CONVÍVIO MÉDICO
Hoje estava um grupinho de pessoal da Saúde reunido a um canto e num burburinho frenético chamando mais elementos para engrossarem aquela plateia de curiosos que estava a deliciar-se escutando o novíssimo toque polifónico de um telefone móvel de um médico que o exibia triunfante: pedia que lhe ligassem para o aparelho que ao despertar "dizia": chichi cocó, chichi cocó.
Foi mais um momento de convívio de alto nível cultural a que já estou habituado a assistir... felizmente de longe.
quinta-feira, julho 31, 2003
quarta-feira, julho 30, 2003
SANTANA LOPES ESCREVE A UM MORTO
Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, enviou um cartão a Machado de Assis, escritor brasileiro falecido em 1908. Vejam toda a história no post 076 de Textos de Contracapa
Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, enviou um cartão a Machado de Assis, escritor brasileiro falecido em 1908. Vejam toda a história no post 076 de Textos de Contracapa
SEM COMENTÁRIOS
Esta saiu hoje no jornal A Bola (também leio, também leio)
«Deficientes contestam lugares de borla atrás do ecrã»
«Arrumados na arrecadação como cidadãos de segunda»
«Arrumados como objectos numa arrecadação. Esta medida do Sporting pode parecer grandiosa mas não tenho dúvidas de que estamos perante uma solução de recurso face a erros no projecto do recinto. Soa a esmola. Apetece-me sugerir ao Benfica, em cujo estádio haverá zonas em que o tecto está mais baixo, que ofereça esses lugares aos anões, cidadãos atacados pela artrose ou políticos pequeninos. Ou então às marcas de electrodomésticos que façam televisores só com som».
Esta saiu hoje no jornal A Bola (também leio, também leio)
«Deficientes contestam lugares de borla atrás do ecrã»
«Arrumados na arrecadação como cidadãos de segunda»
«Arrumados como objectos numa arrecadação. Esta medida do Sporting pode parecer grandiosa mas não tenho dúvidas de que estamos perante uma solução de recurso face a erros no projecto do recinto. Soa a esmola. Apetece-me sugerir ao Benfica, em cujo estádio haverá zonas em que o tecto está mais baixo, que ofereça esses lugares aos anões, cidadãos atacados pela artrose ou políticos pequeninos. Ou então às marcas de electrodomésticos que façam televisores só com som».
PACHECO PEREIRA – GINJINHA OU ARSÉNICO?
Decorria a campanha para umas eleições presidenciais. Eu estava em Macau e resolvi apoiar uma candidatura pelo que enviei um e-mail a um dos coordenadores do "site" do candidato respectivo. Em nota de rodapé brinquei um bocadinho confessando-me saudoso do programa "flash back" da TSF e admitindo que talvez fosse pela falta que as opiniões de JPP me faziam.
Na volta do correio electrónico recebo o agradecimento do apoio e, também em nota de rodapé, lá vinha na mensagem isto: «O PP (Pacheco Pereira) é uma instituição nacional; é como a ginjinha ou o arsénico. Pick your choice».
Cometo hoje, a largos anos de distância, esta inconfidência para partilhar com o leitor amigo o "espírito" da frase. Mas também para dizer uma coisa: para além da pequena malícia contida na frase, há nela uma verdade que se vem afirmando consistentemente – JPP vem "independentizando-se" politicamente e afirmando-se intelectualmente ao longo do tempo, e hoje, se não é uma instituição nacional, é certamente um sério candidato a senador do País –. Honra lhe seja feita.
Apenas uma fraqueza de certo vulto lhe aponto (mas quem é perfeito para todos?): a tese dele sobre a invasão do Iraque não há meio de se ver confirmada – antes muito pelo contrário – e aguardamos a prometida reanálise da mesma.
Decorria a campanha para umas eleições presidenciais. Eu estava em Macau e resolvi apoiar uma candidatura pelo que enviei um e-mail a um dos coordenadores do "site" do candidato respectivo. Em nota de rodapé brinquei um bocadinho confessando-me saudoso do programa "flash back" da TSF e admitindo que talvez fosse pela falta que as opiniões de JPP me faziam.
Na volta do correio electrónico recebo o agradecimento do apoio e, também em nota de rodapé, lá vinha na mensagem isto: «O PP (Pacheco Pereira) é uma instituição nacional; é como a ginjinha ou o arsénico. Pick your choice».
Cometo hoje, a largos anos de distância, esta inconfidência para partilhar com o leitor amigo o "espírito" da frase. Mas também para dizer uma coisa: para além da pequena malícia contida na frase, há nela uma verdade que se vem afirmando consistentemente – JPP vem "independentizando-se" politicamente e afirmando-se intelectualmente ao longo do tempo, e hoje, se não é uma instituição nacional, é certamente um sério candidato a senador do País –. Honra lhe seja feita.
Apenas uma fraqueza de certo vulto lhe aponto (mas quem é perfeito para todos?): a tese dele sobre a invasão do Iraque não há meio de se ver confirmada – antes muito pelo contrário – e aguardamos a prometida reanálise da mesma.
terça-feira, julho 29, 2003
(De um e-mail enviado aos autores de O Projecto)
Penso ser de divulgar blogues de autores que estão fora do mundo circular dos "letrados" para que os leitores percebam que há outras formas de encarar e reflectir o mundo, o Homem e a (sua) vida; romper a muralha de palavras com que às vezes somos cercados para libertar sentimentos, gestos, formas, cores, texturas; aliar a escrita à arte para glorificar a Natureza e dar sentido à Vida. Em suma: mostrar toda a riqueza que se pode obter da diversidade.
Penso ser de divulgar blogues de autores que estão fora do mundo circular dos "letrados" para que os leitores percebam que há outras formas de encarar e reflectir o mundo, o Homem e a (sua) vida; romper a muralha de palavras com que às vezes somos cercados para libertar sentimentos, gestos, formas, cores, texturas; aliar a escrita à arte para glorificar a Natureza e dar sentido à Vida. Em suma: mostrar toda a riqueza que se pode obter da diversidade.
MUITO OBRIGADO
Salmoura nunca pediu a ninguém que o "linkasse". Mas fica triste por ver-se a pertencer a um enormíssimo gueto de blogues. E confessa esta fraqueza que combate diariamente com afinco e com trabalho.
Hoje, contudo, Salmoura rejubila pois foi "linkado", voluntariamente, pelo blogue O Projecto [Ideias totalmente avulsas sobre arquitectura e cidade(s)] que teve a gentileza de escrever isto:
«Antes de ir de férias (e outros afins) convém fazer mais uns links. Uns novos, outros por esquecimento, outros simplesmente porque sim. Aí estão o THOMAZ vs CUNHAL, A Sombra, o Salmoura, O Comprometido Espectador e o Diários de Lisboa. Tudo boas leituras.»
Salmoura devolve a imerecida vénia a O Projecto linkando-o e abstendo-se de lhe dar por ora o merecido elogio para fugir à lógica do toma-lá-dá-cá. Mas sempre vai dizendo ao leitor amigo: não leia só aqueles que sabem escrever porque são do campo das letras; leia também textos de técnicos, de pessoas de outros ramos do saber e de outras artes – arquitectura, medicina, engenharia, etc. –, podem ser por vezes obtusos mas trazem inovação no modo de dizer e de ver as coisas e a vida. E se quiser deliciar-se com belas imagens (quadros ou fotografias) visite a Montanha Mágica e passeie vagarosamente por O Projecto. E se ainda lhe restar tempo visite Salmoura porque aqui também gostamos de arte. Embora a nossa arte seja outra de que não falamos (pelo menos por enquanto). Por recato e por pudor, por humildade verdadeira.
Salmoura nunca pediu a ninguém que o "linkasse". Mas fica triste por ver-se a pertencer a um enormíssimo gueto de blogues. E confessa esta fraqueza que combate diariamente com afinco e com trabalho.
Hoje, contudo, Salmoura rejubila pois foi "linkado", voluntariamente, pelo blogue O Projecto [Ideias totalmente avulsas sobre arquitectura e cidade(s)] que teve a gentileza de escrever isto:
«Antes de ir de férias (e outros afins) convém fazer mais uns links. Uns novos, outros por esquecimento, outros simplesmente porque sim. Aí estão o THOMAZ vs CUNHAL, A Sombra, o Salmoura, O Comprometido Espectador e o Diários de Lisboa. Tudo boas leituras.»
