domingo, setembro 21, 2003

DE MAL A PIOR

Não escapa ao observador minimamente atento que Portugal é hoje um país em profunda crise onde ao desmoronar (mor das vezes programado) das instituições mais emblemáticas e necessárias ao bom funcionamento da sociedade, não se sucede a criação de outras instituições alternativas àquelas, já não digo melhores em substância, funcionamento e resultados, mas tão somente susceptíveis de ao menos manterem os mesmos padrões mínimos de eficácia, credibilidade, seriedade, e perseguir pelo menos os mesmos objectivos e resultados.

Desde os hospitais às escolas, da justiça às polícias, da agricultura à indústria e ao comércio, da comunicação social ao desporto, das autarquias à tutela da cultura, verifica-se uma crescente demissão dos responsáveis que agem como se de comissões liquidatárias se tratassem, liquidando o Estado em favor dos privados, desresponsabilizando-se de promover o bem comum, deixando essa tarefa ao sabor do acaso e da iniciativa privada (esta sem fiscalização e controlo efectivo).

Pior que não ser capaz de cobrar impostos é abandonar o cidadão a si próprio nesta imensa selva urbana onde a cada esquina se esconde um rapinador (banco, instituição de crédito, vendedores de sonhos) do pouco que cada um ainda tem de seu, da pequena parte que ainda resta do salário de quem ainda não se sobreendividou; rapinadores que vão acabar por sequestrar a sociedade escravizando os seus membros e construindo uma imensa fazenda onde todos trabalham e produzem para pagar dívidas e obter apenas o sustento próprio. Porque os que governam se demitem das suas funções.

Frei Bento Domingues, um homem lúcido e comprometido com os que sofrem, aborda hoje no Público, em parte, a desventura que é viver actualmente em Portugal e ser governado como temos sido ao longo destes últimos anos: com passes de mágica, malabarismos de circo e desprezo quase total pelo cidadão.

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