terça-feira, agosto 19, 2003

"ENOLA GAY" SIGNO E SÍMBOLO

Pode-se dizer que a glorificação das armas é um atavismo americano – estado-unidense, melhor dizendo, pois há mais América – que entristece uns, provoca revolta noutros, e humilha milhões.

Noticia-se hoje que o "Enola Gay", o avião que a América usou contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, foi restaurado e está pronto a ser exposto num museu para admiração dos visitantes.

Quem manda reconstruir, rever e dar brilho ao avião que causou um dos maiores holocaustos até hoje vistos ao cimo da Terra – quarenta mil mortos (40.000) em Hiroxima ao lançar sobre a cidade e os seus inocentes habitantes a primeira bomba atómica, e contribuiu para mais trinta mil mortos (30.000) em Nagasaki, ao fazer o reconhecimento para o lançamento da segunda bomba atómica – quem faz isso e tem orgulho na arma de destruição maciça mais mortífera até hoje usada contra a humanidade, é capaz de se orgulhar de muito do que é mau: dos snipers, por exemplo, e transmitir esse orgulho aos adolescentes que se treinam de vez em quando nas escolas matando uns aos outros com armas de fogo.

Não nos admiraria nada que daqui a algum tempo a carabina que foi usada pelo sniper americano que matava pessoas com um único tiro disparado da bagageira de um automóvel esteja revista e bem oleada, em exposição num museu qualquer dos Estados Unidos para orgulho da nação, satisfação da curiosidade pública e incentivo de novos atiradores furtivos.

E depois vêm chorar lágrimas de crocodilo enviando pêsames às famílias das vítimas de armas de fogo e prometendo justiça contra os criminosos.