Salmoura devolve a imerecida vénia a O Projecto linkando-o e abstendo-se de lhe dar por ora o merecido elogio para fugir à lógica do toma-lá-dá-cá. Mas sempre vai dizendo ao leitor amigo: não leia só aqueles que sabem escrever porque são do campo das letras; leia também textos de técnicos, de pessoas de outros ramos do saber e de outras artes – arquitectura, medicina, engenharia, etc. –, podem ser por vezes obtusos mas trazem inovação no modo de dizer e de ver as coisas e a vida. E se quiser deliciar-se com belas imagens (quadros ou fotografias) visite a Montanha Mágica e passeie vagarosamente por O Projecto. E se ainda lhe restar tempo visite Salmoura porque aqui também gostamos de arte. Embora a nossa arte seja outra de que não falamos (pelo menos por enquanto). Por recato e por pudor, por humildade verdadeira.
domingo, julho 27, 2003
ASSALTO NO RIO DE JANEIRO
Aqui há uns anos houve um congresso médico no Rio de Janeiro. As mulheres dos congressistas, durante o dia, para se prevenirem dos assaltos, organizavam-se em pequenos grupos para visitarem a cidade.
Certo dia uma dama mais afoita, na impossibilidade de ser acompanhada, resolveu aventurar-se sozinha: saiu do hotel, apanhou o primeiro "ônibus" que lhe apareceu tendo cuidadosamente escolhido um lugar à janela, que lhe permitiu colocar a mala a bom recato entre o corpo e o autocarro.
Na paragem seguinte entrou um senhor com um ar muito suspeito que se sentou ao lado dela.
E não é que algumas centenas de metros mais à frente ela descobre que já não tem no pulso o relógio?...
Encheu-se de coragem e com toda a calma deste mundo abriu a mala, retirou uma lima de unhas bem forte que trazia consigo, espetou-a firmemente entre as costelas do ladrão, e enquanto apontava para dentro da mala aberta disse-lhe decidida ao ouvido – ponha aqui o relógio, e já! –; o ladrão nem pestanejou: deixou cair o relógio dentro da mala que a senhora fechou de imediato tendo o assunto ficado solucionado na maior discrição.
A senhora resolveu então regressar logo ao hotel pois não estava para correr mais riscos no Rio de Janeiro.
Quando entrou no quarto, entre furiosa e desencantada, contou logo ao marido o que lhe tinha acontecido; ao que este lhe respondeu – querida, o teu relógio está na casa de banho –.
Foi quando abriu, curiosa, a mala e constatou com surpresa que lá tinha dentro o relógio do senhor.
Aqui há uns anos houve um congresso médico no Rio de Janeiro. As mulheres dos congressistas, durante o dia, para se prevenirem dos assaltos, organizavam-se em pequenos grupos para visitarem a cidade.
Certo dia uma dama mais afoita, na impossibilidade de ser acompanhada, resolveu aventurar-se sozinha: saiu do hotel, apanhou o primeiro "ônibus" que lhe apareceu tendo cuidadosamente escolhido um lugar à janela, que lhe permitiu colocar a mala a bom recato entre o corpo e o autocarro.
Na paragem seguinte entrou um senhor com um ar muito suspeito que se sentou ao lado dela.
E não é que algumas centenas de metros mais à frente ela descobre que já não tem no pulso o relógio?...
Encheu-se de coragem e com toda a calma deste mundo abriu a mala, retirou uma lima de unhas bem forte que trazia consigo, espetou-a firmemente entre as costelas do ladrão, e enquanto apontava para dentro da mala aberta disse-lhe decidida ao ouvido – ponha aqui o relógio, e já! –; o ladrão nem pestanejou: deixou cair o relógio dentro da mala que a senhora fechou de imediato tendo o assunto ficado solucionado na maior discrição.
A senhora resolveu então regressar logo ao hotel pois não estava para correr mais riscos no Rio de Janeiro.
Quando entrou no quarto, entre furiosa e desencantada, contou logo ao marido o que lhe tinha acontecido; ao que este lhe respondeu – querida, o teu relógio está na casa de banho –.
Foi quando abriu, curiosa, a mala e constatou com surpresa que lá tinha dentro o relógio do senhor.
quinta-feira, julho 24, 2003
PIU-PIU
É sabido que os doentes esquizofrénicos têm a particularidade de condensarem frases inteiras em uma ou duas palavras.
Esta foi escrita ou dita – já não me lembro bem – por António Lobo Antunes:
“Havia no Hospital Júlio de Matos um doente que, sempre que determinado médico passava por ele, se punha a dizer em voz alta: piu-piu, piu-piu.
Certo dia o clínico resolveu interpelá-lo – ouve lá, oh fulano, o que é que você quer dizer com piu-piu, diga lá – ao que o doente lhe respondeu – puta que o pariu –."
É sabido que os doentes esquizofrénicos têm a particularidade de condensarem frases inteiras em uma ou duas palavras.
Esta foi escrita ou dita – já não me lembro bem – por António Lobo Antunes:
“Havia no Hospital Júlio de Matos um doente que, sempre que determinado médico passava por ele, se punha a dizer em voz alta: piu-piu, piu-piu.
Certo dia o clínico resolveu interpelá-lo – ouve lá, oh fulano, o que é que você quer dizer com piu-piu, diga lá – ao que o doente lhe respondeu – puta que o pariu –."
UMA AUTÊNTICA TRAGÉDIA. UM HORROR. 90%
Quando pergunto a um médico se tem Internet e ele me responde “não, não tenho”, penso logo: este é dos que só sabem falar do Sporting, do Benfica e do Porto; de gajas e de automóveis; de cifrões, patologias e terapêuticas. Mais nada. Nada de nada.
E raramente assim não é.
É de fugir! Garanto-vos.
E o pior é que são muitos, são muitíssimos assim.
E se falarmos em livros, então é que a coisa fica mesmo preta – atrevo-me a dizer que mais de 90%, pura e simplesmente, não lê – compram jornais desportivos e é um pau –.
Acreditem que é verdade. Façam um teste quando forem ao médico. Se saírem de lá com algo mais que uma chalaça já é muito bom. Muito bom mesmo.
Quando pergunto a um médico se tem Internet e ele me responde “não, não tenho”, penso logo: este é dos que só sabem falar do Sporting, do Benfica e do Porto; de gajas e de automóveis; de cifrões, patologias e terapêuticas. Mais nada. Nada de nada.
E raramente assim não é.
É de fugir! Garanto-vos.
E o pior é que são muitos, são muitíssimos assim.
E se falarmos em livros, então é que a coisa fica mesmo preta – atrevo-me a dizer que mais de 90%, pura e simplesmente, não lê – compram jornais desportivos e é um pau –.
Acreditem que é verdade. Façam um teste quando forem ao médico. Se saírem de lá com algo mais que uma chalaça já é muito bom. Muito bom mesmo.
quarta-feira, julho 23, 2003
INAUGURAÇÃO
Foi inaugurado mais um blogue em português. E cito-me: chama-se África Minha e destina-se por inteiro àqueles que de longe, das américas e de Cabo Verde, me lêm com regularidade aqui no Salmoura e não compreendem porque é que nada lhes digo sobre Cabo Verde e sobre África.
"África Minha" será por vezes ingénuo (muitas vezes propositadamente ingénuo) porque "África Minha", mesmo sendo apenas um blogue, é um pouco o berço onde o autor fará, às vezes, a sua regressão para se sentir inocente, santo e reconfortado. Por isso desde já peço as maiores desculpas aos intelectuais de serviço por irem encontrar lá abundante matéria para me baterem desalmadamente. Batam-me, mas com carinho porque lá serei sempre criança.
Foi inaugurado mais um blogue em português. E cito-me: chama-se África Minha e destina-se por inteiro àqueles que de longe, das américas e de Cabo Verde, me lêm com regularidade aqui no Salmoura e não compreendem porque é que nada lhes digo sobre Cabo Verde e sobre África.
"África Minha" será por vezes ingénuo (muitas vezes propositadamente ingénuo) porque "África Minha", mesmo sendo apenas um blogue, é um pouco o berço onde o autor fará, às vezes, a sua regressão para se sentir inocente, santo e reconfortado. Por isso desde já peço as maiores desculpas aos intelectuais de serviço por irem encontrar lá abundante matéria para me baterem desalmadamente. Batam-me, mas com carinho porque lá serei sempre criança.
CUIDADO COM AS CITAÇÕES
Aos poucos, aqui e ali pela blogosfera fora, mais ali que aqui, vão-se esboçando as “normas de conduta” para os blogueiros, vindas das cabecinhas pensadoras que temos todos que venerar.
