OPINIÃO DE TELESPECTADOR
Não me coíbo de dar a minha opinião sobre a prestação de Pacheco Pereira hoje à noite no "Jornal" da SIC.
Começou pelo "Muito Mentiroso", passou para a sonda Galileu, pelo D. Quixote, de Cervantes, opinou sobre os cartazes de Santana e abordou ainda mais um tema que não retive.
No fundo, embrulhado em acontecimentos menores do quotidiano, introduziu dois temas que podemos chamar de eruditos e a que o grande público em princípio não liga porque acha chato e próprio de magazines culturais que não lhe dizem respeito.
Fez muito bem Pacheco Pereira (quem sou eu para dizer isto?).
Trouxe alguma substância a uma televisão medíocre e chafurdadora (estou a pensar nos três canais generalistas) e arrisca a ajudar a mudar para melhor, a longo prazo, qualquer coisa no telespectador popular.
Pôs em acção aquela ideia que Umberto Eco exprimiu no Apocalípticos e Integrados segundo a qual é um erro pensar-se que se deve dar ao grande público apenas cultura popular porque esta é aquela que ele compreende e quer.
Eco defende que não se deve ter receio de dar cultura erudita ao grande público porque esta é a única forma de o cultivarmos. Durante os primeiros tempos ele pode nada perceber, mas aos poucos vai descobrindo o que se lhe quer transmitir e começa aí a dar os primeiros passos que o podem conduzir a algo mais interessante e compensador e a adquirir ferramentas que lhe permitam formar o sentido crítico e olhar de outra forma o mundo que o cerca e a compreender a sua complexidade.
Mas o tempo dado a Pacheco Pereira foi muito curto. É preciso alargá-lo um pouco mais para que a mensagem não seja tão telegráfica. Deve permanecer um pouco mais em cada tema. Oxalá a SIC chegue à mesma conclusão.
Nota: Pacheco ignorou por completo as acções do Governo. Se isso é um princípio que faz parte do seu acordo com a SIC sobre o formato das suas intervenções só nos resta admitir isso e mais nada.