COM A BEXIGA PELO QUEIXO
Conheço um senhor com setenta e tal anos que, para além do reumático, tem uma hérnia inguinal, sofre da próstata e não quer deixar-se operar por nada deste mundo. Anda permanentemente algaliado e do seu dia a dia conta histórias (algumas verídicas) de fazer chorar as pedras da calçada a ver se consegue que se condoam dele e lhe dêem alguma ajuda «para atenuar esta miséria de vida».
Sempre que posso dou-lhe algum dinheiro, e como sou defensor do consumo de bebidas alcoólicas para cura de todos os males do espírito e de alguns males do corpo, é com gosto que recebo a censura dos "vizinhos" desse meu velhote que fartam-se de queixar que faço mais mal ao velho dando-lhe dinheiro do que se lhe recusasse uma sandes, um copo de leite, ou uma manta no Inverno, pois, «ele mete-se na primeira taberna e só sai de lá quando estiver completamente bêbado».
O que não sabem esses "vizinhos" é que o velhote me alegra contando as suas façanhas de quando está com os copos dizendo quase sempre no fim «tirei a porcaria da algália e aquilo foi uma daquelas de pôr o mundo a tremer» para concluir «depois chamei a ambulância e, ti-nó-ni, lá fui eu parar ao hospital preso de "orinas" e com a bexiga a chegar-me ao queixo». Conclui invariavelmente a narrativa com um suspiro para logo me dizer «e como vamos hoje de finanças, hein amigo?»