A “Tábua da Lei” que, qual Moisés ,um dia alguém nos mostrará e nos tentará obrigar a cumprir, não tardará muito a aparecer. Para já é ponto assente que temos que ter muito cuidado com as citações. É proibido fazer demasiadas citações não vá isso banalizar os nomes dos autores citados. Se esta proibição não for voluntariamente acatada teme-se que se venha a obrigar o blogueiro citador a pagar royalties.
É impressionante a tendência natural que certos intelectuais têm para o conservadorismo mais serôdio. Ou então para a apropriação indevida de direitos sobre propriedade alheia.
Assim como a Aspirina foi parar ao supermercado dessacralizando a farmácia, assim também a Internet (com os blogues e tudo o resto que se lhe assemelha) veio dar voz aos marginalizados da escrita dessacralizando os jornais, as revistas, e, qualquer dia, também os próprios livros.
Como dizia o meu avô – de cada vez que tomava conhecimento de mais alguém detido pela PIDE – «O caminho para a liberdade é inexorável, meu neto». "Inexorável" – foi a primeira palavra "difícil" que me lembro de ter ouvido pronunciar. E lembro-me ainda como se fosse hoje –.
Aos poucos, aqui e ali pela blogosfera fora, mais ali que aqui, vão-se esboçando as “normas de conduta” para os blogueiros, vindas das cabecinhas pensadoras que temos todos que venerar.
A “Tábua da Lei” que, qual Moisés ,um dia alguém nos mostrará e nos tentará obrigar a cumprir, não tardará muito a aparecer. Para já é ponto assente que temos que ter muito cuidado com as citações. É proibido fazer demasiadas citações não vá isso banalizar os nomes dos autores citados. Se esta proibição não for voluntariamente acatada teme-se que se venha a obrigar o blogueiro citador a pagar royalties.
É impressionante a tendência natural que certos intelectuais têm para o conservadorismo mais serôdio. Ou então para a apropriação indevida de direitos sobre propriedade alheia.
Assim como a Aspirina foi parar ao supermercado dessacralizando a farmácia, assim também a Internet (com os blogues e tudo o resto que se lhe assemelha) veio dar voz aos marginalizados da escrita dessacralizando os jornais, as revistas, e, qualquer dia, também os próprios livros.
Como dizia o meu avô – de cada vez que tomava conhecimento de mais alguém detido pela PIDE – «O caminho para a liberdade é inexorável, meu neto». "Inexorável" – foi a primeira palavra "difícil" que me lembro de ter ouvido pronunciar. E lembro-me ainda como se fosse hoje –.
terça-feira, julho 22, 2003
BOLSA REANIMA COM FUNERÁRIAS A SUBIR
O “Público” noticia hoje:
Médicos falam em "colapso total dos cuidados de saúde primários em 2013"
A ser verdade, que grande notícia é para os “empresarializadores” da gestão dos serviços de Saúde que fervilham no governo, e sobretudo para as empresas privadas beneficiárias potenciais do colapso do Serviço Nacional de Saúde.
E também para as agências funerárias. Já agora…
O “Público” noticia hoje:
Médicos falam em "colapso total dos cuidados de saúde primários em 2013"
A ser verdade, que grande notícia é para os “empresarializadores” da gestão dos serviços de Saúde que fervilham no governo, e sobretudo para as empresas privadas beneficiárias potenciais do colapso do Serviço Nacional de Saúde.
E também para as agências funerárias. Já agora…
BLOGUES NA nTV
Estive há bocadinho a assistir a um pouco da conversa sobre blogues (que ainda decorre e vai durar um bom bocado, creio) que Francisco José Viegas levou ao programa "Livro Aberto", da nTV. Depois de uma primeira ronda pelos convidados, feita por FJV, dei comigo a recordar Raul Rego, já falecido, antigo director do extinto jornal “República”. Quem conheceu o personagem e quem lia os seus editoriais ficava sempre de boca aberta quando o ouvia falar: tinha imensa dificuldade em ser erudito a falar – tinha mesmo, muitas vezes, dificuldades de expressão verbal – mas escrevia que era uma beleza, muitas vezes com erudição assinalável.
Porque terei eu relacionado uma coisa com a outra, não sei. Há por aí alguém que tenha assistido ao programa e que queira tentar uma resposta?
Estive há bocadinho a assistir a um pouco da conversa sobre blogues (que ainda decorre e vai durar um bom bocado, creio) que Francisco José Viegas levou ao programa "Livro Aberto", da nTV. Depois de uma primeira ronda pelos convidados, feita por FJV, dei comigo a recordar Raul Rego, já falecido, antigo director do extinto jornal “República”. Quem conheceu o personagem e quem lia os seus editoriais ficava sempre de boca aberta quando o ouvia falar: tinha imensa dificuldade em ser erudito a falar – tinha mesmo, muitas vezes, dificuldades de expressão verbal – mas escrevia que era uma beleza, muitas vezes com erudição assinalável.
Porque terei eu relacionado uma coisa com a outra, não sei. Há por aí alguém que tenha assistido ao programa e que queira tentar uma resposta?
domingo, julho 20, 2003
ATENÇÃO, BLOGUEIROS
Com tempo dilatado hoje, andei um pouco mais que habitualmente pela blogosfera a farejar uma variedade grande de blogues sem seguir qualquer critério: abria a lista, apontava ao acaso e lá ia eu… e fiquei no fim da ida com a impressão de que andam no ar ventos fortes tentando limpar o pó sujo que blogueiros menos letrados que os sopradores dos ventos estão a atirar à blogosfera poluindo-a vergonhosamente. PRD já quis legislar sobre a blogosfera por motivos diferentes; agora são outros os candidatos a domadores e seleccionadores. Esta coisa de dar voz a toda a gente – mesmo quando só quem quisermos ler é que lemos – é uma chatice de todo o tamanho para certas elites intelectuais. Que não evitam a contradição evidente que é o facto de que gostariam que todos lêssemos muito para lhes chegarmos aos calcanhares, mas não querem que digamos ou mostremos que lemos porque isso é “tarefa” reservada aos consagrados. Eles quando estão tristes têm todo o direito de o dizerem em trezentas e vinte e quatro palavras redondas, às florzinhas, perfumadas e servidas em bandeja de prata cravejada de rubis; quando nós dizemos apenas “estou triste” porque só sabemos dizê-lo assim, acham que deveríamos mas era estar calados pois não é forma de exprimir sentimentos.
Estou com medo. E só sei dizê-lo assim. Virá alguém buscar-me a casa de madrugada como acontecia noutros tempos?
Com tempo dilatado hoje, andei um pouco mais que habitualmente pela blogosfera a farejar uma variedade grande de blogues sem seguir qualquer critério: abria a lista, apontava ao acaso e lá ia eu… e fiquei no fim da ida com a impressão de que andam no ar ventos fortes tentando limpar o pó sujo que blogueiros menos letrados que os sopradores dos ventos estão a atirar à blogosfera poluindo-a vergonhosamente. PRD já quis legislar sobre a blogosfera por motivos diferentes; agora são outros os candidatos a domadores e seleccionadores. Esta coisa de dar voz a toda a gente – mesmo quando só quem quisermos ler é que lemos – é uma chatice de todo o tamanho para certas elites intelectuais. Que não evitam a contradição evidente que é o facto de que gostariam que todos lêssemos muito para lhes chegarmos aos calcanhares, mas não querem que digamos ou mostremos que lemos porque isso é “tarefa” reservada aos consagrados. Eles quando estão tristes têm todo o direito de o dizerem em trezentas e vinte e quatro palavras redondas, às florzinhas, perfumadas e servidas em bandeja de prata cravejada de rubis; quando nós dizemos apenas “estou triste” porque só sabemos dizê-lo assim, acham que deveríamos mas era estar calados pois não é forma de exprimir sentimentos.
Estou com medo. E só sei dizê-lo assim. Virá alguém buscar-me a casa de madrugada como acontecia noutros tempos?
"TEXTOS PRÉ-BLOGUE"
Esta manhã JPP refere no Abrupto que andou pelos diários de Tolstoy e pelo de Kafka à procura de textos pré-blogue. Dá exemplos e conclui que «O carácter fragmentário da escrita “cabe” na página e favorece a citação.»
Na sequência dessa observação de JPP, tenho para mim que qualquer bom leitor de Português, volta não-volta, coloca à cabeceira (como fez há dias o Bicho Escala Estantes ) o “Livro do desassossego" de Fernando Pessoa, digo, de Bernardo Soares, exemplo acabado de texto pré-blogue.
