A EQUAÇÃO DA NOSSA PERPLEXIDADE
papaversomniferum
Arnold Schwarzenegger, o musculadíssimo actor americano e candidato a governador da Califórnia é contestado por ter confessado, no passado, que experimentara marijuana e participara em orgias.
O ministro da presidência do governo português, Morais Sarmento, foi aplaudido a mãos ambas por ter confessado à imprensa o seu passado de consumidor de drogas duras.
Que a propensão para o consumo de drogas revela uma certa fragilidade de personalidade é sabido.
Que a marijuana é uma droga que não deixa sequelas físicas e psicológicas relevantes é também sabido.
Que o consumo de drogas duras deixa sequelas físicas e psicológicas importantes é mais que sabido.
Eis as premissas que nos conduzem a esta equação bizarra:
Schwarzenegger + marujuana = mau candidato para governador da Califórnia.
Morais Sarmento + drogas duras = bom ministro de Portugal.
domingo, agosto 31, 2003
sábado, agosto 30, 2003
ADEUS, ATÉ AO MEU REGRESSO
Assoberbado com trabalho este malandro não tem tempo para postar:
12 horas seguidas de trabalho no dia 22 (6ª feira)
24 horas seguidas no dia 23 (sábado)
24 horas seguidas no dia 25 (2ª feira)
Idêntica dose está acontecendo neste fim de semana.
Vou tentar minorar o sofrimento dos que apanham com as consequências das boas leis e das excelentes gestões dos crânios privilegiados escolhidos a dedo (artrítico) neste País.
Adeus, até ao meu regresso. Dia 2 de Setembro conto estar por aqui. Se não for antes durante o meu descanso de amanhã, domingo.
Assoberbado com trabalho este malandro não tem tempo para postar:
12 horas seguidas de trabalho no dia 22 (6ª feira)
24 horas seguidas no dia 23 (sábado)
24 horas seguidas no dia 25 (2ª feira)
Idêntica dose está acontecendo neste fim de semana.
Vou tentar minorar o sofrimento dos que apanham com as consequências das boas leis e das excelentes gestões dos crânios privilegiados escolhidos a dedo (artrítico) neste País.
Adeus, até ao meu regresso. Dia 2 de Setembro conto estar por aqui. Se não for antes durante o meu descanso de amanhã, domingo.
sexta-feira, agosto 29, 2003
JOÃO BÉNARD DA COSTA REINCIDE
Temos hoje, no jornal "Público", mais uma pérola deste sedutor senhor do cinema e de todas as artes.
Leiam, por favor, e tenham um bom dia.
Está aqui.
Temos hoje, no jornal "Público", mais uma pérola deste sedutor senhor do cinema e de todas as artes.
Leiam, por favor, e tenham um bom dia.
Está aqui.
quinta-feira, agosto 28, 2003
OS CRÂNIOS DA NAÇÃO (terlin-tin-tim, terlin-tin-tim...)
Contaram-me que:
Com 14 anos apenas já ia no seu segundo aborto provocado;
Deu entrada de urgência com fortes dores pélvicas provocadas pela ingestão de cinco comprimidos abortivos que se vendem por aí e são facílimos de adquirir;
Todos os dias dão entrada nas urgências hospitalares de obstetrícia várias mulheres que fazem o mesmo: tomam comprimidos para abortar. E abortam.
É crime??
Não é crime?
Devem ser perseguidas?
Devem ser protegidas?
É melhor fazerem isto e irem parar aos hospitais
ou seria melhor continuarem nas parteiras clandestinas com elevados riscos de irem parar aos cemitérios?
Deveriam ter apoio médico desde o início ou devem continuar a só poderem contar com isso quando em desespero sentem o ventre a rebentar?
Quem responde a estas perguntas?
Ou será melhor não nos preocuparmos com estas minudências!
O senhor aí que é deputado de nação, acha que o seu salário se justifica quando as leis que aprovou são inadequadas, inaplicáveis, hipócritas e cripto-criminosas?
E o senhor que é juiz e que admite que a sua filha faça um aborto, como agirá se lhe apresentarem pela frente, para julgar – cumprindo a lei aprovada pelo senhor deputado que também admite que a sua filha faça um aborto – quem vende e quem toma esses comprimidos?
Por favor não me respondam. Não vale a pena. É que isto é uma ficção (do) que se passa num País que não existe. Porque não está nos livros; não está na televisão; não está nos jornais e nas revistas. E também não está nos blogues. Não existe mesmo!
Passa-se no país abandonado aos médicos, esses malandros que nada produzem, tudo escondem e até cometem a heresia de dizer que trabalham.
Se não houvesse segredo profissional médico haveria enormíssimos rombos em instituições respeitabilíssimas que continuam a manter a sua respeitabilidade assente nas maiores mentiras e no maior silêncio. No País que não existe.
Houvesse uma "cápsula do tempo" e pudéssemos sobreviver a ela e ler o que lá depositaria para ser divulgado daqui a, por exemplo, cento e cinquenta anos, ficaríamos todos – no mínimo de monco caído e a perguntar:
PS quê?
CD quê?
Assembleia de quê?
Código de quê?
Ministro, aquele?
Líder?... Deixem-me rir!
Ideólogo?... Pffffffffff!!!
Isso tudo se houvesse esse País.
Mas como ele não existe podemos continuar a viver descansados a blogar uns para os outros e a legislar para que o mundo nos obedeça.
Eu, por mim, é o que vou continuar a fazer. Para além de fazer mais alguma coisa... rezar, rezar muito!
Para que minha filha não tenha que ir aí à esquina comprar os comprimidos que tanta dor provocam.
Mas que resolvem o PROBLEMA que uma chusma de deputados não consegue resolver; que resolvem o que é tão simples mas que se afigura uma autêntica quadratura do círculo para os crânios eleitos pela nação.
Contaram-me que:
Com 14 anos apenas já ia no seu segundo aborto provocado;
Deu entrada de urgência com fortes dores pélvicas provocadas pela ingestão de cinco comprimidos abortivos que se vendem por aí e são facílimos de adquirir;
Todos os dias dão entrada nas urgências hospitalares de obstetrícia várias mulheres que fazem o mesmo: tomam comprimidos para abortar. E abortam.
É crime??
Não é crime?
Devem ser perseguidas?
Devem ser protegidas?
É melhor fazerem isto e irem parar aos hospitais
ou seria melhor continuarem nas parteiras clandestinas com elevados riscos de irem parar aos cemitérios?
Deveriam ter apoio médico desde o início ou devem continuar a só poderem contar com isso quando em desespero sentem o ventre a rebentar?
Quem responde a estas perguntas?
Ou será melhor não nos preocuparmos com estas minudências!
O senhor aí que é deputado de nação, acha que o seu salário se justifica quando as leis que aprovou são inadequadas, inaplicáveis, hipócritas e cripto-criminosas?
E o senhor que é juiz e que admite que a sua filha faça um aborto, como agirá se lhe apresentarem pela frente, para julgar – cumprindo a lei aprovada pelo senhor deputado que também admite que a sua filha faça um aborto – quem vende e quem toma esses comprimidos?
Por favor não me respondam. Não vale a pena. É que isto é uma ficção (do) que se passa num País que não existe. Porque não está nos livros; não está na televisão; não está nos jornais e nas revistas. E também não está nos blogues. Não existe mesmo!
Passa-se no país abandonado aos médicos, esses malandros que nada produzem, tudo escondem e até cometem a heresia de dizer que trabalham.
Se não houvesse segredo profissional médico haveria enormíssimos rombos em instituições respeitabilíssimas que continuam a manter a sua respeitabilidade assente nas maiores mentiras e no maior silêncio. No País que não existe.
Houvesse uma "cápsula do tempo" e pudéssemos sobreviver a ela e ler o que lá depositaria para ser divulgado daqui a, por exemplo, cento e cinquenta anos, ficaríamos todos – no mínimo de monco caído e a perguntar:
PS quê?
CD quê?
Assembleia de quê?
Código de quê?
Ministro, aquele?
Líder?... Deixem-me rir!
Ideólogo?... Pffffffffff!!!
Isso tudo se houvesse esse País.
Mas como ele não existe podemos continuar a viver descansados a blogar uns para os outros e a legislar para que o mundo nos obedeça.
Eu, por mim, é o que vou continuar a fazer. Para além de fazer mais alguma coisa... rezar, rezar muito!
Para que minha filha não tenha que ir aí à esquina comprar os comprimidos que tanta dor provocam.
