina, por exemplo, obedece ao critério de escolha dos menos capazes no mercado de trabalho porque são os únicos que ainda têm tempo para perder com o ensino que já não acrescenta nada ao currículo de um médico. É TRISTE MAS É VERDADE.

A grande maioria dos assistentes debita nas aulas apenas parte das matérias que constam das sebentas e dos livros tornando a presença dos alunos nas aulas um puro desperdício de tempo.

Eu conheço esta realidade de ginjeira. É assim mesmo como digo.

Longe vai o tempo em que os alunos iam às aulas porque os professores, para além de ensinarem o que vinha nos livros e nas sebentas, ensinavam ainda matérias que não vinham neles e que podiam sair nos exames.

Hoje em dia a Universidade é maioritariamente um lugar onde os alunos se encontram com colegas e professores e onde se organizam e se realizam exames.

O que se aprende está todo nos livros e basta tê-los e estudá-los para se passar nos exames.

O que acaba dito aplica-se inteiramente às aulas teóricas.

As aulas práticas continuam a ser úteis para os cursos que as têm, mas a sua qualidade tem baixado para níveis caninos em certos deles.

Qualquer dia, mesmo as aulas práticas, deixarão de ter razão de existir.

E então sim. Teremos licenciados à imagem do País: profissionais de brincadeira, actores reais de uma autêntica ópera bufa.

É SÓ ESPERAR QUE O ENSINO SEJA TODO PRIVATIZADO PARA CHEGARMOS A ISSO.

Nota: Como em tudo na vida, há excepções (oásis a caminho de serem terras de sequeiro?).