domingo, março 28, 2004

POESIA PELA MANHÃ

acordo ao primeiro raiar do sol como quem acorda
para o dia inteiro acordo por ti e para ti
estrela da manhã

que o tempo acabou que o tempo
de ser noite é tempo de ser luz

acordo assim como quem sonha
ou como quem lembra
o futuro

e toda a luz é ainda penumbra e todo
o silêncio reverdece de estranhos tons
poisada no céu única e estranha como se fosses
a única luz do horizonte
como se anunciasses o fim de todas as noites
o começo de todas as manhãs

porque tu és a estrela da manhã e eu sou a noite
te quero estrela de mim
ao amanhecer poisada


(Ana Mafalda Leite)

sábado, março 27, 2004

AI SOLIDÃO, SOLIDÃO

Salmoura bem quer sair um pouco da política neste blogue, mas não é fácil. Há cada vez mais dados (políticos) interessantes a que não se pode ser indiferente, e lá temos que falar neles.

Adriano Moreira, insuspeitíssimo de esquerdismo, no seu “Ensaio” no último número da revista “Visão”, analisa o fenómeno terrorista à luz do 11 de Setembro, da invasão e ocupação do Iraque e do 11 de Março, afastando-se larguissimamente da direita.

Cada vez mais vão ficando no terreno Sancho Pança e D. Quixote (JPP e JMF ou JMF e JPP).

Tristíssimas figuras de cavaleiros.

sexta-feira, março 26, 2004

E O CÃO MORDEU O OSSO

Por outras palavras, José Manuel Fernandes, director do jornal Público (o blogue dele), “mordeu” as declarações de José Saramago.

Falando sobre o livro que agora publicou, “Ensaio Sobre a Lucidez”, José Saramago, prémio Nobel, disse que o livro tem por finalidade fazer pensar e discutir a democracia em que vivemos no Ocidente, pois que lhe encontra fragilidades várias, em que o domínio (a dominação, sejamos claros) da comunicação social (dos jornais e dos jornalistas) pelo poder económico e político é um dos grandes males, sendo um dos outros o sistema dos partidos como única forma admitida de manifestação organizada da vontade popular e nacional.

Tudo verdades claras aos olhos de qualquer um, mas, de facto, verdades não discutidas hoje em dia e a merecerem, sem quaisquer dúvidas, discussão profunda por parte da sociedade.

Ferido no seu orgulho de jornalista, escravo do poder económico e político que lhe “encomenda” sermões como o de hoje, JMF não gostou lá muito de ouvir o “uivo” de Saramago. E então, da sua tribuna no seu blogue "Público", toca de fazer um exercício malabarista com as palavras de Saramago para nos induzir a concluir que tudo o que Saramago disse no seu discurso, e provavelmente tudo o que escreveu neste seu último livro, “Ensaio Sobre a Lucidez”, não passam de desabafos de um comunista desiludido, não tendo, por isso, legitimidade para discutir nem a democracia em que vivemos, nem o sistema de partidos que temos.

E o engraçado de tudo isto é constatar que JMF, através dos seus editoriais no seu blogue ”Público”, afora a sua fé canina na justeza da política belicista de Bush e Blair, que enaltece pacoviamente todos os dias (tentando com isso converter pacóvios a segui-lo na sua devoção fundamentalista pela guerra preventiva), mais não tem feito que mostrar a sua profunda desilusão pelas posições democraticamente tomadas pelos países (o mundo quase todo) que se opõem à invasão e ocupação do Iraque, partindo dessa sua desilusão para a discussão sistemática do funcionamento da democracia nesses países.

No fundo, o democrata JMF, que questiona, todos os dias, à sua maneira, o funcionamento da democracia, nega a Saramago o direito democrático de discutir a Democracia pela razão única de Saramago ser um comunista inveterado, incapaz (no pensar bushiano de JMF) de poder trazer novas ideias à sociedade.