Mas que resolvem o PROBLEMA que uma chusma de deputados não consegue resolver; que resolvem o que é tão simples mas que se afigura uma autêntica quadratura do círculo para os crânios eleitos pela nação.
terça-feira, agosto 26, 2003
GESTÃO EMPRESARIALIZADA DOS HOSPITAIS (III)
Como todos sabemos, agora a ordem é poupar ao máximo. Por isso foram mudadas as administrações de trinta e tais hospitais, tendo ido para cada um deles gestores respeitabilíssimos e competentíssimos (nada de boys laranja – era só o que faltava –).
Dentro dessa política de poupança decidiu-se, num hospital, comprar toucas cirúrgicas (aquelas boininhas verdes, azuis, brancas, que o pessoal dos blocos operatórios é obrigado a usar para esconder a peruca e evitar contaminar o ambiente e os doentes).
A escolha recaiu num fornecedor que vendia toucas 20% mais baratas do que os outros.
Então, toca de comprar toucas a esse fornecedor.
Chegado o material aos blocos operatórios verifica-se que as toucas mais baratas são também mais pequenas que as outras e não se consegue (sobretudo as senhoras) esconder a peruca só com uma.
O pessoal é obrigado, por isso, a usar duas toucas de cada vez.
Resultado:
En vez de poupar 20% nos custos de aquisição
Os gastos subiram 60%.
Terlin-tin-tim, terlin-tin-tim, terlin-tin-tim.
Como todos sabemos, agora a ordem é poupar ao máximo. Por isso foram mudadas as administrações de trinta e tais hospitais, tendo ido para cada um deles gestores respeitabilíssimos e competentíssimos (nada de boys laranja – era só o que faltava –).
Dentro dessa política de poupança decidiu-se, num hospital, comprar toucas cirúrgicas (aquelas boininhas verdes, azuis, brancas, que o pessoal dos blocos operatórios é obrigado a usar para esconder a peruca e evitar contaminar o ambiente e os doentes).
A escolha recaiu num fornecedor que vendia toucas 20% mais baratas do que os outros.
Então, toca de comprar toucas a esse fornecedor.
Chegado o material aos blocos operatórios verifica-se que as toucas mais baratas são também mais pequenas que as outras e não se consegue (sobretudo as senhoras) esconder a peruca só com uma.
O pessoal é obrigado, por isso, a usar duas toucas de cada vez.
Resultado:
En vez de poupar 20% nos custos de aquisição
Os gastos subiram 60%.
Terlin-tin-tim, terlin-tin-tim, terlin-tin-tim.
segunda-feira, agosto 25, 2003
ÓDIO A CARLOS FINO
(Desvendem este mistério, caros amigos)
Fui até ao blogue Aviz e pude constatar no post intitulado "Televisão" que o ódio a Carlos Fino é mais vasto do que eu pensava.
Nada de muito palpável se apresenta como sustentáculo do mal que se diz dele.
Fala-se mal dele sem argumentos relevantes; fala-se porque sim.
Fala-se dele como que num bocejo seguido de uma cuspidela pelo canto da boca.
Vejo (leio) isto e fico a pensar:
Será que só eu é que ainda não tinha reparado
Que Carlos Fino é um canibal?
E já agora pergunto:
Quem é que ele anda a comer?
Querem dizer-nos, meus amigos?
(Desvendem este mistério, caros amigos)
Fui até ao blogue Aviz e pude constatar no post intitulado "Televisão" que o ódio a Carlos Fino é mais vasto do que eu pensava.
Nada de muito palpável se apresenta como sustentáculo do mal que se diz dele.
Fala-se mal dele sem argumentos relevantes; fala-se porque sim.
Fala-se dele como que num bocejo seguido de uma cuspidela pelo canto da boca.
Vejo (leio) isto e fico a pensar:
Será que só eu é que ainda não tinha reparado
Que Carlos Fino é um canibal?
E já agora pergunto:
Quem é que ele anda a comer?
Querem dizer-nos, meus amigos?
domingo, agosto 24, 2003
CARLOS FINO ASSASSINADO
JPP comete aqui no Abrupto, no post intitulado "Carlos Fino em Bagdad", o verdadeiro assassinato deste jornalista, como tal.
Começa primeiro por anestesiar o leitor desatento considerando Carlos Fino «um jornalista experimentado, seguro, que não hesita em correr riscos para estar no sítio certo no tempo certo».
E conclui essa anestesia considerando que «essa capacidade permitiu-lhe (a Carlos Fino) momentos de reportagem que qualquer jornalista gostaria de ter».
A partir daqui JPP começa a libertar o gás que sufocará Carlos Fino.
E passa a escrever:
1) «Fino não é um jornalista objectivo, nem nada que se pareça.»
2) «Fino é um jornalista programático, que desenvolve o seu trabalho em função da sua opinião e só vê e só comenta o que com ela coincide.»
3) «Se analisarmos os seus relatos da guerra, na estadia anterior (no Iraque), eles revelam um enorme desequilíbrio, insisto, enorme.»
JPP não nos dá – coisa rara em escritos dele: reconheço e fico incrédulo com isso – qualquer dado objectivo para julgarmos estas afirmações tão graves contra um profissional admirado por muitos, precisamente pela qualidade dos seus trabalhos.
É isso: faltam provas – tal como continuam a faltar as provas das tais armas de destruição maciça em que JPP parece ainda acreditar – e é essa falta de provas que nos faz falar em assassinato.
Será que Carlos Fino é culpado de:
a) Não ter ainda mostrado ao mundo as armas de destruição maciça do Iraque;
b) Não ter mostrado ou ter mesmo destruído os documentos que provam o envolvimento do regime de Saddam com a Al-Qaeda de Bin Laden;
c) Convocar para a frente das câmaras da RTP manifestações de repúdio pela incapacidade gritante dos americanos em conseguir um mínimo de controlo, organização e funcionamento das infra-estruturas mais básicas no Iraque, e ignorar as manifestações de carinho e de regozijo por parte dos iraquianos agradecidos pelas excelentes condições de vida que os americanos estão a implantar solidamente naquele país?
Serão essas as culpas de Carlos Fino?
Atrevo-me a dizer que JPP não tem dados credíveis que lhe permitam desmentir Carlos Fino nas reportagens que o mesmo tem feito ultimamente. Eu leio muita imprensa estrangeira, sobretudo americana, e não vejo nela espelhados esses benefícios tremendos que JPP acusa Fino de ignorar. E o que vejo na imprensa americana é sobretudo o incentivo verbal tendente a elevar o moral das tropas e a apaziguar a inquietação que começa a alastrar no seio das famílias americanas que acreditaram em Rumsfeldt quando este lhes garantiu que a invasão do Iraque seria como que um passeio turístico oferecido aos seus filhos vestidos de soldados, e que agora estão apreensivas com o destino reservado a milhares deles nos vespeiros de Bagdad, Bassorá, Tikrit e outras cidades do Iraque.
JPP sabe o que está a fazer. Porque sabe que a sua opinião publicada tem efeitos dentro do PSD (partido de que JPP é deputado europeu) e no Governo.
JPP Pressiona assim o Ministro Morais Sarmento a, por sua vez, pressionar a administração da RTP para colocar Carlos Fino na "prateleira". Quiçá num caixão qualquer onde guardam os cadáveres dos jornalistas cujo trabalho embaraça a política do governo que quer passar para a opinião pública a imagem de um Iraque estável, alvo bom para investimentos financeiros, industriais e comerciais, lugar onde os 120 GNRs portugueses terão pouco trabalho e chegam para garantir a segurança dos cidadãos.
Eu sei que JPP de há muitos anos que tem um diferendo "mortal" com os jornalistas – pelo menos desde os tempos em que, deputado ao parlamento nacional, pretendeu que se restringisse a circulação dos jornalistas pelos corredores de S. Bento –. Mas acho, como cidadão, que se JPP quer combater e abater um jornalista deverá fazê-lo com objectividade e com provas. Porque, apenas com afirmações avulsas, é no mínimo chocante e despropositado.
Carlos Fino merece outro tratamento. Mesmo que se queira combatê-lo, o jogo deve ser limpo.
JPP comete aqui no Abrupto, no post intitulado "Carlos Fino em Bagdad", o verdadeiro assassinato deste jornalista, como tal.
Começa primeiro por anestesiar o leitor desatento considerando Carlos Fino «um jornalista experimentado, seguro, que não hesita em correr riscos para estar no sítio certo no tempo certo».
E conclui essa anestesia considerando que «essa capacidade permitiu-lhe (a Carlos Fino) momentos de reportagem que qualquer jornalista gostaria de ter».
A partir daqui JPP começa a libertar o gás que sufocará Carlos Fino.
E passa a escrever:
1) «Fino não é um jornalista objectivo, nem nada que se pareça.»
2) «Fino é um jornalista programático, que desenvolve o seu trabalho em função da sua opinião e só vê e só comenta o que com ela coincide.»
