domingo, dezembro 21, 2003

SAFARI NO JARDIM ZOOLÓGICO



Escrever sobre a captura de Saddam já está a ficar enjoativo mas há coisas que se não forem ditas nos ficarão a pesar como pecados cometidos por omissão cujos significariam para nós, em termos pessoais, uma como que demissão neste dirimir de armas (argumentos) entre falcões e pombas, direita e esquerda, fachos e comunistas, e mais outros conjuntos bipolares do género que possamos conceber.

Com grande euforia e algum alívio (não se encontraram ainda as famosas WMD mas ter Saddam já é importante) a direita apresenta a captura de Saddam como uma vitória na luta contra o terrorismo, desencadeada depois dos acontecimentos do 11 de Setembro, e baralha um pouco o jogo acusando profusamente a esquerda, através de vários dos seus (da direita) arautos, de estar a ser hipócrita nas suas (da esquerda) reacções «rituais» (JPP dixit) de aprovação a respeito da captura de Saddam.

Ora, compete-nos, apesar de o assunto já enjoar um pouco, não desfalecer na contra-argumentação a esta enorme falácia que é querer fazer crer ao mundo que a invasão e ocupação do Iraque se insere na luta contra o terrorismo. Porque nunca o foi, não o é, e não podemos permitir que a campanha da direita possa fazer vingar essa tese e se sirva dela para disfarçar o fracasso da verdadeira luta contra o terrorismo que é não terem ainda apanhado Bin Ladem e desmantelado a Al-Qaeda, e terem praticamente abandonado o palco dessa luta: o Afeganistão. Não podemos permitir que essa campanha possa encobrir os verdadeiros propósitos (o domínio de vastas áreas do globo ricas em petróleo) que levaram americanos e ingleses a invadirem e ocuparem o Iraque para terem na mão o controlo de grande parte das reservas energéticas do planeta.

Não nos esqueçamos que, até hoje, não se forneceu a mínima prova de que o Iraque tenha alguma coisa a ver com o 11 de Setembro de Bin Ladem ou com o terrorismo internacional. E que se há hoje, no Iraque, acções terroristas misturadas com acções de guerrilha, quem contribuiu para isso foram os invasores ocupantes que destruíram toda a administração pública do Iraque e não foram ainda capazes de dotar aquele país de uma nova administração, como aliás lhes impõem as leis internacionais perante as quais os ocupantes estão em flagrante falta.

Depois de Bin Ladem ter entrado em Nova Iorque e ter cometido o acto terrorista bárbaro (cá estou eu a fazer uma proclamação «ritual») de destruir as Torres Gémeas matando milhares de inocentes – depois disso – Bush, Rumsfeld e companhia saíram em direcção ao Afeganistão para um safari de caça a Bin Ladem. E vários meses depois de terem "lavrado e semeado" o deserto afegão com largas toneladas de bombas, mísseis e armas várias, sem nunca encontrarem a caça grossa que "fanfarronicamente" se propuseram to hunt (perseguir e caçar), sem nunca terem conseguido esse objectivo, voltaram então para o Iraque e para Saddam inventando as célebres armas de destruição massiva (WMD) e as nunca provadas ligações do Iraque ao terrorismo internacional.

A América saiu para um safari em busca de um leão. E não tendo conseguido caçar o animal no inóspito deserto afegão. Resolveu invadir o jardim zoológico do Iraque onde matou um rato que tem debaixo da pata fazendo-se fotografar como grande caçador de feras e proprietário das maiores bombas de gasolina do mundo.