sexta-feira, abril 30, 2004

NETMÉDICO (2)

Não se afigura minimamente ético que um médico “venda” conselhos por telefone a anónimos (não tem como identificar o interlocutor que está do outro lado) e promova assim um negócio, de que é parte interessada, a favor de uma companhia de telefone, no caso a Vodafone.

Por isso achamos que a Ordem dos Médicos deveria agir de imediato proibindo os médicos de aderirem ao sistema pois trata-se de um negócio que é promovido com a conivência de médicos e que resulta maioritariamente a favor da Nokia, da Vodafone e da empresa Netsaúde de Nuno Delerue.

E o mais triste, bizarro e incompreensível nisto tudo é que este negócio seja promovido activamente pelo Ministro da Saúde de Portugal.

O que é que o Ministério da Saúde de Portugal e o senhor Ministro da Saúde estão a fazer metidos nisto tudo?

É que o negócio, a merecer existir como coisa boa (não se vê como), poderia muito bem realizar-se entre as empresas envolvidas e os médicos, sem a necessidade da presença de tão “ilustres” promotores.

É uma vergonha para a classe médica e para o Governo de Portugal que este negócio terceiro-mundista se efectue e se implante impunemente na sociedade portuguesa.

Se os médicos estão dispostos a debitar conselhos a anónimos, pelo telefone, porque acham que assim estão a contribuir para melhorar a saúde dos portugueses, então que o façam de uma destas duas maneiras, por exemplo:

1) Façam-se pagar condignamente, por quem de direito, sem obrigar os doentes a pagarem também à Vodafone – por que carga de água haviam de o fazer? – e recebam os telefonemas nos seus telefones pessoais;

2) Ou então ofereçam gratuitamente esses conselhos aos doentes que deles necessitem.

O que se não admite é que os médicos participem neste negócio com o objectivo de diminuírem um pouco o peso da sua factura mensal de telemóvel não se importando que pelo meio hajam outros interessados que à pala vão sugando os doentes calmamente.

Isto é, no mínimo, uma autêntica vergonha para a classe médica!

De perda de dignidade em perda de dignidade, se assim se for concretizando, qualquer dia não admirará que os médicos comecem a ser tratados ao bofetão. Alguns têm-no sido já… e é muito bem feita!