3) «Se analisarmos os seus relatos da guerra, na estadia anterior (no Iraque), eles revelam um enorme desequilíbrio, insisto, enorme.»
JPP não nos dá – coisa rara em escritos dele: reconheço e fico incrédulo com isso – qualquer dado objectivo para julgarmos estas afirmações tão graves contra um profissional admirado por muitos, precisamente pela qualidade dos seus trabalhos.
É isso: faltam provas – tal como continuam a faltar as provas das tais armas de destruição maciça em que JPP parece ainda acreditar – e é essa falta de provas que nos faz falar em assassinato.
Será que Carlos Fino é culpado de:
a) Não ter ainda mostrado ao mundo as armas de destruição maciça do Iraque;
b) Não ter mostrado ou ter mesmo destruído os documentos que provam o envolvimento do regime de Saddam com a Al-Qaeda de Bin Laden;
c) Convocar para a frente das câmaras da RTP manifestações de repúdio pela incapacidade gritante dos americanos em conseguir um mínimo de controlo, organização e funcionamento das infra-estruturas mais básicas no Iraque, e ignorar as manifestações de carinho e de regozijo por parte dos iraquianos agradecidos pelas excelentes condições de vida que os americanos estão a implantar solidamente naquele país?
Serão essas as culpas de Carlos Fino?
Atrevo-me a dizer que JPP não tem dados credíveis que lhe permitam desmentir Carlos Fino nas reportagens que o mesmo tem feito ultimamente. Eu leio muita imprensa estrangeira, sobretudo americana, e não vejo nela espelhados esses benefícios tremendos que JPP acusa Fino de ignorar. E o que vejo na imprensa americana é sobretudo o incentivo verbal tendente a elevar o moral das tropas e a apaziguar a inquietação que começa a alastrar no seio das famílias americanas que acreditaram em Rumsfeldt quando este lhes garantiu que a invasão do Iraque seria como que um passeio turístico oferecido aos seus filhos vestidos de soldados, e que agora estão apreensivas com o destino reservado a milhares deles nos vespeiros de Bagdad, Bassorá, Tikrit e outras cidades do Iraque.
JPP sabe o que está a fazer. Porque sabe que a sua opinião publicada tem efeitos dentro do PSD (partido de que JPP é deputado europeu) e no Governo.
JPP Pressiona assim o Ministro Morais Sarmento a, por sua vez, pressionar a administração da RTP para colocar Carlos Fino na "prateleira". Quiçá num caixão qualquer onde guardam os cadáveres dos jornalistas cujo trabalho embaraça a política do governo que quer passar para a opinião pública a imagem de um Iraque estável, alvo bom para investimentos financeiros, industriais e comerciais, lugar onde os 120 GNRs portugueses terão pouco trabalho e chegam para garantir a segurança dos cidadãos.
Eu sei que JPP de há muitos anos que tem um diferendo "mortal" com os jornalistas – pelo menos desde os tempos em que, deputado ao parlamento nacional, pretendeu que se restringisse a circulação dos jornalistas pelos corredores de S. Bento –. Mas acho, como cidadão, que se JPP quer combater e abater um jornalista deverá fazê-lo com objectividade e com provas. Porque, apenas com afirmações avulsas, é no mínimo chocante e despropositado.
Carlos Fino merece outro tratamento. Mesmo que se queira combatê-lo, o jogo deve ser limpo.
sexta-feira, agosto 22, 2003
JOÃO BENARD DA COSTA
Lúcido, muito lúcido como sempre, e com aquele estilo cativante e melodioso, João Benard da Costa escreve hoje no Público.
Leiam, leiam que vale a pena.
Lúcido, muito lúcido como sempre, e com aquele estilo cativante e melodioso, João Benard da Costa escreve hoje no Público.
Leiam, leiam que vale a pena.
quinta-feira, agosto 21, 2003
A PERGUNTA QUE AINDA ESTÁ POR FAZER
Relativamente aos crimes há uma máxima sempre válida e que é uma pergunta primeira que se pensa poder conduzir-nos muito perto do criminoso. E que é:
“A QUEM APROVEITA ESTE CRIME?”
Pois bem, o atentado terrorista contra a sede da delegação das Nações Unidas em Bagdad, que vitimou, entre outros, Sérgio Vieira de Melo, a quem é que interessará?
a) Ao Iraque?
b) Aos Estados Unidos?
c) À Al Qaeda?
d) Aos palestinianos?
e) Aos Países que não apoiaram a invasão do Iraque?
A quem? A quem?
A QUEM APROVEITA ESTE CRIME?...
Sigamos os próximos desenvolvimentos a ver se descortinamos quem são os beneficiários.
Relativamente aos crimes há uma máxima sempre válida e que é uma pergunta primeira que se pensa poder conduzir-nos muito perto do criminoso. E que é:
“A QUEM APROVEITA ESTE CRIME?”
Pois bem, o atentado terrorista contra a sede da delegação das Nações Unidas em Bagdad, que vitimou, entre outros, Sérgio Vieira de Melo, a quem é que interessará?
a) Ao Iraque?
b) Aos Estados Unidos?
c) À Al Qaeda?
d) Aos palestinianos?
e) Aos Países que não apoiaram a invasão do Iraque?
A quem? A quem?
A QUEM APROVEITA ESTE CRIME?...
Sigamos os próximos desenvolvimentos a ver se descortinamos quem são os beneficiários.
terça-feira, agosto 19, 2003
MÁRTIRES PARA O IRAQUE
Lê-se hoje na CNN On-line:
«Blasts rocks U.N. in Bagdad»
«A large explosion ripped through U.N. headquarters at the Canal Hotel in Baghdad today, a U.N. spokeswoman told CNN. The building was evacuated and there were an unknown number of wounded, she told CNN. Sergio Vieira de Mello, the U.N. special representative to Iraq, was badly wounded in the blast, the U.N. spokesman Fred Eckhard said.»
E pergunta-se:
Durão Barroso vai mesmo enviar os 120 potenciais mártires da GNR para o Iraque?
Lê-se hoje na CNN On-line:
«Blasts rocks U.N. in Bagdad»
«A large explosion ripped through U.N. headquarters at the Canal Hotel in Baghdad today, a U.N. spokeswoman told CNN. The building was evacuated and there were an unknown number of wounded, she told CNN. Sergio Vieira de Mello, the U.N. special representative to Iraq, was badly wounded in the blast, the U.N. spokesman Fred Eckhard said.»
E pergunta-se:
Durão Barroso vai mesmo enviar os 120 potenciais mártires da GNR para o Iraque?
"ENOLA GAY" SIGNO E SÍMBOLO
Pode-se dizer que a glorificação das armas é um atavismo americano – estado-unidense, melhor dizendo, pois há mais América – que entristece uns, provoca revolta noutros, e humilha milhões.
Noticia-se hoje que o "Enola Gay", o avião que a América usou contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, foi restaurado e está pronto a ser exposto num museu para admiração dos visitantes.
Quem manda reconstruir, rever e dar brilho ao avião que causou um dos maiores holocaustos até hoje vistos ao cimo da Terra – quarenta mil mortos (40.000) em Hiroxima ao lançar sobre a cidade e os seus inocentes habitantes a primeira bomba atómica, e contribuiu para mais trinta mil mortos (30.000) em Nagasaki, ao fazer o reconhecimento para o lançamento da segunda bomba atómica – quem faz isso e tem orgulho na arma de destruição maciça mais mortífera até hoje usada contra a humanidade, é capaz de se orgulhar de muito do que é mau: dos snipers, por exemplo, e transmitir esse orgulho aos adolescentes que se treinam de vez em quando nas escolas matando uns aos outros com armas de fogo.
Não nos admiraria nada que daqui a algum tempo a carabina que foi usada pelo sniper americano que matava pessoas com um único tiro disparado da bagageira de um automóvel esteja revista e bem oleada, em exposição num museu qualquer dos Estados Unidos para orgulho da nação, satisfação da curiosidade pública e incentivo de novos atiradores furtivos.
E depois vêm chorar lágrimas de crocodilo enviando pêsames às famílias das vítimas de armas de fogo e prometendo justiça contra os criminosos.
Pode-se dizer que a glorificação das armas é um atavismo americano – estado-unidense, melhor dizendo, pois há mais América – que entristece uns, provoca revolta noutros, e humilha milhões.
Noticia-se hoje que o "Enola Gay", o avião que a América usou contra o Japão na Segunda Guerra Mundial, foi restaurado e está pronto a ser exposto num museu para admiração dos visitantes.
