sexta-feira, março 26, 2004

E O CÃO MORDEU O OSSO

Por outras palavras, José Manuel Fernandes, director do jornal Público (o blogue dele), “mordeu” as declarações de José Saramago.

Falando sobre o livro que agora publicou, “Ensaio Sobre a Lucidez”, José Saramago, prémio Nobel, disse que o livro tem por finalidade fazer pensar e discutir a democracia em que vivemos no Ocidente, pois que lhe encontra fragilidades várias, em que o domínio (a dominação, sejamos claros) da comunicação social (dos jornais e dos jornalistas) pelo poder económico e político é um dos grandes males, sendo um dos outros o sistema dos partidos como única forma admitida de manifestação organizada da vontade popular e nacional.

Tudo verdades claras aos olhos de qualquer um, mas, de facto, verdades não discutidas hoje em dia e a merecerem, sem quaisquer dúvidas, discussão profunda por parte da sociedade.

Ferido no seu orgulho de jornalista, escravo do poder económico e político que lhe “encomenda” sermões como o de hoje, JMF não gostou lá muito de ouvir o “uivo” de Saramago. E então, da sua tribuna no seu blogue "Público", toca de fazer um exercício malabarista com as palavras de Saramago para nos induzir a concluir que tudo o que Saramago disse no seu discurso, e provavelmente tudo o que escreveu neste seu último livro, “Ensaio Sobre a Lucidez”, não passam de desabafos de um comunista desiludido, não tendo, por isso, legitimidade para discutir nem a democracia em que vivemos, nem o sistema de partidos que temos.

E o engraçado de tudo isto é constatar que JMF, através dos seus editoriais no seu blogue ”Público”, afora a sua fé canina na justeza da política belicista de Bush e Blair, que enaltece pacoviamente todos os dias (tentando com isso converter pacóvios a segui-lo na sua devoção fundamentalista pela guerra preventiva), mais não tem feito que mostrar a sua profunda desilusão pelas posições democraticamente tomadas pelos países (o mundo quase todo) que se opõem à invasão e ocupação do Iraque, partindo dessa sua desilusão para a discussão sistemática do funcionamento da democracia nesses países.

No fundo, o democrata JMF, que questiona, todos os dias, à sua maneira, o funcionamento da democracia, nega a Saramago o direito democrático de discutir a Democracia pela razão única de Saramago ser um comunista inveterado, incapaz (no pensar bushiano de JMF) de poder trazer novas ideias à sociedade.

Concordando plenamente com JMF quando ele diz que «os homens não são cães», fico a pensar por que é que certos homens manifestam fidelidades caninas em relação ao poder e a outros homens (como a Bush, por exemplo).

Não ignoremos a máxima do «Livro das Vozes»:

«Uivemos, disse o cão.»