Agora é o próprio que se vos apresenta:
«O meu nome é Joseph Ferdinand Gould, formado em Harvard, magna cum difficultate, curso de 1911, e presidente do Conselho de Administração de Boa & Má Sorte, SARL. Em troca de uma bebida, posso recitar-lhe um poema, fazer um discurso, defender uma tese ou tirar os sapatos e imitar uma gaivota. Prefiro gin, mas uma cerveja também serve.»
Apresentado que está o personagem, posso-vos garantir que Joe Gould, de quem sou amigo desde a última madrugada, me disse «por norma desprezo o dinheiro» e que é raro ter nos bolsos mais que um dólar.
Certa vez recebeu uma herança que esbanjou em poucos dias. Fez uma coisa que lhe deu uma grande satisfação. Comprou um rádio enorme, todo brilhante, levou-o para a Sexta Avenida e desfê-lo aos pontapés. Nunca ligou à rádio. «Cinco minutos de paleio idiota que sai dessa engenhoca», terá dito, «eram o bastante para dar volta ao estômago de uma cabra».
Gould pediu uma vez, numa Noite de Poesia Religiosa, autorização para dizer um poema que tinha escrito e que se intitulava "A Minha Religião". Deram-lhe a autorização e então Gould recitou:
E no Verão sou nudista.
E agora vou trabalhar. Não posso ficar aqui a noite toda a contar-vos a história de Joe Gould. Comprem o livro se quiserem saber mais. Uma boa noite é o que vos desejo.