Quem manda reconstruir, rever e dar brilho ao avião que causou um dos maiores holocaustos até hoje vistos ao cimo da Terra – quarenta mil mortos (40.000) em Hiroxima ao lançar sobre a cidade e os seus inocentes habitantes a primeira bomba atómica, e contribuiu para mais trinta mil mortos (30.000) em Nagasaki, ao fazer o reconhecimento para o lançamento da segunda bomba atómica – quem faz isso e tem orgulho na arma de destruição maciça mais mortífera até hoje usada contra a humanidade, é capaz de se orgulhar de muito do que é mau: dos snipers, por exemplo, e transmitir esse orgulho aos adolescentes que se treinam de vez em quando nas escolas matando uns aos outros com armas de fogo.
Não nos admiraria nada que daqui a algum tempo a carabina que foi usada pelo sniper americano que matava pessoas com um único tiro disparado da bagageira de um automóvel esteja revista e bem oleada, em exposição num museu qualquer dos Estados Unidos para orgulho da nação, satisfação da curiosidade pública e incentivo de novos atiradores furtivos.
E depois vêm chorar lágrimas de crocodilo enviando pêsames às famílias das vítimas de armas de fogo e prometendo justiça contra os criminosos.
sábado, agosto 16, 2003
METAMORFOSE REGRESSIVA
De repente, como se de um sonho tivesse acordado, depara-se-me perante os olhos toda a crueza do horror que é ver um ídolo despojando-se das suas vestes celestiais, descer ao vale infecto onde habitam os vermes, assumir a sua condição essencial de verme e começar a segregar a mesma baba viscosa que todos nós vermes já vínhamos segregando desde sempre.
De repente, como se de um sonho tivesse acordado, depara-se-me perante os olhos toda a crueza do horror que é ver um ídolo despojando-se das suas vestes celestiais, descer ao vale infecto onde habitam os vermes, assumir a sua condição essencial de verme e começar a segregar a mesma baba viscosa que todos nós vermes já vínhamos segregando desde sempre.
DESTINO CRUEL E INEVITÁVEL DOS ÍDOLOS
Para alguns ídolos a fragilidade está no barro que os sustenta; para outros, está nas vestes emprestadas que não duram sempre e na irresistível tentação do apelo inconsciente da alma ao regresso às origens. De uma forma ou de outra, acabam sempre, inevitavelmente, por estatelar fragorosamente desfeitos em cacos.
Como, aliás, se pode constatar por essa blogosfera fora.
É só dar tempo ao tempo e assistir à sua queda fatal.
Para alguns ídolos a fragilidade está no barro que os sustenta; para outros, está nas vestes emprestadas que não duram sempre e na irresistível tentação do apelo inconsciente da alma ao regresso às origens. De uma forma ou de outra, acabam sempre, inevitavelmente, por estatelar fragorosamente desfeitos em cacos.
Como, aliás, se pode constatar por essa blogosfera fora.
É só dar tempo ao tempo e assistir à sua queda fatal.
sexta-feira, agosto 15, 2003
A METAMORFOSE IMPOSSÍVEL (De minhoca a réptil. De réptil a Deus)
"Uns dizem que sem esperança a vida é impossível, outros que com esperança é vazia. Para mim, que hoje não espero nem desespero, ela é um simples quadro externo, que me inclui a mim, e a que assisto como um espectáculo sem enredo, feito só para divertir os olhos."
(Fernando Pessoa)
A condição do ser humano é modificável apenas na aparência e no comportamento.
Não se conhece ainda o modo pelo qual se pode produzir um verdadeiro "Homem novo".
O que a educação, a instrução e a aquisição cultural produzem são mudanças comportamentais que levam a que as acções conscientes do ser passem a ser geridas a um outro nível do funcionamento do sistema nervoso central, fazendo com que as decisões sejam tomadas numa acção que se diria de bypass sobre a essência original do ser.
Mas a cultura e a educação não apagam a "marca de água", o "carimbo genético" de origem, pré determinados pela fusão dos gâmetas dos progenitores.
Essa marca de água, esse carimbo genético, são tão fortes que mesmo quando o ser educado e culto pensa que se metamorfoseou por completo, através de metanóias sucessivas ao longo da vida, continua a deixar transparecer, das mais variadas formas, a sua origem, a sua essência eminentemente animal.
Às vezes, por exemplo, surgem tendências segregacionistas e de exibicionismo intelectual que relevam o racismo e a xenofobia, o narcisismo e a paranóia; e se revelam no elitismo e no cabotinismo disfarçados pelo verbo cujo domínio permite mascarar o ser genuíno transformando-o, à nossa vista, num ser educado e por vezes hiperbólico.
Enquanto o primeiro, quando não gosta de alguém, é capaz de dizer «você é uma autêntica merda», o segundo di-lo à mesma só que por outras palavras: pode dizer por exemplo, «detesto vermes. A blogosfera está cheia deles e só não os indico por educação».
Basta ler os textos de certos blogueiros eruditos e bem pensantes para descobrir, através da interpretação cuidada desses textos, toda a genuinidade original que os impregna indelevelmente fazendo com que possamos dizer, por exemplo:
a) Este chafurda no alvo preferencial do Pipi, mas parece um cardeal no púlpito abençoando os fiéis na catedral;
b) Aquele martela o teclado como quem usa uma metralhadora, mas fá-lo com subtileza de linguagem, como o sniper americano que alvejava as vítimas de dentro da bagageira de um automóvel;
c) Aqueloutro é megalómano e narcisista, mas disfarça bem armando-se em consciência política da democracia.
E por aí fora.
Os leitores em geral podem "engolir" os textos com facilidade devido à pressa colocada na sua leitura e considerar que de facto:
a) Este é um cardeal irrepreensível
b) Aquele escreve como quem distribui água benta e é incapaz de matar uma mosca
c) Aqueloutro é um verdadeiro filósofo e asceta indiferente às vaidades do mundo, etc., etc.
Mas se um dia pudessem ver essas "sumidades" sem a "tampa" que as cobre – numa análise em grupo, por exemplo; atingidos por uma psicose; perseguidos por um leão em plena selva; ou na cama com a-gata-dona-da-rata-de-que-gostam – então descobririam:
a) No cardeal – o chafurdador.
b) No distribuidor de água benta e filósofo asceta – o sniper
c) No doutrinador imparcial – Napoleão Bonaparte
O ser humano – todos nós sem excepção – não passa de um saco de vaidades disfarçadas de milhentas maneiras.
No dia em que o Pipi aparecesse com a sua verdadeira identidade daria um grande contributo para a compreensão da metamorfose de que falamos.
No fim vai dar tudo ao mesmo:
Esta vida é mesmo uma verdadeira merda à escala universal.
Nota:
Eu já disse que sou minhoca. Alguém já insinuou, na blogosfera, que eu, a par de muitos outros, pertenço a outra espécie (um pouco mais evoluída que a minhoca). Não sei se devo tomar isso como um elogio ou então como falta de preparação em biologia da parte do taxinomista. Enfim… tudo coisas de bichos, entre bichos e para bichos. Coisas de humanos, em suma.
(Fernando Pessoa)
A condição do ser humano é modificável apenas na aparência e no comportamento.
Não se conhece ainda o modo pelo qual se pode produzir um verdadeiro "Homem novo".
O que a educação, a instrução e a aquisição cultural produzem são mudanças comportamentais que levam a que as acções conscientes do ser passem a ser geridas a um outro nível do funcionamento do sistema nervoso central, fazendo com que as decisões sejam tomadas numa acção que se diria de bypass sobre a essência original do ser.
Mas a cultura e a educação não apagam a "marca de água", o "carimbo genético" de origem, pré determinados pela fusão dos gâmetas dos progenitores.
Essa marca de água, esse carimbo genético, são tão fortes que mesmo quando o ser educado e culto pensa que se metamorfoseou por completo, através de metanóias sucessivas ao longo da vida, continua a deixar transparecer, das mais variadas formas, a sua origem, a sua essência eminentemente animal.
Às vezes, por exemplo, surgem tendências segregacionistas e de exibicionismo intelectual que relevam o racismo e a xenofobia, o narcisismo e a paranóia; e se revelam no elitismo e no cabotinismo disfarçados pelo verbo cujo domínio permite mascarar o ser genuíno transformando-o, à nossa vista, num ser educado e por vezes hiperbólico.
Enquanto o primeiro, quando não gosta de alguém, é capaz de dizer «você é uma autêntica merda», o segundo di-lo à mesma só que por outras palavras: pode dizer por exemplo, «detesto vermes. A blogosfera está cheia deles e só não os indico por educação».