Para avivar a memória dos seus apreciadores aqui fica uma citação do mesmo:
«Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho –, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros.»
Terá isto a ver, alguma coisa, com o prazer de blogar?
Esta manhã JPP refere no Abrupto que andou pelos diários de Tolstoy e pelo de Kafka à procura de textos pré-blogue. Dá exemplos e conclui que «O carácter fragmentário da escrita “cabe” na página e favorece a citação.»
Na sequência dessa observação de JPP, tenho para mim que qualquer bom leitor de Português, volta não-volta, coloca à cabeceira (como fez há dias o Bicho Escala Estantes ) o “Livro do desassossego" de Fernando Pessoa, digo, de Bernardo Soares, exemplo acabado de texto pré-blogue.
Para avivar a memória dos seus apreciadores aqui fica uma citação do mesmo:
«Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho –, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros.»
Terá isto a ver, alguma coisa, com o prazer de blogar?
SONHOS
Sonhei esta noite que a blogosfera se tinha enriquecido com os blogues de António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente e Vasco Graça Moura. Este com outro blogue além de o Pipi.
Para me consolar da desilusão que o acordar do sonho me causou vou deitar mão de alguns recortes de artigos, sempre actuais, que Vítor Cunha Rego dispersou pelos jornais.
Sonhei esta noite que a blogosfera se tinha enriquecido com os blogues de António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente e Vasco Graça Moura. Este com outro blogue além de o Pipi.
Para me consolar da desilusão que o acordar do sonho me causou vou deitar mão de alguns recortes de artigos, sempre actuais, que Vítor Cunha Rego dispersou pelos jornais.
sábado, julho 19, 2003
ABRENÚNCIO!
Hoje não vou comprar o “Expresso”: abre com o Bibi da Casa Pia; passa pela Filomena Pinto da Costa, às turras com o marido dela – o “Senhor Presidente”, como lhe chama Carlos Magno – e aterra na revista “Única” com a desengordurada Margarida da “Abraço”.
Querem coisa pior para o fim de semana?
Safa!...
E só deve safar-se mesmo o cartoon de António.
Hoje não vou comprar o “Expresso”: abre com o Bibi da Casa Pia; passa pela Filomena Pinto da Costa, às turras com o marido dela – o “Senhor Presidente”, como lhe chama Carlos Magno – e aterra na revista “Única” com a desengordurada Margarida da “Abraço”.
Querem coisa pior para o fim de semana?
Safa!...
E só deve safar-se mesmo o cartoon de António.
O PIPI E VASCO, VASCO E O PIPI – UM TESTE
Proponho-vos um exercício interessante: ler mentalmente o Pipi com a voz e a cadência conhecidas de Vasco Graça Moura. Já fiz isto várias vezes tendo ficado sempre com a quase certeza de que é ele o autor do blogue. É certo que o desmentido publicado em verso, no Abrupto, deve ser tido em conta – mas lá que isso não me convence, não convence mesmo –.
Proponho-vos um exercício interessante: ler mentalmente o Pipi com a voz e a cadência conhecidas de Vasco Graça Moura. Já fiz isto várias vezes tendo ficado sempre com a quase certeza de que é ele o autor do blogue. É certo que o desmentido publicado em verso, no Abrupto, deve ser tido em conta – mas lá que isso não me convence, não convence mesmo –.
sexta-feira, julho 18, 2003
VIVA LA MUERTE
Não podia ser de outra forma: Portugal, como apoiante incondicional da invasão do Iraque, tem todo o direito de colaborar activamente na reconstrução daquele país, e de beneficiar das contrapartidas inerentes, na proporção do seu envolvimento no conflito.
É portanto de saudar e apoiar o envio dos 120 militares da GNR para o Iraque pois não se admite que lá continuem a morrer apenas americanos e ingleses. O envolvimento em conflitos militares não pode ser apenas retórico.
Venham de lá, então, os mortos portugueses que o governo está sedento de protagonismo e o nosso ministro hiperglosso precisa de tema para se mostrar.
Nota:
Fui ao dicionário da Academia e vi que não contempla “hiperglosso”: língua volumosa – que mal cabe na boca (esta parte não pertence ao significado).
Não podia ser de outra forma: Portugal, como apoiante incondicional da invasão do Iraque, tem todo o direito de colaborar activamente na reconstrução daquele país, e de beneficiar das contrapartidas inerentes, na proporção do seu envolvimento no conflito.
É portanto de saudar e apoiar o envio dos 120 militares da GNR para o Iraque pois não se admite que lá continuem a morrer apenas americanos e ingleses. O envolvimento em conflitos militares não pode ser apenas retórico.
Venham de lá, então, os mortos portugueses que o governo está sedento de protagonismo e o nosso ministro hiperglosso precisa de tema para se mostrar.
Nota:
Fui ao dicionário da Academia e vi que não contempla “hiperglosso”: língua volumosa – que mal cabe na boca (esta parte não pertence ao significado).
quinta-feira, julho 17, 2003
MARKETING DO AVESSO
O jornal “Público”, desde há um tempo, passou a disponibilizar a edição on-line muito tarde – depois das nove da manhã – talvez pensando atrair mais leitores ao papel. Puro engano: quando é que se meterá na cabeça desses inteligentes gestores que quem lê na net e compra papel, fá-lo sempre; quem só lê on-line, muito menos razão terá para comprar papel quando nem toma conhecimento do que traz o jornal do dia.
O jornal “Público”, desde há um tempo, passou a disponibilizar a edição on-line muito tarde – depois das nove da manhã – talvez pensando atrair mais leitores ao papel. Puro engano: quando é que se meterá na cabeça desses inteligentes gestores que quem lê na net e compra papel, fá-lo sempre; quem só lê on-line, muito menos razão terá para comprar papel quando nem toma conhecimento do que traz o jornal do dia.
quarta-feira, julho 16, 2003
VOLTEMOS DE NOVO A CAMILO
(Do romance “Eusébio Macário)
Breve e lapidar descrição da personalidade de Frei Justino quando este abandonou o convento e regressou à aldeia natal de Padornelos.
… «O Joaquim António de Aguiar e o progresso puseram Frei Justino do Rosário na rua, e ele enfiou para casa com umas exultações sedentas de pecado e dava vivas à Liberdade, e à Rainha e Carta como se, em vez do convento, saísse da Cova da Moura.»…
…«Deu de si o temperamento sanguíneo, estoura-vergas do egresso; era de esperar; a vocação golfou sórdida do homem como salta o sapo asqueroso do rochedo rachado. Arrifava a todas, era uma razia no mulherio de Barroso, um paxá, um galo, um deboche.
A mãe do Justino não podia consolar-se da queda da religião e da libertinagem do filho. Pegou de secar-se, um grande fastio, ventre muito desarranjado, e acabou-se-lhe o pavio da vida.»
(Do romance “Eusébio Macário)
Breve e lapidar descrição da personalidade de Frei Justino quando este abandonou o convento e regressou à aldeia natal de Padornelos.
… «O Joaquim António de Aguiar e o progresso puseram Frei Justino do Rosário na rua, e ele enfiou para casa com umas exultações sedentas de pecado e dava vivas à Liberdade, e à Rainha e Carta como se, em vez do convento, saísse da Cova da Moura.»…
…«Deu de si o temperamento sanguíneo, estoura-vergas do egresso; era de esperar; a vocação golfou sórdida do homem como salta o sapo asqueroso do rochedo rachado. Arrifava a todas, era uma razia no mulherio de Barroso, um paxá, um galo, um deboche.
A mãe do Justino não podia consolar-se da queda da religião e da libertinagem do filho. Pegou de secar-se, um grande fastio, ventre muito desarranjado, e acabou-se-lhe o pavio da vida.»
OBRIGADO A NM
Uma vez mais agradeço a Nelson de Matos, do Textos de Contracapa (um excelentíssimo blogue de interesse público), pelas ajudas que me tem dado na resolução de problemas aparentemente insolúveis para um comum leitor e consumidor de livros como eu que de edição nada percebo. E o meu agradecimento é tanto maior quanto sei, pelo que diz ele hoje no seu blogue, que está «Quase de partida para férias, sem paciência para responder aos disparatados comentários e mails com que me inundam a caixa de correio…».
Boas férias e volte com verve e paciência.
