domingo, setembro 07, 2003

"FLASH BACK" UM TIRO PELA CULATRA

Eu devo ter sido, ao longo de mais de uma década, um dos ouvintes mais fiéis do programa "Flash Back" da TSF. E devo ter "recrutado" mais de duas dezenas de amigos para fazerem o mesmo aos domingos de manhã: ouvir atentamente o programa.

Reconheci, algumas vezes por e-mail dirigidos a Carlos Andrade, a importância nacional do programa e o seu contributo na formação política dos ouvintes. E na informação que dele sempre se pôde extrair por análise cuidada das intervenções dos seus residentes.

O Flash Back actuou em nós, seus ouvintes fiéis:

a) Fornecendo-nos informação privilegiada que (querendo) os seus residentes faziam passar algumas vezes, e, mesmo não querendo, deixavam escapar outras vezes para a opinião pública. Bastava saber ler nas entrelinhas do muito que nele era dito;

b) Permitindo-nos ter a verdadeira noção das dificuldades por que passavam os partidos – no governo umas vezes, na oposição outras – relativamente a matérias políticas de relevante interesse nacional, no que ficava-mos esclarecidos do ponto de vista de consequências futuras que poderiam atingir-nos com esta ou aquela medida ou lei;

c) Permitindo-nos ainda, através da análise de cada programa, desmontar argumentos encobridores de verdades inconfessáveis a ponto de podermos descortinar o que pretendia este ou aquele partido, esta ou aquela instituição, este ou aquele grupo de pressão ou interesses, apesar de estes nos dizerem muitas vezes o contrário.

Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que um dos residentes questionou Carlos Andrade sobre as consequências que teria na linha editorial futura da TSF a passagem da estação para as mãos da Lusomundo. E lembro-me que Carlos Andrade reiterou na altura a sua convicção de que nada seria alterado a bem da isenção e do pluralismo de que a emissora sempre dera mostras e lhe granjeara, por isso, o enorme prestígio que ora começa a ser abalado.

Eu penso que o fim do Flash Back é um frete tremendo que os "donos" da TSF fazem ao "lóbi" anti Cavaco, que não é mais que o "lóbi" pró Santana Lopes.

Eu penso que a TSF sacrifica a sua audiência e os seus interesses comerciais em prol de uma campanha tendente a levar Santana Lopes à Presidência da República.

Bem vistas as coisas nem José Magalhães (o que é mais que óbvio), Pacheco Pereira ou Lobo Xavier (qualquer deles claramente não entusiastas da ideia) nutrem qualquer simpatia, e, muito menos, são capazes de apoiar uma eventual candidatura de Santana Lopes às presidenciais.

Foi este o pecado que determinou a morte do programa.

É este o pecado original que colca a TSF na calha do descrédito quanto à sua isenção editorial.