Basta ler os textos de certos blogueiros eruditos e bem pensantes para descobrir, através da interpretação cuidada desses textos, toda a genuinidade original que os impregna indelevelmente fazendo com que possamos dizer, por exemplo:
a) Este chafurda no alvo preferencial do Pipi, mas parece um cardeal no púlpito abençoando os fiéis na catedral;
b) Aquele martela o teclado como quem usa uma metralhadora, mas fá-lo com subtileza de linguagem, como o sniper americano que alvejava as vítimas de dentro da bagageira de um automóvel;
c) Aqueloutro é megalómano e narcisista, mas disfarça bem armando-se em consciência política da democracia.
E por aí fora.
Os leitores em geral podem "engolir" os textos com facilidade devido à pressa colocada na sua leitura e considerar que de facto:
a) Este é um cardeal irrepreensível
b) Aquele escreve como quem distribui água benta e é incapaz de matar uma mosca
c) Aqueloutro é um verdadeiro filósofo e asceta indiferente às vaidades do mundo, etc., etc.
Mas se um dia pudessem ver essas "sumidades" sem a "tampa" que as cobre – numa análise em grupo, por exemplo; atingidos por uma psicose; perseguidos por um leão em plena selva; ou na cama com a-gata-dona-da-rata-de-que-gostam – então descobririam:
a) No cardeal – o chafurdador.
b) No distribuidor de água benta e filósofo asceta – o sniper
c) No doutrinador imparcial – Napoleão Bonaparte
O ser humano – todos nós sem excepção – não passa de um saco de vaidades disfarçadas de milhentas maneiras.
No dia em que o Pipi aparecesse com a sua verdadeira identidade daria um grande contributo para a compreensão da metamorfose de que falamos.
No fim vai dar tudo ao mesmo:
Esta vida é mesmo uma verdadeira merda à escala universal.
Nota:
Eu já disse que sou minhoca. Alguém já insinuou, na blogosfera, que eu, a par de muitos outros, pertenço a outra espécie (um pouco mais evoluída que a minhoca). Não sei se devo tomar isso como um elogio ou então como falta de preparação em biologia da parte do taxinomista. Enfim… tudo coisas de bichos, entre bichos e para bichos. Coisas de humanos, em suma.
quinta-feira, agosto 14, 2003
O CORAÇÃO DA AMÉRICA ESTÁ PARADO
Nova York e outras cidades americanas e canadianas estão, desde há mais de uma hora, sem energia.
Pode não ser nada de especial; pode dever-se apenas a um excessivo consumo de energia devido ao calor.
Mas não deixa de ser curioso que se verifique simultaneamente em cidades tão distantes umas das outras e no país tecnologicamente mais evoluído do planeta.
No mínimo é um sinal dos tempos.
Tanta vulnerabilidade escondida posta a descoberto em tão pouco tempo dá que pensar.
Esperam-se as opiniões dos especialistas.
Será este o começo do fim de mais um império?
Nova York e outras cidades americanas e canadianas estão, desde há mais de uma hora, sem energia.
Pode não ser nada de especial; pode dever-se apenas a um excessivo consumo de energia devido ao calor.
Mas não deixa de ser curioso que se verifique simultaneamente em cidades tão distantes umas das outras e no país tecnologicamente mais evoluído do planeta.
No mínimo é um sinal dos tempos.
Tanta vulnerabilidade escondida posta a descoberto em tão pouco tempo dá que pensar.
Esperam-se as opiniões dos especialistas.
Será este o começo do fim de mais um império?
domingo, agosto 10, 2003
PACHECO PEREIRA E O "24 HORAS"
Há já alguns dias (só não o fiz antes por estar de férias) que gostaria de escrever algo sobre o problema tratado por Pacheco Pereira no post intitulado "Também ele" no Abrupto. A saber: o jornal "24 Horas" terá acusado PP de fuga ao fisco ao declarar o seu trabalho para jornais e na rádio como trabalho de autor ("autorias") pagando por isso impostos reduzidos (os autores são assim protegidos por lei), e não "serviços prestados" situação essa em que pagaria mais impostos.
Cabe discutir se um comentário feito na rádio ou escrito nos jornais deve ser considerado trabalho de autor, e, como tal, alvo da aplicação generosa de imposto pelas Finanças, por se tratar de um produto cultural, ou deverá antes ser considerado um produto comercial que, pago como tal, deve, por isso, sofrer um imposto mais consentâneo com esse carácter não cultural.
Pacheco Pereira entende que essa distinção cabe por inteiro às Finanças, e só a ela, e não ao jornal 24 Horas. Sendo isso verdade, não fica, porém, o jornal impedido de dar opinião sobre o assunto.
Ao pretender que o assunto só diga respeito a ele e às Finanças, PP cai em profunda contradição, pois, uma das suas actividades (aquela por que é mais conhecido) é dar opinião: opina muito e bem – diria até, indispensavelmente – sobre os mais variados assuntos; e para não ir mais longe fiquemo-nos por estes três apenas:
1)Uso de foguetes em festas e romarias – competeria apenas ao ministério da Administração Interna tratar disso –;
2) Incêndios – os bombeiros, a protecção civil etc. é que teriam a exclusividade para tratar o problema –;
3) A venalidade ou não de Paulo Portas, abordada há tempos na TSF, – caberia somente aos tribunais discutir o assunto –.
Por aqui se vê que sendo a sua relação com as Finanças um assunto que compete a esta instituição e a ele, pode também, muito bem, ser abordado por um jornal. Não é um assunto tabu, fechado, proibido. Embora seja, até certo ponto, privado. Mas a privacidade tem limites muito largos quando se trata de personalidades públicas como é o caso de PP.
A colaboração paga, duradoura no tempo, rigorosamente agendada, publicitada e publicada com finalidades comerciais – não nos esqueçamos que é com essas "colaborações" valiosas que os jornais, as rádios e televisões ganham cada vez maior audiência e angariam nessa base publicidade cada vez mais cara – não me parece, por estas características, que possa ser considerada "trabalho de autor" (de Pacheco Pereira ou de qualquer outro cidadão).
Por maior simpatia que eu possa nutrir (e sinceramente nutro) por PP, cujas intervenções públicas nos média constituem matéria formativa para os leitores, não posso, contudo, concordar que as suas opiniões, publicadas onde são, se assemelham aos "Irmãos Karamnzov" de Dostoyevski, à poesia de Fernando Pessoa, ou às palestras de George Soros. Por muito que a lei em vigor permita que assim seja classificada para motivos de impostos.
Quanto à ideia deixada por PP de que poderá vir a divulgar as suas declarações de IRS na Internet, penso que, se o fizer, cometerá um grande erro. Em próximo post direi porquê.
Há já alguns dias (só não o fiz antes por estar de férias) que gostaria de escrever algo sobre o problema tratado por Pacheco Pereira no post intitulado "Também ele" no Abrupto. A saber: o jornal "24 Horas" terá acusado PP de fuga ao fisco ao declarar o seu trabalho para jornais e na rádio como trabalho de autor ("autorias") pagando por isso impostos reduzidos (os autores são assim protegidos por lei), e não "serviços prestados" situação essa em que pagaria mais impostos.
Cabe discutir se um comentário feito na rádio ou escrito nos jornais deve ser considerado trabalho de autor, e, como tal, alvo da aplicação generosa de imposto pelas Finanças, por se tratar de um produto cultural, ou deverá antes ser considerado um produto comercial que, pago como tal, deve, por isso, sofrer um imposto mais consentâneo com esse carácter não cultural.
Pacheco Pereira entende que essa distinção cabe por inteiro às Finanças, e só a ela, e não ao jornal 24 Horas. Sendo isso verdade, não fica, porém, o jornal impedido de dar opinião sobre o assunto.
Ao pretender que o assunto só diga respeito a ele e às Finanças, PP cai em profunda contradição, pois, uma das suas actividades (aquela por que é mais conhecido) é dar opinião: opina muito e bem – diria até, indispensavelmente – sobre os mais variados assuntos; e para não ir mais longe fiquemo-nos por estes três apenas:
1)Uso de foguetes em festas e romarias – competeria apenas ao ministério da Administração Interna tratar disso –;
2) Incêndios – os bombeiros, a protecção civil etc. é que teriam a exclusividade para tratar o problema –;
3) A venalidade ou não de Paulo Portas, abordada há tempos na TSF, – caberia somente aos tribunais discutir o assunto –.
Por aqui se vê que sendo a sua relação com as Finanças um assunto que compete a esta instituição e a ele, pode também, muito bem, ser abordado por um jornal. Não é um assunto tabu, fechado, proibido. Embora seja, até certo ponto, privado. Mas a privacidade tem limites muito largos quando se trata de personalidades públicas como é o caso de PP.
A colaboração paga, duradoura no tempo, rigorosamente agendada, publicitada e publicada com finalidades comerciais – não nos esqueçamos que é com essas "colaborações" valiosas que os jornais, as rádios e televisões ganham cada vez maior audiência e angariam nessa base publicidade cada vez mais cara – não me parece, por estas características, que possa ser considerada "trabalho de autor" (de Pacheco Pereira ou de qualquer outro cidadão).
