domingo, dezembro 07, 2003

O DEDO NA FERIDA

António Barreto põe hoje o dedo na ferida e acerta completamente no diagnóstico da penosa situação portuguesa no que a aspectos fundamentais da governação diz respeito.

Ele escreveu e vamos citá-lo:

«O défice e o endividamento têm outros resultados e outras causas: a demagogia e o facilitismo. Com o défice, consola-se a sofreguidão das corporações, administram-se privilégios, fazem-se favores, recrutam-se amigos. Com o défice, espera-se, em vão, afastar as greves, os conflitos e os protestos. Com o défice, transforma-se a irresponsabilidade em filosofia política e orientação estratégica. Com o défice, evita-se a dificuldade. Com o défice, substituem-se as reformas, isto é, não se fazem. Professores que não ensinam, funcionários destacados para nada fazer, médicos que não operam, advogados que faltam, juízes que adiam, funcionários que não atendem, técnicos que não resolvem, serviços que não servem, polícias que não vigiam, gestores que se governam, trabalhadores que metem baixas, empresas que não pagam impostos, empregados que chegam tarde, empresários que não investem, todos poderão ser contentados com o défice, todos poderão, com o défice, manter-se nas suas vidinhas irresponsáveis, improdutivas e parasitárias. Com o défice, poder-se-á gastar em festas e comemorações, em obra de fachada e subsídio, estádios de futebol e viagens. Mas não tenhamos dúvidas: apesar da volúpia fácil, com o défice, cava-se a sepultura.» Fim de citação. (os destaques no texto são da responsabilidade de Salmoura).

Agora é Salmoura que assume a responsabilidade de dizer que mesmo combatendo o défice, tudo o que está escrito no texto de A. Barreto acontece e tem tendência para continuar a acontecer.

E nisto reside a tragédia:

É na qualidade profissional; no tipo; nas origens profissionais; na dependência pessoal face a grupos económicos e políticos das pessoas que são escolhidas para os diversos cargos da administração da coisa pública - é nisso tudo que reside a tragédia. Assim sendo, não será com mais do mesmo que lá iremos.

É que um país pobre como Portugal não pode dar-se ao luxo de distribuir os dinheiros dos impostos (pagos pelos poucos portugueses que não podem fugir a esse pagamento) por beneficiários ilegítimos, parasitas sociais e outros previamente beneficiados pela fuga ao pagamento desses mesmos impostos.

Todo o artigo de António Barreto pode ser lido aqui