CAIU UM ANJO PARA A DIREITA
(ou mais uma vítima da invasão do Iraque)
Pacheco Pereira, de há quase um ano para cá, tem estado a adornar para a direita (não direi que tem estado à deriva visto que a sua rota é firme, decidida e certa). Basta ler as postas dele de há um ano para cá para se chegar a esta conclusão.
Eu até cheguei a escrever um dia que não o considerava um homem de direita. Por coincidência, poucos dias depois de eu ter escrito isso, ele próprio veio à blogosfera dizer-nos: «não sou de direita».
Pois bem, agora, depois do que ele escreveu na edição de hoje do Público - que teve, aliás, uma resposta jocosa mas incisiva e demolidora do Barnebé - Pacheco Pereira posicionou-se definitivamente à direita. Não há volta a dar-lhe. É a sina dos maoístas: acabam todos na direita e na extrema direita.
Convenhamos que o artigo de Pacheco Pereira é de uma infelicidade extrema. E então quando ele diz que «Os falsos ingénuos, que aceitam todas as racionalidades menos a económica, sabem bem que o equilíbrio mundial passa também pelo acesso aos mercados de matérias-primas estratégicas, e que tal é do interesse nacional americano e ocidental, no sentido largo, sem ser hostil aos interesses das populações mais desfavorecidas dos países produtores, que estão longe de beneficiar da sua riqueza.» é precisamente aqui que ele se enterra completamente e perde em definitivo a aura de intelectual independente, de um partido da direita palamentar, aura que ele granjeara, ao longo da vários anos, através de corajosas tomadas de posição e de demarcação política em relação à direita do seu próprio partido, demarcação que foi fazendo, por exemplo: contra as ideias e práticas do troglodita da Madeira; contra o populismo boçal do major de Gondomar; contra as trapalhadas "Modernas" de Paulo Portas; etc., etc.
O artigo de hoje, no Público, citado pelo Barnabé, é um epitáfio involuntariamente escrito por JPP e creio que a partir de agora o cadáver que habita a tumba política em que este epitáfio está inscrito, em vez de se decompor se vai mumificar e adoptar a postura rígida dos empalhados.
Esperemos pois as próximas revelações deste candidato a zombie político da blogosfera.
Tanto prometeu Pacheco... e afinal acaba por cair com estrépito tão inesperado (pelo menos para mim) quão deselegante.
Até coro de vergonha quando constato que escrevi um dia que lhe augurava um lugar de senador na política portuguesa.
Tanta ingenuidade minha, meu Deus! Mas quando é que eu tomo juízo e me faço um homenzinho?