Por maior simpatia que eu possa nutrir (e sinceramente nutro) por PP, cujas intervenções públicas nos média constituem matéria formativa para os leitores, não posso, contudo, concordar que as suas opiniões, publicadas onde são, se assemelham aos "Irmãos Karamnzov" de Dostoyevski, à poesia de Fernando Pessoa, ou às palestras de George Soros. Por muito que a lei em vigor permita que assim seja classificada para motivos de impostos.
Quanto à ideia deixada por PP de que poderá vir a divulgar as suas declarações de IRS na Internet, penso que, se o fizer, cometerá um grande erro. Em próximo post direi porquê.
terça-feira, agosto 05, 2003
GRADECÍSSIMA MERDA
Fui bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian nos anos setenta.
No segundo ano do meu curso fui chamado à Fundação para uma entrevista com o Sr. director das bolsas para os estudantes ultramarinos.
Um senhor muito polido e muito simpático recebeu-me num amplíssimo e respeitabilíssimo gabinete onde me ofereceu o primeiro sofá verdadeiramente em pele que em que me sentei (afundei, melhor dizendo) pela primeira vez na minha vida.
Fez-me um interrogatório protocolar extremamente profissional anotando todas as minhas respostas numa folha própria previamente preparada para o efeito.
A páginas tantas do interrogatório resolvi subverter a solenidade que o acto estava tendo e disse-lhe abertamente: senhor director, penso que para além da bolsa deveria haver um subsídio para a compra de livros. É que os livros do meu curso são muito caros e não posso adquiri-los todos com o pouco dinheiro de que disponho.
Num repente resolvi mentir teatralizando uma fantasia. Então eu disse-lhe: olhe, eu, há dias, nas vésperas do exame de tal cadeira, na impossibilidade de ter o livro tal para estudar, roubei o de um colega meu, filho de ricos de Cascais – a ele não deve ter feiro diferença por aí além, e a mim fez-me um jeitão pois tive um quinze em dita cadeira –.
O homem ficou lívido. Olhou para mim com espanto, levantou-se, passeou-se pelo amplo gabinete, e disse-me confidentemente: «vou fazer de conta que não ouvi nada, pode sair e desejo-lhe muitas felicidades».
Doze anos passados sobre este episódio (sem que alguma vez eu tivesse visto o tão almejado subsídio), já licenciado e trabalhando numa instituição pública, vi um dia o "senhor director para as bolsas dos estudantes ultramarinos" feito um farrapo humano, internado num serviço de neurologia, vestido com um balandrau surrado, vivendo na maior solidão e tomando a sopa aguada das enfermarias hospitalares e à espera da chamada final para a tumba.
São momentos destes que nos levam, na nossa profissão, a "descer ao real" e a dizer: porra que esta vida não passa de uma grandecíssima merda.
Quando leio certos blogues de estilo enxofrado produzidos por autores hiperbólicos de valor intelectual infinito... penso o mesmo: não sabes, pá, mas tudo isto não passa de uma grandecíssima merda.
E aptece-me muitas vezes dizer-lhes: lê o Salmoura que ainda aprendes alguma coisa com esta minhoca antes de morreres.
Fui bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian nos anos setenta.
No segundo ano do meu curso fui chamado à Fundação para uma entrevista com o Sr. director das bolsas para os estudantes ultramarinos.
Um senhor muito polido e muito simpático recebeu-me num amplíssimo e respeitabilíssimo gabinete onde me ofereceu o primeiro sofá verdadeiramente em pele que em que me sentei (afundei, melhor dizendo) pela primeira vez na minha vida.
Fez-me um interrogatório protocolar extremamente profissional anotando todas as minhas respostas numa folha própria previamente preparada para o efeito.
A páginas tantas do interrogatório resolvi subverter a solenidade que o acto estava tendo e disse-lhe abertamente: senhor director, penso que para além da bolsa deveria haver um subsídio para a compra de livros. É que os livros do meu curso são muito caros e não posso adquiri-los todos com o pouco dinheiro de que disponho.
Num repente resolvi mentir teatralizando uma fantasia. Então eu disse-lhe: olhe, eu, há dias, nas vésperas do exame de tal cadeira, na impossibilidade de ter o livro tal para estudar, roubei o de um colega meu, filho de ricos de Cascais – a ele não deve ter feiro diferença por aí além, e a mim fez-me um jeitão pois tive um quinze em dita cadeira –.
O homem ficou lívido. Olhou para mim com espanto, levantou-se, passeou-se pelo amplo gabinete, e disse-me confidentemente: «vou fazer de conta que não ouvi nada, pode sair e desejo-lhe muitas felicidades».
Doze anos passados sobre este episódio (sem que alguma vez eu tivesse visto o tão almejado subsídio), já licenciado e trabalhando numa instituição pública, vi um dia o "senhor director para as bolsas dos estudantes ultramarinos" feito um farrapo humano, internado num serviço de neurologia, vestido com um balandrau surrado, vivendo na maior solidão e tomando a sopa aguada das enfermarias hospitalares e à espera da chamada final para a tumba.
São momentos destes que nos levam, na nossa profissão, a "descer ao real" e a dizer: porra que esta vida não passa de uma grandecíssima merda.
Quando leio certos blogues de estilo enxofrado produzidos por autores hiperbólicos de valor intelectual infinito... penso o mesmo: não sabes, pá, mas tudo isto não passa de uma grandecíssima merda.
E aptece-me muitas vezes dizer-lhes: lê o Salmoura que ainda aprendes alguma coisa com esta minhoca antes de morreres.
segunda-feira, agosto 04, 2003
ACABARAM-SE FINALMENTE OS INCÊNDIOS. UFF!
VOLTA GUTERRES. ESTÁS PERDOADO!
Felizmente o governo agiu a tempo.
Durão Barroso veio hoje declarar o "estado de calamidade pública" e apresentar ao País a solução do magno problema dos incêndios:
50.000.000 € (cinquenta milhões de euros - dez milhões de contos em moeda antiga).
Uma solução à Guterres que tanto fora criticado no passado por usá-la.
Afinal a melhor maneira de resolver os problemas em Portugal ainda continua a ser "deitar dinheiro sobre os problemas" - acusação que ouvi muito boa gente fazer a Guterres no passado. Pacheco Pereira, neste pormenor, esteve sempre em primeira linha -.
Não se ouviu do primeiro ministro (pelo menos pelo que as televisões transmitiram) mais nada senão banalidades; nenhuma solução outra para o problema dos incêndios senão o anúncio à boca cheia dos parcos mas elásticos (supõe-se) cinquenta milhões que, como se costuma dizer na minha terra, "não chegam para encher a cova de um dente furado de uma boca faminta".
Volta Guterres. Estás perdoado!
VOLTA GUTERRES. ESTÁS PERDOADO!
Felizmente o governo agiu a tempo.
Durão Barroso veio hoje declarar o "estado de calamidade pública" e apresentar ao País a solução do magno problema dos incêndios:
50.000.000 € (cinquenta milhões de euros - dez milhões de contos em moeda antiga).
Uma solução à Guterres que tanto fora criticado no passado por usá-la.
Afinal a melhor maneira de resolver os problemas em Portugal ainda continua a ser "deitar dinheiro sobre os problemas" - acusação que ouvi muito boa gente fazer a Guterres no passado. Pacheco Pereira, neste pormenor, esteve sempre em primeira linha -.
Não se ouviu do primeiro ministro (pelo menos pelo que as televisões transmitiram) mais nada senão banalidades; nenhuma solução outra para o problema dos incêndios senão o anúncio à boca cheia dos parcos mas elásticos (supõe-se) cinquenta milhões que, como se costuma dizer na minha terra, "não chegam para encher a cova de um dente furado de uma boca faminta".
Volta Guterres. Estás perdoado!
domingo, agosto 03, 2003
OS INCÊNDIOS, SEMPRE OS INCÊNDIOS
É sabido que a oposição aproveita tudo (está no seu papel) para atacar o governo.
Talvez tolhido pelos casos que têm a ver com a justiça, o PS ainda não veio atacar fortemente a "incapacidade", a "inoperância", a "falta de meios", a "falta de planeamento e prevenção, por parte do governo", no que diz respeito aos incêndios que transformaram o País no maior braseiro que há memória nos últimos vinte/trinta anos.
Sou das pessoas que acham que um país como Portugal, atrasado, desleixado e onde impera a filosofia do deixa andar, estas coisas acontecem sempre da mesma maneira qualquer que seja o governo.