Uma vez mais agradeço a Nelson de Matos, do Textos de Contracapa (um excelentíssimo blogue de interesse público), pelas ajudas que me tem dado na resolução de problemas aparentemente insolúveis para um comum leitor e consumidor de livros como eu que de edição nada percebo. E o meu agradecimento é tanto maior quanto sei, pelo que diz ele hoje no seu blogue, que está «Quase de partida para férias, sem paciência para responder aos disparatados comentários e mails com que me inundam a caixa de correio…».
Boas férias e volte com verve e paciência.
GESTÃO EMPRESARIALIZADA DOS HOSPITAIS (I)
Um utente foi a um hospital onde foi observado, analisado e tratado.
Na sequência de uma análise laboratorial a que foi submetido originou-se uma factura emitida por um computador. Na sequência deste facto:
a) Um funcionário do hospital imprimiu uma carta-modelo, que fez acompanhar da referida factura, destinada ao utente em causa, a qual fechou e mandou para o serviço de expediente externo;
b) A carta foi expedida e chegou ao utente rezando mais ou menos isto: anexamos uma factura no valor de 0,68 € (sessenta e oito cêntimos de euro) correspondente a uma análise laboratorial efectuada no dia tantos de tal cuja liquidação agradecemos seja efectuada no prazo de “x” dias a contar da data desta carta, sujeitando-se aos procedimentos legais previstos em caso de incumprimento;
c) O utente rapou de uma caneta e dirigiu uma carta ao conselho de administração do referido hospital reclamando receber primeiro o resultado da análise a que foi submetido antes de proceder ao pagamento da mesma;
d) O conselho de administração despachou a carta para a direcção clínica;
e) A direcção clínica despachou a carta para o director do serviço onde a análise tinha sido pedida;
f) A secretária protocolou a carta para o director em causa;
g) Um estafeta encarregou-se da entrega da carta no serviço respectivo;
h) A secretária do director do serviço que requisitou a análise recebeu a carta e assinou o respectivo livro de protocolo;
i) Presente a carta ao director, este mandou que a secretária requisitasse o correspondente processo clínico ao arquivo do hospital;
j) A secretária preencheu uma requisição que protocolou e entregou a uma auxiliar para entregar no arquivo;
k) A secretária do arquivo assinou o livro de protocolo, recebeu a requisição que entregou a um funcionário do arquivo encarregado de ir buscar o processo requisitado;
l) O funcionário em causa deslocou duas ou três prateleiras amovíveis até ter acesso ao processo requisitado;
m) Recebido o processo, a secretária do arquivo protocolou-o e enviou-o ao director requisitante, através de um estafeta;
n) O director recebeu o processo, consultou a folha de registo das análises, apontou o resultado da mesma e pediu à secretária que o enviasse de volta ao arquivo;
o) A secretária protocolou o processo e devolveu-o ao arquivo por uma auxiliar;
p) O director rapou de uma caneta e informou o utente sobre o resultado de dita análise;
q) A secretária dactilografou a informação numa carta, que deu a assinar ao director, enviando-a depois para a direcção clínica;
r) A direcção clínica mandou fazer outra carta dando a informação ao utente;
s) A carta seguiu para o serviço de expediente externo que se encarregou de a enviar pelo correio.
Depois disto tudo espera-se que o utente, uma vez recebida a carta, tenha o bom senso de enviar ao hospital um cheque no valor dos 0,68€ (sessenta e oito cêntimos de euro) devidos; cheque esse que percorrerá, certamente, um longo e labiríntico caminho até que seja descontado à conta do utente e creditado na conta do hospital.
Um utente foi a um hospital onde foi observado, analisado e tratado.
Na sequência de uma análise laboratorial a que foi submetido originou-se uma factura emitida por um computador. Na sequência deste facto:
a) Um funcionário do hospital imprimiu uma carta-modelo, que fez acompanhar da referida factura, destinada ao utente em causa, a qual fechou e mandou para o serviço de expediente externo;
b) A carta foi expedida e chegou ao utente rezando mais ou menos isto: anexamos uma factura no valor de 0,68 € (sessenta e oito cêntimos de euro) correspondente a uma análise laboratorial efectuada no dia tantos de tal cuja liquidação agradecemos seja efectuada no prazo de “x” dias a contar da data desta carta, sujeitando-se aos procedimentos legais previstos em caso de incumprimento;
c) O utente rapou de uma caneta e dirigiu uma carta ao conselho de administração do referido hospital reclamando receber primeiro o resultado da análise a que foi submetido antes de proceder ao pagamento da mesma;
d) O conselho de administração despachou a carta para a direcção clínica;
e) A direcção clínica despachou a carta para o director do serviço onde a análise tinha sido pedida;
f) A secretária protocolou a carta para o director em causa;
g) Um estafeta encarregou-se da entrega da carta no serviço respectivo;
h) A secretária do director do serviço que requisitou a análise recebeu a carta e assinou o respectivo livro de protocolo;
i) Presente a carta ao director, este mandou que a secretária requisitasse o correspondente processo clínico ao arquivo do hospital;
j) A secretária preencheu uma requisição que protocolou e entregou a uma auxiliar para entregar no arquivo;
k) A secretária do arquivo assinou o livro de protocolo, recebeu a requisição que entregou a um funcionário do arquivo encarregado de ir buscar o processo requisitado;
l) O funcionário em causa deslocou duas ou três prateleiras amovíveis até ter acesso ao processo requisitado;
m) Recebido o processo, a secretária do arquivo protocolou-o e enviou-o ao director requisitante, através de um estafeta;
n) O director recebeu o processo, consultou a folha de registo das análises, apontou o resultado da mesma e pediu à secretária que o enviasse de volta ao arquivo;
o) A secretária protocolou o processo e devolveu-o ao arquivo por uma auxiliar;
p) O director rapou de uma caneta e informou o utente sobre o resultado de dita análise;
q) A secretária dactilografou a informação numa carta, que deu a assinar ao director, enviando-a depois para a direcção clínica;
r) A direcção clínica mandou fazer outra carta dando a informação ao utente;
s) A carta seguiu para o serviço de expediente externo que se encarregou de a enviar pelo correio.
Depois disto tudo espera-se que o utente, uma vez recebida a carta, tenha o bom senso de enviar ao hospital um cheque no valor dos 0,68€ (sessenta e oito cêntimos de euro) devidos; cheque esse que percorrerá, certamente, um longo e labiríntico caminho até que seja descontado à conta do utente e creditado na conta do hospital.
domingo, julho 13, 2003
CAMILO CASTELO BRANCO E O BEM-ESCREVER PORTUGUÊS
(Do romance “Eusébio Macário)
Depois de uma descrição quase caricatural do local e do ambiente onde se desenrola a cena e que termina com Camilo dizendo «A Natureza estava cheia de mistérios amorosos e de uma grande espiritualização sensual» – depois disso Camilo passa a descrever a personagem com precisão cirúrgica bastando-lhe uma dúzia de palavras para ficarmos com a imagem perfeita de Eusébio – um esboço em bom traço da personalidade do mesmo.
Atentemos então nestes dois parágrafos de uma escrita genial e sem paralelo na nossa língua:
«Eusébio Macário ofegava, enxugava com o lenço de Alcobaça, pulverulento de meio-grosso em pastas esmoncadas, as roscas do pescoço que porejavam as exsudações da carne opilada de um farto jantar. Ele tinha feito anos neste dia e enchera-se de capão com arroz açafroado e de muito vinho de Amarante, com muita aletria engrossada de ovos e letras de canela.
– Que não queria saber de histórias – pensava –; que a vida eram dois dias; quem cá ficasse que o ganhasse.
E dava arrotos muito cheios de gases e estrondos.»
Nota:
O Português de Camilo deixou o meu corrector ortográfico à nora: não reconheceu "pulverulento", "meio-grosso", "esmoncadas", "porejavam" e "opilada".
--------------------------------------------------------------------------------
(Do romance “Eusébio Macário)
Depois de uma descrição quase caricatural do local e do ambiente onde se desenrola a cena e que termina com Camilo dizendo «A Natureza estava cheia de mistérios amorosos e de uma grande espiritualização sensual» – depois disso Camilo passa a descrever a personagem com precisão cirúrgica bastando-lhe uma dúzia de palavras para ficarmos com a imagem perfeita de Eusébio – um esboço em bom traço da personalidade do mesmo.
Atentemos então nestes dois parágrafos de uma escrita genial e sem paralelo na nossa língua:
«Eusébio Macário ofegava, enxugava com o lenço de Alcobaça, pulverulento de meio-grosso em pastas esmoncadas, as roscas do pescoço que porejavam as exsudações da carne opilada de um farto jantar. Ele tinha feito anos neste dia e enchera-se de capão com arroz açafroado e de muito vinho de Amarante, com muita aletria engrossada de ovos e letras de canela.