Concordando plenamente com JMF quando ele diz que «os homens não são cães», fico a pensar por que é que certos homens manifestam fidelidades caninas em relação ao poder e a outros homens (como a Bush, por exemplo).

Não ignoremos a máxima do «Livro das Vozes»:

«Uivemos, disse o cão.»

domingo, março 21, 2004

LEIAM E MEDITEM, Srs. ANTÓNIOS

No mesmo jornal onde António Barreto “lapida” Soares, é publicada hoje uma crónica de Frei Bento Domingues cuja leitura recomendamos vivamente a todos os Antónios Barretos deste país.

Eis uma passagem dessa crónica (os destaques são de nossa autoria):

«A rota do petróleo e do império desenhada pela Administração Bush impôs outra lógica. Mas a extraordinária capacidade de despejar bombas pelo mundo não basta para fazer amigos. Cria um ambiente de ressentimento no qual os fundamentalistas se movimentam à vontade e onde podem recrutar cada vez mais suicidas.
A Europa e sobretudo a Europa do Sul - embora sempre no âmbito do esforço da unidade europeia - deve mostrar-se mais atenta aos seus vizinhos mais chegados. Não para recomeçar as cruzadas contra o islão, mas, como escreveu na "Visão" Diogo Freitas do Amaral, "para nos defender do terrorismo dos fanáticos e abrir um diálogo fecundo com os árabes moderados - que os há, e muitos. Bin Laden anda à procura do 'inimigo cristão'; a Europa unida deve começar rapidamente à procura do 'amigo árabe'. É toda a diferença entre os terroristas e os democratas".
O mundo tornou-se um pesadelo, um "mundo cão", como lhe chama Mário Soares na citada revista.»


Esta é toda a diferença que há entre uma alma cristã lúcida e um “lapidador” fanático.

Leia toda a crónica de Frei Bento Domingues aqui
A “TAREIA” JÁ COMEÇOU

António Barreto assina hoje mais uma crónica cassândrica e de puro "desancamento político", a que já nos habituou. E como Salmoura já previra, segue o caminho da direita e dá “tareia” em Soares dizendo:

«O Dr. Mário Soares é um dos políticos mais inteligentes e hábeis do nosso século XX. Deixou a sua marca indelével na história de Portugal. Por isso é desolador que, à sua excepcional obra e ao seu formidável percurso, tenha agora acrescentado este perigoso e desmoralizador contributo: "É preciso negociar com os terroristas"! Ele não disse "opositores", "adversários", "colonizados", "oprimidos" ou "resistentes". Disse "terroristas". Nunca alguém o dissera antes dele. E creio que ninguém o dirá depois. Mas ele disse!»

É isso mesmo que distingue Mário Soares de todos os outros políticos: ver mais longe que os outros; ver primeiro que os outros; e dizer primeiro que os outros.

E ao contrário do que pensa António Barreto, outros virão dizer futuramente a mesma coisa que Soares disse agora. Só que tarde e a más horas.

Veremos.

Nota: Manda a verdade que, pegando nas suas próprias palavras, se diga aqui a António Barreto: Ele não disse "negociar", "pactuar", "ceder", "capitular". Disse "dialogar". E, tal como Barreto, nós também concordamos que «Nunca alguém o dissera antes dele».

E a frase completa de Soares é esta:

«É preciso dialogar com os terroristas e conhecer as suas razões».

Quem a deturpa, como têm feito os "lapidadores" de Soares, lá tem as suas razões para isso.

Nunca é demais lembrar que mentir, hoje em dia em Portugal, é tão natural como respirar.

sábado, março 20, 2004

UM FIM DE SEMANA RETEMPERADOR


John Sargent

O ambiente psicológico nacional está demasiadamente sufocante para que Salmoura continue (pelo menos por estes dias mais próximos) a falar das tristezas crónicas que afectam o país: desemprego, rotura na assistência social, crise na educação, etc. Tudo males que se agravaram drasticamente desde que o aparelho de Estado foi ocupado por uma ganga política incompetente e cega e por apêndices tecnocráticos com artes de Arsène Lupin, que não olham a meios para beneficiar os seus correligionários mesmo que depois disso o país fique (então sim) literalmente «de tanga».