Mas seria interessante passarem outra vez nas televisões as reportagens de arquivo, de há três/quatro anos atrás, em que me lembro de ver gente do PSD, agora no poder, a desancar desalmadamente a incapacidade socialista de então para lidar com os incêndios e a prometer mudar tudo para melhor, em duas penadas, mal tomassem conta do poder.
Pois aí estão os do PSD no poder.
E é o que se vê?
A mesma "incapacidade";
a mesma "inoperância";
a mesma "falta de meios";
a mesma "falta de planeamento e prevenção, por parte do governo".
Um quadro típico português que devia fazer todos chorar em silêncio, envergonhados com a falta de profissionalismo – o problema é fundamentalmente este – que se repete ano após ano.
Que Deus nos socorra.
Ámen!
É sabido que a oposição aproveita tudo (está no seu papel) para atacar o governo.
Talvez tolhido pelos casos que têm a ver com a justiça, o PS ainda não veio atacar fortemente a "incapacidade", a "inoperância", a "falta de meios", a "falta de planeamento e prevenção, por parte do governo", no que diz respeito aos incêndios que transformaram o País no maior braseiro que há memória nos últimos vinte/trinta anos.
Sou das pessoas que acham que um país como Portugal, atrasado, desleixado e onde impera a filosofia do deixa andar, estas coisas acontecem sempre da mesma maneira qualquer que seja o governo.
Mas seria interessante passarem outra vez nas televisões as reportagens de arquivo, de há três/quatro anos atrás, em que me lembro de ver gente do PSD, agora no poder, a desancar desalmadamente a incapacidade socialista de então para lidar com os incêndios e a prometer mudar tudo para melhor, em duas penadas, mal tomassem conta do poder.
Pois aí estão os do PSD no poder.
E é o que se vê?
A mesma "incapacidade";
a mesma "inoperância";
a mesma "falta de meios";
a mesma "falta de planeamento e prevenção, por parte do governo".
Um quadro típico português que devia fazer todos chorar em silêncio, envergonhados com a falta de profissionalismo – o problema é fundamentalmente este – que se repete ano após ano.
Que Deus nos socorra.
Ámen!
CONFISSÃO
Encaro os meu blogues como uma espécie de território onde o meu poder é absoluto, porque a soberania não se discute. Autodeterminei-me quando os construí, comecei a exercer neles a minha liberdade (com sentido de responsabilidade) e adoptei como regra básica não me deixar moldar por "regras" que outros possam querer impor ao funcionamento dos blogues.
Escrevo para ser lido, sim senhor; tenho em cada um deles um sitemeter que me permite saber se sou lido e desde onde (geograficamente falando), mas não ligo muito ao número de pageviews – antes me interessa mais o número de visitantes.
Não creio, como Eduardo Prado Coelho, que o fenómeno bloguístico seja uma moda de Verão para todos. Enquanto eu durar e os servers forem gratuitos aqui escreverei o meu livro, o meu jornal, o meu diário, a minha história, tudo que nunca seria feito em papel.
É aqui que me ombreio, de igual para igual (é o que sinto, paciência), com intelectuais consagrados, com políticos e deputados, com críticos e empresários, sem ter que pedir licença a ninguém, e isto é que é o mais importante: não se pede licença. É aqui que eu faço correr o meu rio e digo como Pacheco Pereira profetizou hoje num post das 08:38 "esta é a minha água e corre por aqui". Tenha essa água a cor que tiver.
Veja o post das 08:38 de JPP no Abrupto
Encaro os meu blogues como uma espécie de território onde o meu poder é absoluto, porque a soberania não se discute. Autodeterminei-me quando os construí, comecei a exercer neles a minha liberdade (com sentido de responsabilidade) e adoptei como regra básica não me deixar moldar por "regras" que outros possam querer impor ao funcionamento dos blogues.
Escrevo para ser lido, sim senhor; tenho em cada um deles um sitemeter que me permite saber se sou lido e desde onde (geograficamente falando), mas não ligo muito ao número de pageviews – antes me interessa mais o número de visitantes.
Não creio, como Eduardo Prado Coelho, que o fenómeno bloguístico seja uma moda de Verão para todos. Enquanto eu durar e os servers forem gratuitos aqui escreverei o meu livro, o meu jornal, o meu diário, a minha história, tudo que nunca seria feito em papel.
É aqui que me ombreio, de igual para igual (é o que sinto, paciência), com intelectuais consagrados, com políticos e deputados, com críticos e empresários, sem ter que pedir licença a ninguém, e isto é que é o mais importante: não se pede licença. É aqui que eu faço correr o meu rio e digo como Pacheco Pereira profetizou hoje num post das 08:38 "esta é a minha água e corre por aqui". Tenha essa água a cor que tiver.
Veja o post das 08:38 de JPP no Abrupto
MÚSICA – SÓ MÚSICA
As listas de espera para cirurgias mantêm o mesmo número de doentes em espera ou estão mesmo a aumentar. O que tem diminuído é "aquela lista de espera que foi feita há quase dois anos" e da qual se tem abatido os doentes operados.
É neste contexto que uma doente que foi há dias a uma consulta hospitalar, e depois de ouvir do médico que a patologia dela só podia ser tratada mediante cirurgia, perguntou ao clínico – «Sr. Doutor, vai-me operar hoje»–.
Terlin-tin-tin... terlin-tin-tin... terlin-tin-tin...
Lembrei-me logo daquela balalaika freneticamente tocada que aparece no filme de Sergei Eisenstein "Couraçado Potenkin" significando a inutilidade dos discursos políticos.
As listas de espera para cirurgias mantêm o mesmo número de doentes em espera ou estão mesmo a aumentar. O que tem diminuído é "aquela lista de espera que foi feita há quase dois anos" e da qual se tem abatido os doentes operados.
É neste contexto que uma doente que foi há dias a uma consulta hospitalar, e depois de ouvir do médico que a patologia dela só podia ser tratada mediante cirurgia, perguntou ao clínico – «Sr. Doutor, vai-me operar hoje»–.
Terlin-tin-tin... terlin-tin-tin... terlin-tin-tin...
Lembrei-me logo daquela balalaika freneticamente tocada que aparece no filme de Sergei Eisenstein "Couraçado Potenkin" significando a inutilidade dos discursos políticos.
sábado, agosto 02, 2003
NARANA COISORÓ, PACHECO PEREIRA – O QUE É QUE VOCÊS DIRIAM?
Falei no meu ar aciganado mas eu não sei bem que ar é que eu tenho.
1) Em 1972 a polícia alemã investigou-me a fundo quando de comboio eu fazia o percurso Colónia/Amburgo/Copenhaga, na altura em que se disputavam os jogos olímpicos de Munique e houvera o atentado palestiniano contra os atletas olímpicos israelitas. Aí fui considerado árabe, provavelmente palestiniano, tal o vigor e a profundidade do interrogatório. Mesmo depois de libertado ainda fui seguido por um espia até Copenhaga onde me esperava na gare ferroviária o meu amigo Henrik Selsoe Sorensen. Ao vê-lo o espia deve ter ficado descansado: um típico nórdico – uma espécie de Harrison Ford mas muito mais louro, mais corpulento e de olhos azuis como esmeraldas –.
2) Em Hong Kong, em plenos anos 90, mais de 20 anos depois do episódio na Alemanha acima relatado, um Sick de turbante interpelou-me zangado numa drugstore apontando para o sinal pintado entre as sobrancelhas dele, sinal que significava "homem casado" e lhe dava, por isso, prioridade sobre mim no acesso às caixas de pagamento uma vez que eu, também um sick, suponho, só podia ser solteiro pois não estava identificado doutro modo.
3) Quando vou a uma loja indiana – sempre foi assim – faço as minhas compras todas, deposito-as no balcão, não digo palavra, e sou sempre agradavelmente brindado com descontos da ordem dos 25%, 30%, e por vezes mais.
4) Quando os ciganos (muitas vezes com razão, confesso) armam brigas no meu local de trabalho e ameaçam matar este e aquele, vêm logo a correr chamar-me para falar com eles – você é que sabe falar com eles, por favor, vá ali porque senão vai ser uma tragédia –. Chego ao local, olho para o cigano mais velho, e no meio da balbúrdia geral, digo-lhe quase sempre isto: meu amigo, venha comigo para eu saber o que se passa. Conduzo-o a um gabinete onde ele se sente gente (português com direitos) e calmamente me inteiro da situação – e não é que a maior parte das vezes lhes dou razão? – E esta hein? Saudoso Fernando Pessa, descanse em paz.
5) Por fim (não conto mais mas creiam que há coisas saborosas por causa da minha aparência) conto só isto: quando cheguei à Dinamarca, em 1972, conheci uma moça que um dia me disse: «gostaria de ter um filho preto como tu».