– Que não queria saber de histórias – pensava –; que a vida eram dois dias; quem cá ficasse que o ganhasse.
E dava arrotos muito cheios de gases e estrondos.»
Nota:
O Português de Camilo deixou o meu corrector ortográfico à nora: não reconheceu "pulverulento", "meio-grosso", "esmoncadas", "porejavam" e "opilada".
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NESSA CAI QUEM QUER
Está nos hábitos do português esconder sempre a sua intenção quando se trata de ganhar dinheiro; e quando a revela é sempre manhosamente. É assim quando nas montras (ourivesarias sobretudo) os produtos, ou não têm o preço afixado, ou têm a etiqueta que o contém virada para baixo; na publicidade na imprensa o preço é quase sempre omitido; e por aí fora.
A estratégia é: lançar o isco, ter o cliente à mão e depois não deixá-lo fugir.
É precisamente esta estratégia que a “rede .pt” está a adoptar no anúncio que faz para induzir os blogueiros portugueses a utilizarem essa rede para alojamento dos seus blogues. Eis algumas passagens desse anúncio
«weblog.com.pt é um projecto que começa sem fins lucrativos»
«não possui nesta primeira fase nenhum plano de negócios»
«a médio prazo, e dependendo de vários factores, poderá ser introduzido algum tipo de esquema de pagamento»
Francamente!
O anúncio em questão pode ser lido na íntegra aqui
Está nos hábitos do português esconder sempre a sua intenção quando se trata de ganhar dinheiro; e quando a revela é sempre manhosamente. É assim quando nas montras (ourivesarias sobretudo) os produtos, ou não têm o preço afixado, ou têm a etiqueta que o contém virada para baixo; na publicidade na imprensa o preço é quase sempre omitido; e por aí fora.
A estratégia é: lançar o isco, ter o cliente à mão e depois não deixá-lo fugir.
É precisamente esta estratégia que a “rede .pt” está a adoptar no anúncio que faz para induzir os blogueiros portugueses a utilizarem essa rede para alojamento dos seus blogues. Eis algumas passagens desse anúncio
«weblog.com.pt é um projecto que começa sem fins lucrativos»
«não possui nesta primeira fase nenhum plano de negócios»
«a médio prazo, e dependendo de vários factores, poderá ser introduzido algum tipo de esquema de pagamento»
Francamente!
O anúncio em questão pode ser lido na íntegra aqui
sábado, julho 12, 2003
DESABAFO DO TÚMULO
O Número de hoje do semanário “Expresso” surpreendeu-me muito agradavelmente. Para além da grande quantidade de papel de embrulho e para limpar vidros que faz habitualmente parte do pacote, hoje tivemos direito a um catálogo de relógios de pulso em que se destaca a “Edição Limitada Fernando Pessoa” – um relógio da marca “Omega” (passe a publicidade) de aspecto sóbrio como o vate e com o preço de 3 995.00 € – uma homenagem afectuosa, creio, mas a um preço nada condizente com a vida austera que levava o poeta.
Ao tomar conhecimento do facto – revelou hoje Clara Ferreira Alves – Pessoa terá repetido lá do seu túmulo «Nada pesa tanto como o afecto alheio – nem o ódio alheio» (*)
(*) Livro do Desassossego, 1ª parte, edição europa-américa.
O Número de hoje do semanário “Expresso” surpreendeu-me muito agradavelmente. Para além da grande quantidade de papel de embrulho e para limpar vidros que faz habitualmente parte do pacote, hoje tivemos direito a um catálogo de relógios de pulso em que se destaca a “Edição Limitada Fernando Pessoa” – um relógio da marca “Omega” (passe a publicidade) de aspecto sóbrio como o vate e com o preço de 3 995.00 € – uma homenagem afectuosa, creio, mas a um preço nada condizente com a vida austera que levava o poeta.
Ao tomar conhecimento do facto – revelou hoje Clara Ferreira Alves – Pessoa terá repetido lá do seu túmulo «Nada pesa tanto como o afecto alheio – nem o ódio alheio» (*)
(*) Livro do Desassossego, 1ª parte, edição europa-américa.
UM COLCHÃO REAL E UMA FICÇÃO
Há quase uma semana que postei “Complexidades da Mente Humana” sobre a visita que um amigo íntimo terá feito a minha mãe. Desde essa altura tenho sido bombardeado com “mails” e telefonemas de amigos tentando desdramatizar a coisa mas sobretudo tentando saber quem é esse sádico que me “viu” maltratando minha própria mãe de 82 anos.
Para acabar com equívocos devo esclarecer:
a) a existência do colchão é uma realidade e o mesmo é colocado todas as noites na sala para “a soneca da menina”;
b) a visita do meu amigo, nas condições relatadas, e o meu encontro com ele na baixa, bem como ainda o dito dele sobre “ter visto o colchão”, são pura ficção que resultou dos receios de minha mulher de que tal pudesse um dia acontecer – «e se vier alguém aqui a casa na nossa ausência e encontra o colchão na sala, o que irá pensar?» – perguntou-me ela. E desde esse dia o colchão é guardado mal a minha filha se levanta.
Há quase uma semana que postei “Complexidades da Mente Humana” sobre a visita que um amigo íntimo terá feito a minha mãe. Desde essa altura tenho sido bombardeado com “mails” e telefonemas de amigos tentando desdramatizar a coisa mas sobretudo tentando saber quem é esse sádico que me “viu” maltratando minha própria mãe de 82 anos.
Para acabar com equívocos devo esclarecer:
a) a existência do colchão é uma realidade e o mesmo é colocado todas as noites na sala para “a soneca da menina”;
b) a visita do meu amigo, nas condições relatadas, e o meu encontro com ele na baixa, bem como ainda o dito dele sobre “ter visto o colchão”, são pura ficção que resultou dos receios de minha mulher de que tal pudesse um dia acontecer – «e se vier alguém aqui a casa na nossa ausência e encontra o colchão na sala, o que irá pensar?» – perguntou-me ela. E desde esse dia o colchão é guardado mal a minha filha se levanta.
sexta-feira, julho 11, 2003
TAREFA INGRATA
São muitos os autores que listam nas suas páginas os blogues da sua preferência permitindo-nos conhecê-los e avaliar as suas qualidades. Alguns listam uma profusão imensa de blogues pelo que o que se acaba por obter são as não preferências desses autores.
Aqui o Salmoura confessa que lê muitos blogues diariamente mas por enquanto não vai listá-los. Contudo Salmoura não ficaria de bem com a sua consciência se não destacasse hoje dois ou três blogues que por razões diferentes são quase sempre os primeiros a serem lidos quando se senta ao computador. E são estes, por ordem arbitrária:
O Canivete Suíço
O Gentleman
O Zarolho
A Montanha
(Meu Deus!…) e o Pipi
O Canivete Suíço – justamente apelidado de blogue “incontornável” – presta um autêntico serviço público ao abordar tão variados temas sem nunca tentar impor ao leitor a sua visão das coisas e muito menos veicular uma doutrina, seja ela qual for. JPP responde quase sempre aos mails e não é por nunca referir a existência de Salmoura que deixa de figurar aqui com todo o mérito.
Gentleman – não só nos brinda com textos eruditos como posta com suprema elegância e finesse. Nelson de Matos não tem problemas em referir-se a outros blogues mesmo quando tão obscuros como o Salmoura desde que julgue (julgamos nós agora) justo fazê-lo.
O Zarolho, todos concordamos, escreve bem. Mas Francisco José Viegas é um bocado faccioso nas referências que faz – também, usando apenas "o olho amigo", não se lhe pode pedir que veja com os dois e se refira ou dê voz a quem maltrata os seus amigos mesmo quando a razão parece assistir inteiramente ao "inimigo" do seu amigo. E se os ventos sopram de África… então pior ainda é.
A Montanha é mesmo mágica – não se pode conceber a blogosfera sem o seu valioso contributo na divulgação cultural. Leva o cibernauta a sentir-se gente ajudando o blogueiro quando em dificuldade. Salmoura agradece a ajuda na identificação de um quadro original de Manet quando presente uma cópia a lançar a dúvida.
Sem o Pipi a blogosfera estaria incompleta de todo. O homem (mesmo o roto) precisa sempre de um alter ego do calibre do Pipi. É com a leitura do Pipi que se recuperam os neurónios danificados nas leituras de outros blogues (como este, por exemplo). Os neurónios e os… (o Pipi que complete a frase).
