A PALAVRA AO LEITOR
Este blogue, sendo de esquerda, não desdenharia ser uma caixa de ressonância contra a direita. Houvesse tempo para publicar todos os textos dos seus leitores, cumpriria essa missão. Mas Salmoura não ficaria de bem com a sua consciência se, hoje, em pleno Abril, próximo já do mítico dia 25 da nossa libertação do fascismo, não desse a palavra a um leitor que expressamente lha pede para dizer o que pensa do “R” que tão leviana e pateticamente a coligação no poder pretende roubar à Revolução.
Salmoura, que no passado se sentiu na necessidade de publicar opinião noutro blogue, no caso o Bolg de Esquerda, sabe como é importante termos um espaço de opinião onde possamos exprimir o nosso pensamento.
Eis, pois, (sem editing ou corte) o texto integral do nosso leitor:
«Foi um Erre que lhe deram e tiraram...
Era uma vez um Erre com letra grande. Um Erre que lhe deram e que ainda hoje faz eco nas imensas pracetas da memória portuguesa. Já sem este Erre que lhe tiraram tudo transpira a uma limpeza linguística. Evolutiva, por certo! O sentido é o de um outro tempo. O que lhe damos, não há outro. Como não haverá um outro Abril. Desta vez será talvez um novo Maio ou porventura um Agosto ainda mais quente! A revolução vista à luz desta sucessão natural dos acontecimentos é agora marcadamente global. O marco virou marca. Uma audaz marca que um dedo mais direitinho transformou num simples produto já pronto a consumir numa qualquer outra história deste povo. Não passa de um erre disfarçado de um moderno simulacro semântico? A evolução da realidade mostra-nos o efeito das mensagens destes génios da criatividade. Carregam-se como armas perfeitas. Leves e letais nas mãos de uns quantos tubarões assinalados prontos para assassinar o conceito de uma revolução ocorrida no que resta desta ocidental praia lusitana . Ou o que sobra desta fraca memória de um par(t)-ido Abril. A revolta não vem da evolução da gramática política. Sabemos que a economia de hoje se estende também às palavras. São as marcas escondidas debaixo das saias do espectáculo mediático. Até um determinado dia em que o cír-cu-lo político faz magicamente cair a revolução recorrendo a uma espécie de espiral estilística. Sempre pronta a inovar e reformar. A resposta não tardará! A liberdade ainda é nossa! Saem da escola de uma média política, sempre prontos para liquidar contas com um passado que lhes está atravessado há trinta anos na garganta.
O 25 de Abril é e será sempre a marca de uma Revolução!
Por mais que lhe tentem apagar o Erre!
A história deste erre (foi um ar...) que lhe deu começa com um unido compromisso. Prometeram jurar e jurar sempre pela sua honra que tal coligação política seria sempre oportuna e totalmente desinteressada. Nas intermináveis gavetas de um raro modo de persuasão, procuravam-se alguns célebres exemplos em tom de uma dita tempestade cerebral.
Um florista olha para os seus cravos murchos! Fica corado! Será plausível poder ouvi-lo gritar bem alto a cor de tamanha vergonha em todas as ruas? Já não há cravos vermelhos plantados neste jardim! É isso que temos de lhes mostrar. Tudo evolui. Até nós!!!
“Só neste país!”
A vida deve ser enfrentada sem ter medo de quaisquer erres e outros erros. A verdade e a mentira são amásias siamesas que nos aliciam até ao rubro. Foi um erre que lhe deu e pronto... Temos de fazer render o fruto não derramado por este pequeno esforço e que nem mancha uma pinga de sangue. Começaremos por anunciar a nossa marca: “25 de Abril é evolução” Uns quantos meses antes para que aquelas cabecinhas se habituem. A fraca contestação será travada logo à nascença. Por alturas de –abrir- lança-se o slogan às massas. É preciso –Abril- estas mentalidades. Só uma perspectiva aberta como a nossa é que permite abortar com toda a seriedade as campanhas desta nossa longa história de domínio secular.
Bravo, bravo Doutor!
Chama-se evolução! A evolução também nasce com a revolução. A revolução é precisa, mas feita pelos outros produz efeitos imprevisíveis. Livremo-nos dessa maldita revolução! O povo deste país não está à espera que haja uma D-evolução!
Perdi o sinal, Doutor! Agora é global! A operação foi bem sucedida! Foi socialmente apagada! Isso quer dizer que a revolução está morta!? Sim, doutor! Tal como havíamos combinado. É a economia democrática da vida. A evolução natural da história. Este facto não pode nunca ser contestado!
Isto "só neste país” é que o degrau de uma tal cultura permite uma pura operação de retoque com uma estratégia assente no signo da extrema emoção.
Isto "só neste país” é que um pequeno défice rectangular se pode traduzir numa forma geometricamente evoluída, porque esta política é que é quadrada.
Isto "só neste país” é que é possível investir os rios da fortuna pública numa camuflada manobra política.
Este reescrever natural da história ficará nos cadernos riscados desta jovem democracia. A seu bel prazer a artilharia que nos pesa esconde-se sem dar a cara. Mas todos os conhecemos bem. Dominam na perfeição esta eficaz máquina que dita a falência de um Estado já sem graça ocidentalmente instituído.
Podemos procurar entender o lado publicitário da coisa em si. Mas não queremos, obrigado! Temos um produto que não só não vende directamente, como joga levianamente com uma certa razão. Ou não. Mas se uma força ou partido político, ou pior ainda, se forem logo a dobrar, não só se entrega à lógica deste mercado, como cegamente se gabará de tamanho feito entre nobres corredores e escuros gabinetes, para depois chegar ao cúmulo de nos impingir um produto que não vem identificado e que muito menos tem voz num espaço de direito de antena assim devidamente assinalado, então este gesto da mais fina propaganda só pode ter um outro nome: foi um Erre que lhe deram e tiraram.
JBV (João Bruno Videira)»