Por isso Salmoura resolveu, hoje, neste dia de sol tão belo e convidativo a passeios e desfrute da Natureza, parar com as denúncias que vem fazendo e atribuir-se 48 horas de exercício físico e de espírito, e de contacto com a Natureza, com a finalidade de recarregar baterias antes de voltar a encarar de novo os “cruzados” domésticos que tão má conta têm dado de si e da direita nestes últimos sete a dez dias.

Desejo um fim de semana retemperador a todos. "Cruzados" incluídos. - Também são bichos de Deus, não?.

Nota:
Mau prenúncio pré-eleitoral: Santos Silva em rota de colisão com Mário Soares.

quinta-feira, março 18, 2004

«É GUERRA, É GUERRA» (Felizmente o ridículo não mata)

Aparentemente desorientado com os falhanços monumentais das suas posições largamente publicadas na imprensa e explanadas na televisão - sobre a invasão e ocupação do Iraque (em que apoiou os invasores crente na existência das famosas Armas de Destruição Massiva) e sobre o atentado de Madrid (em que defendeu a tese da ETA) - Pacheco Pereira parece seguir agora o mesmo caminho de José Manuel Fernandes: os neurónios chispam por tudo quanto é lado e a prosa sai mais disparatada do que se esperaria.

Quem no seu perefito juízo acreditaria, aí há uma semana atrás, por exemplo, que esta prosa que se segue foi escrita pela mão de Pacheco Pereira?

Leiam, vem hoje no Público. E é de Pacheco Pereira:

«Não percebe nada de terrorismo quem não percebe que não é a força que atrai as bombas, mas a fraqueza. Se houver esta tentativa socialista e a coligação PSD-CDS for capaz de ter a firmeza absoluta, sem tibiezas, que a situação exige - eu que sempre critiquei a fusão contranatura dos dois partidos -, farei campanha a seu favor todos os segundos que durar o debate eleitoral. Com o PSD, com o CDS, com os socialistas atlantistas, seja lá quem for. Isso é mil vezes mais importante que as vicissitudes da política interna. É guerra, é guerra».
SIMPLESMENTE DELIRANTE

O director do Público, José Manuel Fernandes, cujas posições de apoio canino a Bush são mais que conhecidas, parece que agora endoideceu de vez. Pois não é que escreve hoje isto em editorial daquele jornal:

«Segundo essa sondagem, de que o PÚBLICO de ontem já dava notícia, 72 por cento dos iraquianos desejam a democracia para o seu país, 70 por cento acreditam que as coisas estão a correr bem nas suas vidas, sendo que 56,5 por cento acham mesmo que as suas vidas estão agora melhor ou muito melhor do que há um ano, antes da invasão. Mais: apesar dos atentados, 53,6 por cento dos inquiridos considera que a situação de segurança é melhor que no tempo de Saddam, contra 28,4 por cento que acham que é pior. Uma maioria também acha que há mais empregos do que há um ano, que melhorou o serviço de infraestruturas básicas como o fornecimento de electricidade ou de água potável, que há melhores serviços de saúde, melhor acesso à educação, mais produtos nos mercados e até que as suas famílias estão mais protegidas dos criminosos comuns».

Como é que JMF pode pensar que seja hoje possível, no meio daquela confusão toda em que vive o Iraque, auscultar opiniões sinceras por parte dos esfomeados e amedrontados cidadão iraquianos?

Leiam tudo aqui
SEMPRE LÚCIDO

Mário Soares declarou, esta manhã, na rádio: «Para se combater o terrorismo é preciso dialogar com as organizações terroristas. Não se pode pensar em matar todos os terroristas, isto não é possível».

Concordo plenamente.

