HOJE VAI SER DE ARROMBA
Hoje há muita coisa para se comentar na TV.
Quando os jornalistas, eles próprios, passam a ser notícia, temos acontecimento sério e da maior importância a exigir a atenção não só do país mas do mundo inteiro.
É por isso que hoje à noite, nos telejornais, os comentadores de serviço não vão poder fugir a dar-nos a sua opinião sobre o magno problema que envolveu um jornalista da TSF e uma da SIC em terras iraquianas.
Carlos Raleiras, jornalista da TSF, foi ontem libertado a 7 (sete) quilómetros da fronteira do Kuwait «em pleno deserto» como anda a dizer a TSF em cada noticiário em que um iraquiano bondoso nos conta (para que gravemos na memória para sempre), que Carlos «lavou-se, comeu pão, ovos» e não sei que mais, e que é um good guy. Tudo revelações que merecem repetição exaustiva, a cada trinta minutos, nos noticiários daquela estação emissora.
Mas o mais importante está para acontecer logo mais.
É que a heroína portuguesa, a nova padeira de Aljubarrota, Maria João Ruela, jornalista da SIC, que levou um tiro no rabo, chega hoje a Portugal num avião expressamente enviado ao Médio Oriente pelo Governo Português para transportar até Lisboa a nossa heroína de rabo furado.
Digam lá se Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes e Pacheco Pereira não vão ter que nos explicar, sob os mais variados e complexos ângulos, o que determinou e condicionou esse magno acontecimento e quais as enormes consequências que daí advirão para a Humanidade.
Hoje temos que ter os olhos e ouvidos pregados às televisões para bebermos cada palavra dos nossos comentadores.
Com uma secreta esperança:
Que Pacheco Pereira, fazendo algo semelhante àquilo que ele achou que o representante do Governo que estiver hoje na inauguração do Estádio do Dragão, no Porto, deveria fazer (correndo o risco de uma vaia ou coisa pior) – «lembrar que aquilo foi construído com dinheiro dos contribuintes» – lembrasse à SIC que, à parte o problema pessoal de Maria João Ruela, todo o espectáculo que se tem montado à volta deste (não) assunto é deprimente, provinciano, injustificado e de um ridículo tão confrangedor quanto pacóvio. E que o envio de um avião, pago com o dinheiro dos contribuintes, por parte do Governo, para ir buscar a jornalista, é uma decisão inqualificável própria de um país do terceiro mundo.