quarta-feira, junho 02, 2004

O RIDÍCULO NÃO MATA, MAS...

A "história", vinda hoje a público, da necessidade do estabelecimento de quotas de alunos do sexo masculino para os cursos de Medicina é uma daquelas ideias peregrinas e disparatadas que de vez em quando costumam surgir quando a sociedade está em crise e a tonteira sobe à cabeça de certos iluminados.

Nos anos setenta, no tempo em que havia muito poucas cirurgiãs, havia um professor de cirurgia da Faculdade de Medicina de Lisboa que dizia abertamente a quem o quisesse ouvir que «tinha a certeza absoluta que se desse as mesmas condições de trabalho e de aprendizagem a um homem e a uma mulher, no final do treinamento obteria um bom cirurgião e uma cirurgiã medíocre a modesta».

Nada de mais errado!

A prática veio desmentir isso rotundamente:

Há hoje muitos homens que não são grandes espingardas a operar e há muitas mulheres que dominam as técnicas cirúrgicas com perfeita segurança e qualidade.

Não é por aí, portanto, que o gato vai às filhoses.

Que a Ortopedia é uma especialidade que exige força física; que a Neurocirurgia exige por vezes grande capacidade de resistência ao cansaço; que a Urologia possa não interessar muito às mulheres, apenas por preconceitos que, felizmente, cada vez mais estão-se a perder;

lá isso é verdade e as razões acima apontadas têm "destinado" estas especialidade mais aos homens do que às mulheres.

Mas pegar nessas razões e misturá-las com argumentos falaciosos como o que é atribuído pelo Público ao Bastonário da Ordem dos Médicos que terá dito que «a maternidade afasta as mulheres do serviço e tira-lhes alguma da capacidade de doação à profissão»

para com isso reservar vagas especiais para homens nas faculdades de Medicina, é uma aberração que não se pode deixar passar em claro.

Os homens devem competir em pé de igualdade com as mulheres se quiserem entrar nos cursos de Medicina. Se as mulheres, como terá dito ao Público o Bastonário, «têm mais juízo e estudam mais do que os rapazes» isto é um facto que deve ser levado seriamente em conta para lhes atribuir os lugares que elas merecem pelo seu trabalho. Mais nada!

Porque senão então o melhor é pedirmos às mulheres: por favor, estudem um pouco menos para que possamos ter médicos do sexo masculino.

Isto é ridículo.