Mário Soares é, assim, a primeira personalidade política de envergadura internacional a defender a tese do diálogo com as organizações terroristas.

Tenho razões para pensar que mais uma vez tem razão antes de tempo.

Primeiro vai apanhar “tareias” valentes de todos os “bombistas ideológicos” da direita (da direita troglodita à direita civilizada – aquela que Freitas do Amaral apelidou de pouco inteligente) e de alguns “equilibristas” da esquerda envergonhada (situados quer à esquerda, quer à direita).

No fim ver-se-ão forçados a dar razão a Soares. Tal como já aconteceu várias vezes no passado.

Não nos esqueçamos que aquando da invasão do Iraque, Soares manifestou-se contra esse acto declarando: «É um erro! Fazer a guerra é fácil; difícil vai ser fazer a paz».

Tinha ou não razão?

quarta-feira, março 17, 2004

Nota:

Com a devida vénia colho esta posta do "Causa Nossa":

[Segundo a BBC News:]

«Along with Spain, the closest European allies of the US over Iraq and its strategy against terrorism are Britain, Denmark, Italy, Poland and most of the other eastern European countries which will join the European Union in May.»

Isto vem clarificar ainda mais aquilo que vimos dizendo: Portugal não conta nada na luta anti-terrorista. Mesmo naquela luta anti-terrorista baseada na mentira.

Não Conta e ponto final.
EM BICOS DE PÉS (Ridículo até não mais)

Barroso continua a pensar que o povo é burro. Tal como Aznar, há-de ter a resposta popular a toda esta demagogia.

Lido no Público de hoje:

«O primeiro-ministro, Durão Barroso, afirmou hoje que a realização da Cimeira das Lajes, nos Açores, onde se decidiu a intervenção no Iraque, foi uma "decisão acertada", sublinhando que Portugal sozinho não consegue combater o terrorismo».

E acrescentou: «Foi uma decisão acertada. Portugal deve pensar na luta global contra o terrorismo. Nós para lutarmos contra o terrorismo precisamos de ter aliados».

Esta declaração, como se vê facilmente, é para enganar papalvos. Faz crer que Portugal, para além de estar incluído (como todos os restantes países do planeta, aliás) na ameaça global do terrorismo, pertenceria ao grupo restrito dos alvos principais do terrorismo internacional. Só assim se entenderia que precisasse de aliados para combater o terrorismo. Pura mentira: Portugal, pela sua insignificância política, económica, estratégica e militar, nunca teve “categoria” para ser alvo de coisa nenhuma desse género.

O que Durão fez nas Lajes, na denominada Cimeira da Mentira (de que foi anfitrião e não parte integrante), foi armar-se em anti-terrorista primário empurrando tudo e todos para poder ficar na fotografia ao lado de Bush, Aznar e Blair, no que teve o tremendo azar de não aparecer em nenhuma fotografia publicada na imprensa estrangeira e em nenhuma reportagem televisiva exibida nas televisões de maior audiência internacional. Os próprios fotógrafos e camaramen encarregaram-se de o pôr fora dos "bonecos" tirados nas Lajes.

Agora que perdeu o seu "amigo" Aznar; agora que está em vias de perder o seu "conhecido" Bush; e sabendo-se que nunca foi prezado por Blair; vê o chão fugir-lhe debaixo dos pés e toca de dizer baboseiras para consumo interno como se os Estados Unidos, a Grã Bretanha, e mesmo a Espanha alguma vez levaram a sério que eram (imagine-se) aliados de Portugal na luta anti-terrorista.

Portugal, até agora, tem estado ameaçado por apenas dois terroristas (um continental e outro insular): Avelino Ferreira Torres e Alberto João Jardim.

E para ambos tem GNRs barrigudos que cheguem para educadamente os acalmar e mostrar ao mundo a destresa destes militares na luta anti-terrorista.

domingo, março 14, 2004

UFF… QUE ALÍVIO!…



Durão Barroso declarou à comunicação social: «Não há razão para alarme em Portugal».