São muitos os autores que listam nas suas páginas os blogues da sua preferência permitindo-nos conhecê-los e avaliar as suas qualidades. Alguns listam uma profusão imensa de blogues pelo que o que se acaba por obter são as não preferências desses autores.
Aqui o Salmoura confessa que lê muitos blogues diariamente mas por enquanto não vai listá-los. Contudo Salmoura não ficaria de bem com a sua consciência se não destacasse hoje dois ou três blogues que por razões diferentes são quase sempre os primeiros a serem lidos quando se senta ao computador. E são estes, por ordem arbitrária:
O Canivete Suíço
O Gentleman
O Zarolho
A Montanha
(Meu Deus!…) e o Pipi
O Canivete Suíço – justamente apelidado de blogue “incontornável” – presta um autêntico serviço público ao abordar tão variados temas sem nunca tentar impor ao leitor a sua visão das coisas e muito menos veicular uma doutrina, seja ela qual for. JPP responde quase sempre aos mails e não é por nunca referir a existência de Salmoura que deixa de figurar aqui com todo o mérito.
Gentleman – não só nos brinda com textos eruditos como posta com suprema elegância e finesse. Nelson de Matos não tem problemas em referir-se a outros blogues mesmo quando tão obscuros como o Salmoura desde que julgue (julgamos nós agora) justo fazê-lo.
O Zarolho, todos concordamos, escreve bem. Mas Francisco José Viegas é um bocado faccioso nas referências que faz – também, usando apenas "o olho amigo", não se lhe pode pedir que veja com os dois e se refira ou dê voz a quem maltrata os seus amigos mesmo quando a razão parece assistir inteiramente ao "inimigo" do seu amigo. E se os ventos sopram de África… então pior ainda é.
A Montanha é mesmo mágica – não se pode conceber a blogosfera sem o seu valioso contributo na divulgação cultural. Leva o cibernauta a sentir-se gente ajudando o blogueiro quando em dificuldade. Salmoura agradece a ajuda na identificação de um quadro original de Manet quando presente uma cópia a lançar a dúvida.
Sem o Pipi a blogosfera estaria incompleta de todo. O homem (mesmo o roto) precisa sempre de um alter ego do calibre do Pipi. É com a leitura do Pipi que se recuperam os neurónios danificados nas leituras de outros blogues (como este, por exemplo). Os neurónios e os… (o Pipi que complete a frase).
quarta-feira, julho 09, 2003
QUEM É ARNALDO JABOR?
Independentemente de se ter dedicado ao jornalismo e ao cinema, Arnaldo Jabor é essencialmente um cronista incontornável da realidade brasileira que ele escalpeliza com especial acidez e argúcia numa escrita cheia de adjectivos, que faz lembrar o nosso Eça, mas um pouco mais ousada – chamando os bois pelos nomes e usando muitas vezes nomes bem feios para eles –. Não nutre especial admiração pelos intelectuais brasileiros e apelida frequentemente Bush de “babaca”.
Quem ler semanalmente a página cultural do Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, só pode ficar a ganhar com a leitura das crónicas de Jabor; e terá oportunidade de o comparar (sobretudo quanto à forma de abordagem dos problemas contemporâneos) aos cronistas da nossa praça e daí tirar conclusões bem interessantes. Erudito às vezes (muitas vezes), não desdenha achavascar a escrita quando a mostarda lhe sobe ao nariz.
A última crónica dele conta um telefonema do céu que lhe fez Nelson Rodrigues, romancista e dramaturgo falecido em 1980, com quem Jabor compartilhou durante muitos anos a arte e o gozo de xingar a classe média brasileira. Uma vez Nelson Rodrigues escreveu:
"Sou um menino que vê o amor pelo buraco
da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci
menino, hei de morrer menino. E o buraco
da fechadura é, realmente, a minha ótica
de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo
pornográfico."
A coluna de Jabor sai semanalmente e é sempre “imperdível”, acreditem. Faça um clique aqui que jamais vai deixar de ler Arnaldo Jabor.
Independentemente de se ter dedicado ao jornalismo e ao cinema, Arnaldo Jabor é essencialmente um cronista incontornável da realidade brasileira que ele escalpeliza com especial acidez e argúcia numa escrita cheia de adjectivos, que faz lembrar o nosso Eça, mas um pouco mais ousada – chamando os bois pelos nomes e usando muitas vezes nomes bem feios para eles –. Não nutre especial admiração pelos intelectuais brasileiros e apelida frequentemente Bush de “babaca”.
Quem ler semanalmente a página cultural do Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, só pode ficar a ganhar com a leitura das crónicas de Jabor; e terá oportunidade de o comparar (sobretudo quanto à forma de abordagem dos problemas contemporâneos) aos cronistas da nossa praça e daí tirar conclusões bem interessantes. Erudito às vezes (muitas vezes), não desdenha achavascar a escrita quando a mostarda lhe sobe ao nariz.
A última crónica dele conta um telefonema do céu que lhe fez Nelson Rodrigues, romancista e dramaturgo falecido em 1980, com quem Jabor compartilhou durante muitos anos a arte e o gozo de xingar a classe média brasileira. Uma vez Nelson Rodrigues escreveu:
da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci
menino, hei de morrer menino. E o buraco
da fechadura é, realmente, a minha ótica
de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo
pornográfico."
A coluna de Jabor sai semanalmente e é sempre “imperdível”, acreditem. Faça um clique aqui que jamais vai deixar de ler Arnaldo Jabor.
segunda-feira, julho 07, 2003
O PRAZER DO ZAPPING
Já alguém escreveu num jornal que o melhor programa televisivo é o zapping. Pois bem, falando em zapping, penso que uma das maiores novidades trazidas ao cibernauta pelos blogues é esta facilidade zappinguista de fazermos mentalmente um jornal com os mais variados textos e imagens que vamos encontrando aqui e ali nos blogues. O zapping bloguista é, de facto, um dos grandes perigos que ameaçam as revistas e os jornais em papel.
Estou a começar a dar razão a Pedro Rolo Duarte: ou se legisla já sobre os blogues ou então o DNa está em risco. O Expresso também não vai escapar a um emagrecimento considerável – é só os seus leitores começarem a aparecer por cá: passarão logo da leitura do “Jornal do Crime” para algo mais interessante e compensador.
Já alguém escreveu num jornal que o melhor programa televisivo é o zapping. Pois bem, falando em zapping, penso que uma das maiores novidades trazidas ao cibernauta pelos blogues é esta facilidade zappinguista de fazermos mentalmente um jornal com os mais variados textos e imagens que vamos encontrando aqui e ali nos blogues. O zapping bloguista é, de facto, um dos grandes perigos que ameaçam as revistas e os jornais em papel.
Estou a começar a dar razão a Pedro Rolo Duarte: ou se legisla já sobre os blogues ou então o DNa está em risco. O Expresso também não vai escapar a um emagrecimento considerável – é só os seus leitores começarem a aparecer por cá: passarão logo da leitura do “Jornal do Crime” para algo mais interessante e compensador.
domingo, julho 06, 2003
NASCEU O BLOGUE DO DEPUTADO JOSÉ MAGALHÃES
Salmoura saúda o nascimento do importante blogue Ciberscópio-pt de José Magalhães e dá-lhe já aqui as dicas necessárias para ter acentos e cedilha no cabeçalho e na descrição.
Para ter acentos e cedilha edite o seu blogue e na página "settings" faça as seguintes alterações:
Cibersc"&"oacutepio-pt (obterá Ciberscópio-pt)
OPINI"&"OtildeES (obterá OPINIÕES)
CIBERESPA"&"CcedilO (obterá CIBERESPAÇO)
ATENÇÃO: RETIRE AS ASPAS DO "&"
Salmoura saúda o nascimento do importante blogue Ciberscópio-pt de José Magalhães e dá-lhe já aqui as dicas necessárias para ter acentos e cedilha no cabeçalho e na descrição.
Para ter acentos e cedilha edite o seu blogue e na página "settings" faça as seguintes alterações:
Cibersc"&"oacutepio-pt (obterá Ciberscópio-pt)
OPINI"&"OtildeES (obterá OPINIÕES)
CIBERESPA"&"CcedilO (obterá CIBERESPAÇO)
ATENÇÃO: RETIRE AS ASPAS DO "&"
COMPLEXIDADES DA MENTE HUMANA
Este é um pequeno episódio que revela bem o quanto de sádico pode existir numa amizade. E conta-se em poucas palavras.
