domingo, agosto 24, 2003

CARLOS FINO ASSASSINADO


JPP comete aqui no Abrupto, no post intitulado "Carlos Fino em Bagdad", o verdadeiro assassinato deste jornalista, como tal.

Começa primeiro por anestesiar o leitor desatento considerando Carlos Fino «um jornalista experimentado, seguro, que não hesita em correr riscos para estar no sítio certo no tempo certo».

E conclui essa anestesia considerando que «essa capacidade permitiu-lhe (a Carlos Fino) momentos de reportagem que qualquer jornalista gostaria de ter».

A partir daqui JPP começa a libertar o gás que sufocará Carlos Fino.

E passa a escrever:

1) «Fino não é um jornalista objectivo, nem nada que se pareça.»

2) «Fino é um jornalista programático, que desenvolve o seu trabalho em função da sua opinião e só vê e só comenta o que com ela coincide.»

3) «Se analisarmos os seus relatos da guerra, na estadia anterior (no Iraque), eles revelam um enorme desequilíbrio, insisto, enorme.»

JPP não nos dá – coisa rara em escritos dele: reconheço e fico incrédulo com isso – qualquer dado objectivo para julgarmos estas afirmações tão graves contra um profissional admirado por muitos, precisamente pela qualidade dos seus trabalhos.

É isso: faltam provas – tal como continuam a faltar as provas das tais armas de destruição maciça em que JPP parece ainda acreditar – e é essa falta de provas que nos faz falar em assassinato.

Será que Carlos Fino é culpado de:

a) Não ter ainda mostrado ao mundo as armas de destruição maciça do Iraque;

b) Não ter mostrado ou ter mesmo destruído os documentos que provam o envolvimento do regime de Saddam com a Al-Qaeda de Bin Laden;

c) Convocar para a frente das câmaras da RTP manifestações de repúdio pela incapacidade gritante dos americanos em conseguir um mínimo de controlo, organização e funcionamento das infra-estruturas mais básicas no Iraque, e ignorar as manifestações de carinho e de regozijo por parte dos iraquianos agradecidos pelas excelentes condições de vida que os americanos estão a implantar solidamente naquele país?

Serão essas as culpas de Carlos Fino?

Atrevo-me a dizer que JPP não tem dados credíveis que lhe permitam desmentir Carlos Fino nas reportagens que o mesmo tem feito ultimamente. Eu leio muita imprensa estrangeira, sobretudo americana, e não vejo nela espelhados esses benefícios tremendos que JPP acusa Fino de ignorar. E o que vejo na imprensa americana é sobretudo o incentivo verbal tendente a elevar o moral das tropas e a apaziguar a inquietação que começa a alastrar no seio das famílias americanas que acreditaram em Rumsfeldt quando este lhes garantiu que a invasão do Iraque seria como que um passeio turístico oferecido aos seus filhos vestidos de soldados, e que agora estão apreensivas com o destino reservado a milhares deles nos vespeiros de Bagdad, Bassorá, Tikrit e outras cidades do Iraque.

JPP sabe o que está a fazer. Porque sabe que a sua opinião publicada tem efeitos dentro do PSD (partido de que JPP é deputado europeu) e no Governo.

JPP Pressiona assim o Ministro Morais Sarmento a, por sua vez, pressionar a administração da RTP para colocar Carlos Fino na "prateleira". Quiçá num caixão qualquer onde guardam os cadáveres dos jornalistas cujo trabalho embaraça a política do governo que quer passar para a opinião pública a imagem de um Iraque estável, alvo bom para investimentos financeiros, industriais e comerciais, lugar onde os 120 GNRs portugueses terão pouco trabalho e chegam para garantir a segurança dos cidadãos.

Eu sei que JPP de há muitos anos que tem um diferendo "mortal" com os jornalistas – pelo menos desde os tempos em que, deputado ao parlamento nacional, pretendeu que se restringisse a circulação dos jornalistas pelos corredores de S. Bento –. Mas acho, como cidadão, que se JPP quer combater e abater um jornalista deverá fazê-lo com objectividade e com provas. Porque, apenas com afirmações avulsas, é no mínimo chocante e despropositado.

Carlos Fino merece outro tratamento. Mesmo que se queira combatê-lo, o jogo deve ser limpo.