A TSF noticia: «O primeiro-ministro Durão Barroso tranquiliza os portugueses, dizendo que não há razão para alarme em Portugal. No entanto, sublinha que nenhum estado pode garantir a segurança total em caso de atentados terroristas».

Com esta notícia da TSF fiquei tranquilíssimo da Silva, garanto-vos. Felizmente que temos um Primeiro-Ministro que dialoga e negoceia com a Al-Qaeda para que esta organização terrorista deixe em paz Portugal e os portugueses apesar do apoio dado pelo Governo português à invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a Grã Bretanha.
TREMENDAMENTE EDIFICANTE
(Se não fosse uma autêntica chacota)

Nunca se falou aqui de Santana Lopes senão para nos rirmos e descontrairmo-nos. A última vez que lhe demos atenção foi quando ele enviou um postal de agradecimentos a Machado de Assis, escritor brasileiro falecido no longínquo ano de 1908, no século passado.

Hoje voltamos a dar-lhe atenção pois pretende controlar os “copos” aos trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, de que é presidente, mas a norma a aprovar exclui que se controlem as bebedeiras dele e dos seus vereadores.

A notícia vem hoje no Público e eis um resumo:

Testes de Alcoolémia para Trabalhadores e Chefias
Deve estar concluído na próxima semana um regulamento interno de prevenção e controlo do consumo excessivo de álcool da Câmara de Lisboa. Caso seja aprovado, os mais de dez mil trabalhadores da autarquia vão passar a ser sujeitos a testes de alcoolémia. Vereadores e presidente da câmara estão excluídos da medida
.

sábado, março 13, 2004

UMA QUESTÃO DE FÉ

É de um descaramento inqualificável o Abrupto (ele próprio, ou através da publicação de cartas dos "seus leitores") verberar a esquerda que, no seu dizer, distorce intencionalmente a verdade sobre a autoria do atentado de Madrid no sentido de responsabilizar a Al-Qaeda e assim estigmatizar o PP espanhol, Aznar e o seu governo desejando por isso que sejam penalizados domingo próximo nas urnas; quando afinal o Abrupto e os "seus leitores" não fazem senão o mesmo de que acusam a esquerda de estar a fazer, só que invertendo o sinal: «não foi, não senhor, a Al-Qaeda. Foi, sim senhor, a ETA e por isso os eleitores espanhóis vão prendar o PP espanhol com uma grande votação e partir assim os dentes à esquerda ideologicamente terrorista» – pensam e dizem por meias palavras.

O Abrupto está em vias de cometer em relação ao atentado de Madrid o mesmo erro colossal que cometeu em relação à invasão do Iraque: no Iraque não teve dúvidas de que havia toneladas de Armas de Destruição Massiva (foi o que se viu); em Espanha, não tem dúvidas de que foi a ETA a autora do atentado (depois se verá).

É uma questão de fé? será uma posição “clubística”? ou estamos perante uma toleima incompreensível (mais uma) praticada por JPP nesta sua crescente cruzada contra a esquerda?
MADRID EM LISBOA SERIA O CAOS



Sobre os atentados terroristas havidos em Madrid o Sr. Primeiro Ministro de Portugal declarou ontem: «Portugal está a “equacionar” o risco de um ataque dessa natureza no nosso país».

Salmoura não duvida de que essa “equação” esteja a ser concebida. Está na natureza do governante português “estudar”, “equacionar”, “diagnosticar”, “planear”. Em suma: está na natureza do governante português sonhar. Isso sabemos todos. Mas o que não está na natureza do governante português é executar cabalmente e a tempo. O governante português, quando executa, a maior parte das vezes executa mal e a más horas. Sempre depois da desgraça (os exemplos da ponte de Entre os Rios e da passagem pedonal no IC19, para só citar as mais recentes desgraças, são elucidativos).

Salmoura não tem dúvidas de que essa “equação” existe. Mas também não tem dúvidas de que essa “equação” não tem sustentação material (ia escrever a mínima sustentação material).