Desde há um mês que tenho em casa minha mãe, de 82 anos, que veio de fora para se submeter a uma intervenção cirúrgica. Tendo eu duas filhas que costumam estudar a horas diferentes uma da outra, como é normalíssimo, e tendo uma delas dispensado o quarto à avó, compramos um desses colchões insufláveis, muito publicitados na TV mas também muito práticos e fáceis de arrumar, que colocamos todas as noites na sala para a soneca da menina.
Um amigo meu de longa data e bastante íntimo deslocou-se uma manhã destas, na minha ausência, para visitar (sem aviso, como aliás se permite a certos amigos) a paciente operada e em convalescença – tudo normal até aqui.
Um ou dias depois estava eu numa esplanada da baixa lisboeta a tomar uma imperial na companhia desse meu amigo e, a páginas tantas, ele “notifica-me” que esteve aqui em casa a visitar a minha mãe (que achara de boa saúde) a qual se tinha levantado havia pouco tempo e mesmo assim tivera a amabilidade de o convidar a entrar na sala onde «até vi o colchão que ainda lá estava».
É fantástico como certos amigos, a quem damos o privilégio de entrarem em nossa casa a qualquer hora, são capazes da maior crueldade para connosco.
Perdoai-lhes Senhor!
Este é um pequeno episódio que revela bem o quanto de sádico pode existir numa amizade. E conta-se em poucas palavras.
Desde há um mês que tenho em casa minha mãe, de 82 anos, que veio de fora para se submeter a uma intervenção cirúrgica. Tendo eu duas filhas que costumam estudar a horas diferentes uma da outra, como é normalíssimo, e tendo uma delas dispensado o quarto à avó, compramos um desses colchões insufláveis, muito publicitados na TV mas também muito práticos e fáceis de arrumar, que colocamos todas as noites na sala para a soneca da menina.
Um amigo meu de longa data e bastante íntimo deslocou-se uma manhã destas, na minha ausência, para visitar (sem aviso, como aliás se permite a certos amigos) a paciente operada e em convalescença – tudo normal até aqui.
Um ou dias depois estava eu numa esplanada da baixa lisboeta a tomar uma imperial na companhia desse meu amigo e, a páginas tantas, ele “notifica-me” que esteve aqui em casa a visitar a minha mãe (que achara de boa saúde) a qual se tinha levantado havia pouco tempo e mesmo assim tivera a amabilidade de o convidar a entrar na sala onde «até vi o colchão que ainda lá estava».
É fantástico como certos amigos, a quem damos o privilégio de entrarem em nossa casa a qualquer hora, são capazes da maior crueldade para connosco.
Perdoai-lhes Senhor!
O DIVÃ CENTRAL
Fernando Correia dirige, diariamente na TSF, o programa “Bancada Central” que alguém já apelidou (mal) de programa para “maluquinhos da bola”, num blogue cujo nome não retive.
Algumas pessoas lidas e ouvidas nos média nacionais têm-se referido ao programa confessando que o costumam ouvir com alguma regularidade – Mário Bettencourt Resendes, por exemplo, diz isso mesmo aqui –. Ora bem, eu também confesso que costumo ouvir, sempre que posso, a Bancada Central que, numa análise pouco superficial (“pouco” e não “um pouco”) me parece ter, dentre outras funções, a de divã psiquiátrico (sem qualquer sentido metafórico). É que tendo atenção às “opiniões” expressas pela maioria dos intervenientes, que são quase sempre os mesmos a deitarem-se quotidianamente no dito divã, constata-se que aí o que menos vale são as opiniões, e o que mais conta é o desnudar da personalidade de cada um deles que, ao longo dos dias, cumpre um ritual de despojamento que leva a maioria deles a chegar muito perto de (e alguns a conseguirem mesmo) uma verdadeira catarse libertadora e equilibradora da personalidade, dando-lhes saúde psíquica, mental e mesmo física, creio.
Por isso é de louvar o verdadeiro serviço clínico, público e gratuito, que Fernando Correia presta à sociedade e ao Serviço Nacional de Saúde, o qual ele exerce com extremo profissionalismo (mais médico que jornalístico, até) conduzindo o programa num tom quase sempre muito sereno, mas estando ao mesmo tempo muito atento na função de levar o opinante no caminho certo que o levará à catarse.
Parabéns Fernando Correia pela “Bancada Central”.
Fernando Correia dirige, diariamente na TSF, o programa “Bancada Central” que alguém já apelidou (mal) de programa para “maluquinhos da bola”, num blogue cujo nome não retive.
Algumas pessoas lidas e ouvidas nos média nacionais têm-se referido ao programa confessando que o costumam ouvir com alguma regularidade – Mário Bettencourt Resendes, por exemplo, diz isso mesmo aqui –. Ora bem, eu também confesso que costumo ouvir, sempre que posso, a Bancada Central que, numa análise pouco superficial (“pouco” e não “um pouco”) me parece ter, dentre outras funções, a de divã psiquiátrico (sem qualquer sentido metafórico). É que tendo atenção às “opiniões” expressas pela maioria dos intervenientes, que são quase sempre os mesmos a deitarem-se quotidianamente no dito divã, constata-se que aí o que menos vale são as opiniões, e o que mais conta é o desnudar da personalidade de cada um deles que, ao longo dos dias, cumpre um ritual de despojamento que leva a maioria deles a chegar muito perto de (e alguns a conseguirem mesmo) uma verdadeira catarse libertadora e equilibradora da personalidade, dando-lhes saúde psíquica, mental e mesmo física, creio.
Por isso é de louvar o verdadeiro serviço clínico, público e gratuito, que Fernando Correia presta à sociedade e ao Serviço Nacional de Saúde, o qual ele exerce com extremo profissionalismo (mais médico que jornalístico, até) conduzindo o programa num tom quase sempre muito sereno, mas estando ao mesmo tempo muito atento na função de levar o opinante no caminho certo que o levará à catarse.
Parabéns Fernando Correia pela “Bancada Central”.
sábado, julho 05, 2003
quinta-feira, julho 03, 2003
O MEU BEM HAJA A NELSON DE MATOS
O meu muito obrigado ao Nelson de Matos por no seu blogue Textos de Contracapa ter trazido à baila aquilo que neste meu obscuro blogue considerei um desrespeito pela língua portuguesa no que a uma tradução diz respeito (vide mais abaixo “Pérolas de uma tradução”). Este meu agradecimento é tanto mais profundo quanto a falta de eco que este problema teve ao ser colocado a alguns homens de letras, como Francisco José Viegas (do blogue Aviz), por exemplo. É que mesmo sendo José Colaço Barreiros um tradutor exímio e conceituadíssimo (eu que não ando no mundo das letras não tinha que o conhecer, creio) é por isso mesmo que se torna imperdoável as "pérolas" que colhi da tradução em questão. È que eu me considero um formando no domínio da literatura que se faz em português (talvez apenas da leitura do que se escreve em português – não queira este sapateiro ir além da chinela) e por isso mesmo sou muito exigente com os "professores" que vou tendo. Nada mais me moveu ou move ao tentar trazer o problema a público: apenas a incomodidade de ler tão mau português – sobretudo quando a expectativa era alta como se impõe quando se lê Umberto Eco (mesmo traduzido). É tudo. E foi tudo o que me moveu.
O meu muito obrigado ao Nelson de Matos por no seu blogue Textos de Contracapa ter trazido à baila aquilo que neste meu obscuro blogue considerei um desrespeito pela língua portuguesa no que a uma tradução diz respeito (vide mais abaixo “Pérolas de uma tradução”). Este meu agradecimento é tanto mais profundo quanto a falta de eco que este problema teve ao ser colocado a alguns homens de letras, como Francisco José Viegas (do blogue Aviz), por exemplo. É que mesmo sendo José Colaço Barreiros um tradutor exímio e conceituadíssimo (eu que não ando no mundo das letras não tinha que o conhecer, creio) é por isso mesmo que se torna imperdoável as "pérolas" que colhi da tradução em questão. È que eu me considero um formando no domínio da literatura que se faz em português (talvez apenas da leitura do que se escreve em português – não queira este sapateiro ir além da chinela) e por isso mesmo sou muito exigente com os "professores" que vou tendo. Nada mais me moveu ou move ao tentar trazer o problema a público: apenas a incomodidade de ler tão mau português – sobretudo quando a expectativa era alta como se impõe quando se lê Umberto Eco (mesmo traduzido). É tudo. E foi tudo o que me moveu.
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