quinta-feira, agosto 28, 2003

OS CRÂNIOS DA NAÇÃO (terlin-tin-tim, terlin-tin-tim...)

Contaram-me que:

Com 14 anos apenas já ia no seu segundo aborto provocado;
Deu entrada de urgência com fortes dores pélvicas provocadas pela ingestão de cinco comprimidos abortivos que se vendem por aí e são facílimos de adquirir;

Todos os dias dão entrada nas urgências hospitalares de obstetrícia várias mulheres que fazem o mesmo: tomam comprimidos para abortar. E abortam.

É crime??

Não é crime?

Devem ser perseguidas?

Devem ser protegidas?

É melhor fazerem isto e irem parar aos hospitais

ou seria melhor continuarem nas parteiras clandestinas com elevados riscos de irem parar aos cemitérios?

Deveriam ter apoio médico desde o início ou devem continuar a só poderem contar com isso quando em desespero sentem o ventre a rebentar?

Quem responde a estas perguntas?

Ou será melhor não nos preocuparmos com estas minudências!

O senhor aí que é deputado de nação, acha que o seu salário se justifica quando as leis que aprovou são inadequadas, inaplicáveis, hipócritas e cripto-criminosas?

E o senhor que é juiz e que admite que a sua filha faça um aborto, como agirá se lhe apresentarem pela frente, para julgar – cumprindo a lei aprovada pelo senhor deputado que também admite que a sua filha faça um aborto – quem vende e quem toma esses comprimidos?

Por favor não me respondam. Não vale a pena. É que isto é uma ficção (do) que se passa num País que não existe. Porque não está nos livros; não está na televisão; não está nos jornais e nas revistas. E também não está nos blogues. Não existe mesmo!

Passa-se no país abandonado aos médicos, esses malandros que nada produzem, tudo escondem e até cometem a heresia de dizer que trabalham.

Se não houvesse segredo profissional médico haveria enormíssimos rombos em instituições respeitabilíssimas que continuam a manter a sua respeitabilidade assente nas maiores mentiras e no maior silêncio. No País que não existe.

Houvesse uma "cápsula do tempo" e pudéssemos sobreviver a ela e ler o que lá depositaria para ser divulgado daqui a, por exemplo, cento e cinquenta anos, ficaríamos todos – no mínimo de monco caído e a perguntar:

PS quê?
CD quê?
Assembleia de quê?
Código de quê?
Ministro, aquele?
Líder?... Deixem-me rir!
Ideólogo?... Pffffffffff!!!

Isso tudo se houvesse esse País.

Mas como ele não existe podemos continuar a viver descansados a blogar uns para os outros e a legislar para que o mundo nos obedeça.

Eu, por mim, é o que vou continuar a fazer. Para além de fazer mais alguma coisa... rezar, rezar muito!

Para que minha filha não tenha que ir aí à esquina comprar os comprimidos que tanta dor provocam.

Mas que resolvem o PROBLEMA que uma chusma de deputados não consegue resolver; que resolvem o que é tão simples mas que se afigura uma autêntica quadratura do círculo para os crânios eleitos pela nação.