Os hospitais centrais portugueses têm carência de quase tudo o que é essencial para acorrer a uma situação de catástrofe como foi o de Madrid. Carências materiais e carências de pessoal.

Em primeiro lugar a falta de macas é gritante. Que o digam os doentes que em períodos normais acorrem às urgências hospitalares e são obrigados a permanecerem sentados quando deviam estar deitados; a quem por vezes não resta outra alternativa senão sentar-se no chão (é verdade!) e esperar pacientemente a sua vez de ser atendido.

– Alguém tem dificuldade em imaginar como se acomodariam os feridos num atentado, que fossem levados a um hospital português? Basta dizer que a urgência de um dos hospitais centrais de Lisboa dispõe de apenas duas cadeiras de rodas funcionais para transportar doentes!… Esclarecedor, não é? Pensem só como se faria o transporte de dezenas de feridos para serem radiografados, por exemplo. Seriam arrastados pelos corredores? E por quem? (é que a falta de pessoal nos hospitais é gritante).

Mas quem fala em macas e em cadeiras de rodas fala, por exemplo, em lençóis, em cobertores e em botijas de água quente. Tudo coisas que faltam na realidade; coisas que parecem de somenos mas que são essenciais em casos como este que o Sr. Primeiro Ministro diz estar a “equacionar”.

Para encurtar razões falemos então do mais essencial; falemos do pessoal: dos profissionais sem os quais não vale a pena haver hospitais e sem os quais, havendo hospitais, não há assistência.

Não é segredo para ninguém: falta pessoal nos Serviços de Saúde. Faltam médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e auxiliares. Faltam todos. Isto é dito todos os dias nos jornais e na televisão (felizmente e finalmente que já falam no assunto). Esperemos que os portugueses vão tendo a noção da catástrofe que isso pode vir a provocar num futuro não muito distante para que saibam como tratar este Governo quando se realizarem novas eleições.

Mas o que mais falta é o pessoal qualificado. Não há profissionais qualificados em número suficiente (mesmo para as necessidades correntes), hoje em dia, nos hospitais portugueses. E se porventura ocorresse em Portugal um atentado da envergadura do de Madrid seria o caos total nos hospitais portugueses.

E não vale a pena estarmos com subterfúgios e com paninhos quentes. Há que nomear os responsáveis maiores por este estado de coisas e pelo condicionamento do futuro dos cuidados de saúde em Portugal.

Existe um Ministério da Saúde. Existe uma Unidade de Missão (para a Saúde); existem as administrações dos hospitais SA. Existe, em suma, uma vasta “equipa laranja” cuja acção tem sido desmantelar o Serviço Nacional de Saúde em favor dos privados mas sem garantir a manutenção do acesso de todos os portugueses aos cuidados de saúde e sem manter o nível qualitativo dos mesmos. As principais acções em curso visam: “emagrecer” o quadro de pessoal dos hospitais através de vários estratagemas que passam, por exemplo, por criar dificuldades e desconsiderações várias para que o pessoal competente e que ainda “emperra” o programa de desmantelamento em curso se vá embora (peça licença sem vencimento, peça a reforma antecipada) e deixe campo livre para a contratação de substitutos oriundos do estrangeiro e do falso desemprego médico e de enfermagem nacionais, artificialmente criado através da extinção na prática das vagas antes existentes nos quadros hospitalares, substitutos esses pagos ao preço da uva mijona (o preço/hora é por vezes igual – repito, igual – ao de uma mulher-a-dias) e com contratos individuais de trabalho com cláusulas inconstitucionais e sem quaisquer perspectivas de futuro. O que faz com que mesmo estes profissionais contratados a baixo preço não se fixem nos serviços, saltitem de hospital em hospital em busca de melhores contratos, não adquiram hábitos “saudáveis” de trabalho, não estudem nem investiguem, e – pior que tudo – se vão transformando inadvertidamente em autênticas mercadorias (não queria dizer a palavra mas vou dizer: em autênticos mercenários).
Se somarmos a tudo isto a perspectiva da privatização dos Centros de Saúde, então teremos a «Reforma da Saúde» em todo o seu esplendor:

Desmantelar, desmantelar, desmantelar.
Privatizar, privatizar, privatizar.