Narana Coissoró, Pacheco Pereira – o que é que vocês diriam a essa desavergonhada? –.
Falei no meu ar aciganado mas eu não sei bem que ar é que eu tenho.
1) Em 1972 a polícia alemã investigou-me a fundo quando de comboio eu fazia o percurso Colónia/Amburgo/Copenhaga, na altura em que se disputavam os jogos olímpicos de Munique e houvera o atentado palestiniano contra os atletas olímpicos israelitas. Aí fui considerado árabe, provavelmente palestiniano, tal o vigor e a profundidade do interrogatório. Mesmo depois de libertado ainda fui seguido por um espia até Copenhaga onde me esperava na gare ferroviária o meu amigo Henrik Selsoe Sorensen. Ao vê-lo o espia deve ter ficado descansado: um típico nórdico – uma espécie de Harrison Ford mas muito mais louro, mais corpulento e de olhos azuis como esmeraldas –.
2) Em Hong Kong, em plenos anos 90, mais de 20 anos depois do episódio na Alemanha acima relatado, um Sick de turbante interpelou-me zangado numa drugstore apontando para o sinal pintado entre as sobrancelhas dele, sinal que significava "homem casado" e lhe dava, por isso, prioridade sobre mim no acesso às caixas de pagamento uma vez que eu, também um sick, suponho, só podia ser solteiro pois não estava identificado doutro modo.
3) Quando vou a uma loja indiana – sempre foi assim – faço as minhas compras todas, deposito-as no balcão, não digo palavra, e sou sempre agradavelmente brindado com descontos da ordem dos 25%, 30%, e por vezes mais.
4) Quando os ciganos (muitas vezes com razão, confesso) armam brigas no meu local de trabalho e ameaçam matar este e aquele, vêm logo a correr chamar-me para falar com eles – você é que sabe falar com eles, por favor, vá ali porque senão vai ser uma tragédia –. Chego ao local, olho para o cigano mais velho, e no meio da balbúrdia geral, digo-lhe quase sempre isto: meu amigo, venha comigo para eu saber o que se passa. Conduzo-o a um gabinete onde ele se sente gente (português com direitos) e calmamente me inteiro da situação – e não é que a maior parte das vezes lhes dou razão? – E esta hein? Saudoso Fernando Pessa, descanse em paz.
5) Por fim (não conto mais mas creiam que há coisas saborosas por causa da minha aparência) conto só isto: quando cheguei à Dinamarca, em 1972, conheci uma moça que um dia me disse: «gostaria de ter um filho preto como tu».
Narana Coissoró, Pacheco Pereira – o que é que vocês diriam a essa desavergonhada? –.
GESTÃO EMPRESARIALIZADA DOS HOSPITAIS (II)
(O Estado a saque?)
Leio hoje no DN:
«A polémica em torno da gestão do Hospital Amadora-Sintra, que se arrastava desde finais de 2001, chegou ontem ao fim, tendo aquela unidade hospitalar, pertencente ao Grupo Mello, «levado a melhor» sobre o Estado.»
«A sociedade gestora não só não terá de devolver os 75 milhões de euros (15 milhões de contos) que alegadamente e de forma indevida terá recebido do Estado, entre 1995 e 2001, como receberá à volta de sete milhões de contos referentes ao exercício de 2000/2001.»
«Assim o decidiu o tribunal arbitral, criado no final do ano passado para resolver o diferendo financeiro entre o Estado e o Amadora-Sintra.»
«A decisão tomada por unanimidade do tribunal arbitral, constituído por Calvão da Silva, Maria de Jesus Serra Lopes e Fausto de Quadros, contrariam as conclusões do Tribunal de Contas e das inspecções-gerais de Saúde e das Finanças (no relatório de Julho de 2002 indicia «a existência de irregularidades» na gestão).»
«É um tribunal privado que vem pôr em causa a actividade inspectiva. A partir de agora ninguém mais vai respeitar a Inspecção-Geral das Finanças que é de alto nível e cujas auditorias nunca foram questionadas.»
Coloco três perguntas ingénuas que me surgiram por puro acaso:
1) Quem teve a ideia genial de criar um tribunal privado com mais poderes que qualquer outro tribunal existente no País?
1) Onde trabalhava esse "génio" antes de ter as funções que actualmente desempenha?
2) Consegue alguém adivinhar onde irá trabalhar esse "génio" depois de sair do lugar que ora ocupa?
(O Estado a saque?)
Leio hoje no DN:
«A polémica em torno da gestão do Hospital Amadora-Sintra, que se arrastava desde finais de 2001, chegou ontem ao fim, tendo aquela unidade hospitalar, pertencente ao Grupo Mello, «levado a melhor» sobre o Estado.»
«A sociedade gestora não só não terá de devolver os 75 milhões de euros (15 milhões de contos) que alegadamente e de forma indevida terá recebido do Estado, entre 1995 e 2001, como receberá à volta de sete milhões de contos referentes ao exercício de 2000/2001.»
«Assim o decidiu o tribunal arbitral, criado no final do ano passado para resolver o diferendo financeiro entre o Estado e o Amadora-Sintra.»
«A decisão tomada por unanimidade do tribunal arbitral, constituído por Calvão da Silva, Maria de Jesus Serra Lopes e Fausto de Quadros, contrariam as conclusões do Tribunal de Contas e das inspecções-gerais de Saúde e das Finanças (no relatório de Julho de 2002 indicia «a existência de irregularidades» na gestão).»
«É um tribunal privado que vem pôr em causa a actividade inspectiva. A partir de agora ninguém mais vai respeitar a Inspecção-Geral das Finanças que é de alto nível e cujas auditorias nunca foram questionadas.»
Coloco três perguntas ingénuas que me surgiram por puro acaso:
1) Quem teve a ideia genial de criar um tribunal privado com mais poderes que qualquer outro tribunal existente no País?
1) Onde trabalhava esse "génio" antes de ter as funções que actualmente desempenha?
2) Consegue alguém adivinhar onde irá trabalhar esse "génio" depois de sair do lugar que ora ocupa?
sexta-feira, agosto 01, 2003
ORGULHO CIGANO
Estava hoje no café a ler o jornal da manhã quando se sentaram quatro ciganos barulhentos a uma mesa contígua à minha. O motivo de tamanho alvoroço vinha no jornal desportivo que um deles lia, com amplos sublinhados vocais, para o resto do grupo. Tratava-se da soberba exibição do futebolista cigano, Ricardo Quaresma, recentemente transferido do Sporting para o Barcelona de Espanha. Segundo o jornal, Quaresma terá feito com que o poderoso campeão europeu, AC Milan, de Itália, se ajoelhasse, literalmente, a seus pés pois marcou um golaço e inundou o estádio de pura magia e criatividade. – «Foi considerado o melhor jogador em campo» – não parava de repetir o cigano leitor.
Esta foi uma das raras vezes que constatei, na prática, a utilidade de um jornal desportivo. Das outras vezes o que tenho constatado é a serventia do mesmo para polémicas estéreis e quadrangulares, de gente quadrada dos mais variados estratos sociais.
Quando me levantei da mesa não resisti a colocar uma mão no ombro do cigano mais velho dizendo-lhe «parabéns, caro amigo».
O homem tinha os olhos brilhantes, e abriu um largo e agradecido sorriso quando viu que eu estava a ser sincero.
Não sei se isso teve algo a ver com a minha aparência de cigano.
Estava hoje no café a ler o jornal da manhã quando se sentaram quatro ciganos barulhentos a uma mesa contígua à minha. O motivo de tamanho alvoroço vinha no jornal desportivo que um deles lia, com amplos sublinhados vocais, para o resto do grupo. Tratava-se da soberba exibição do futebolista cigano, Ricardo Quaresma, recentemente transferido do Sporting para o Barcelona de Espanha. Segundo o jornal, Quaresma terá feito com que o poderoso campeão europeu, AC Milan, de Itália, se ajoelhasse, literalmente, a seus pés pois marcou um golaço e inundou o estádio de pura magia e criatividade. – «Foi considerado o melhor jogador em campo» – não parava de repetir o cigano leitor.
Esta foi uma das raras vezes que constatei, na prática, a utilidade de um jornal desportivo. Das outras vezes o que tenho constatado é a serventia do mesmo para polémicas estéreis e quadrangulares, de gente quadrada dos mais variados estratos sociais.
Quando me levantei da mesa não resisti a colocar uma mão no ombro do cigano mais velho dizendo-lhe «parabéns, caro amigo».
O homem tinha os olhos brilhantes, e abriu um largo e agradecido sorriso quando viu que eu estava a ser sincero.
Não sei se isso teve algo a ver com a minha aparência de cigano.
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