E os pobres (e a classe média também, qualquer dia) que se lixem.

Que todos os santos nos protejam de haver um atentado em Portugal.

domingo, março 07, 2004

PARABÉNS AO ABRUPTO



Às 02:43 desta Última madrugada, altura em que o seu autor (bem disposto, supomos) nos desejou um "Bom Dia", apareceu no Abrupto, o primeiro nu: "Nu Deitado" (do pintor Egon Schiele)

Não percam esta entrada promissora de JPP nos domínios da sensualidade explícita.

Salmoura que desde há muito vem exibindo, segundo os seus detractores pura pornografia, segundo o próprio algumas (muitas) fotografias artísticas de nus (de proveniências que Salmoura revelará mais tarde - daí a não identificação da fonte, por enquanto), congratula-se com esta estreia do "Abrupto" e aguarda o dia em que naquele blogue aparecerão as primeiras fotografias de nus - sinal certo, então, de que JPP terá descido finalmente ao mundo imperfeito dos pecadores por onde passamos todos antes de esticarmos o pernil.

sábado, março 06, 2004

PALAVRA DO SENHOR?

Sábado é dia de postar. E Salmoura, que pouco produz (palavra de um ministro desorientado, mas que sabe orientar-se), vai trabalhar 24 horas. Só para se desenferrujar. Claro.

quarta-feira, março 03, 2004

REGRESSEI E A NOVIDADE É “SAÚDE”

Finalmente regressado de umas excelentes férias em Cabo Verde, eis que Salmoura está de volta à blogueação.

Mas antes de começar a postar permitam que vos diga qual foi a primeira notícia que Salmoura escutou depois destes quinze dias sem jornais, rádio, televisão e internet:

Nada mais nada menos que a conferência de imprensa dada ontem pela FENAM (Federação Nacional dos Médicos) que arrasou completamente a mais que desastrosa Política de Destruição Maciça do Serviço Nacional de Saúde encetada há dois anos pelo governo do PSD/PP. (Desculpe lá, caro Dr. Pacheco Pereira, mas não tenho outra palavra senão “arrasar”, palavra esta de que sei que não gosta mesmo nada, para classificar o conteúdo dessa conferência de imprensa).

Se somarmos as análises e as denúncias da FENAM às preocupações expressas já muitas vezes pelo Senhor Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, e àquilo que têm escrito alguns jornalistas mais corajosos (que já vão aparecendo) como, por exemplo, Cáceres Monteiro, director da revista Visão, e algumas personalidades independentes que se têm manifestado em diversas ocasiões, veremos que há toda uma grande preocupação com as negríssimas perspectivas quanto ao futuro dos cuidados de saúde que vão deixar de ser prestados à maioria dos portugueses (sobretudo aos mais pobres e necessitados), preocupação essa que se alastra hoje, no seio da sociedade portuguesa (e ainda bem que assim é), como fogo em campo de seara seca.

Salmoura poderia ir buscar agora algumas postas antigas que caíram aqui em baixo no fundo do poço para demonstrar toda a razão que lhe assistiu quando postou da forma como o fez contra a má gestão dos hospitais SA, contra a má política de saúde do governo e denunciou os indícios claros de favorecimentos de interesses privados no campo da saúde em flagrante prejuízo do interesse público que caberia ao governo defender. Mas Salmoura não vai fazer esse exercício muito querido da classe política que lhe permitiria dizer: como eu já dizia

O que Salmoura quer é continuar, sem desfalecimentos, a contribuir para pôr os nomes aos bois e a mostrar que o rei vai nu.

Boa noite.