sexta-feira, janeiro 02, 2004

MARCELO PRESIDENTE

É de bom tom fazer, nesta quadra de ano-velho/ano-novo, o balanço do ano que passou e/ou perspectivar o ano que ora começa.

Salmoura, sem qualquer pretensão de ser original (coisa para a qual não teria talento), abalança-se a fazer apenas uma previsão para o ano de 2004.

Este será o ano de Marcelo Rebelo de Sousa.

Testada que está a sua popularidade, através do melhor meio de teste que pode haver – a televisão –, vamos assistir, semanalmente, a vários exercícios tendentes a credibilizar a sua figura de candidato presidencial perante os telespectadores (eleitores).

Emídio Rangel afirmara uma vez que a SIC podia muito bem «fabricar um presidente». Não o tendo conseguido fazer na pessoa de Francisco Pinto Balsemão, cedo abandonou esse propósito. Propósito que parece ter sido herdado por Marcelo Rebelo de Sousa e pela TVI.

A "novela das nove", das noites de domingo, da TVI , interpretada por Marcelo, com o suporte dos pivots do Jornal Nacional, tem "vendido", com assinalável sucesso, o actor Marcelo ao país inteiro. E já nem eu, que abominava – e abomino – a fórmula do professor, perco os sucessivos episódios dessa novela. Agora já não só para estudar a técnica de interpretação do actor (fui actor amador na faculdade e gosto de ver representações) mas também – confesso – para me deleitar com a profissionalíssima representação de Marcelo.

Um mimo!

As outras televisões generalistas, RTP e SIC, tudo têm tentado fazer para destronar Marcelo. Mas nada têm conseguido. Santana Lopes e Pacheco Pereira foram eleitos para fazer frente a Marcelo, aos domingos. Santana já foi descartado depois de se ter chegado à conclusão de que ele «não resultava a solo»: sempre mal preparado e com evidente falta de background cultural para comentar os assuntos que lhe eram propostos, esgotou-se logo nas primeiras emissões e já se arrastava pela tela revelando evidentes sinais de profunda anemia e muitos curto-circuitos neuronais.

Pacheco Pereira ainda resiste, mas só por teimosia da SIC ainda está na tela. É culto e sério demais para o telespectador típico domingueiro. Nunca sorri, está gordo e veste-se e penteia-se mais como um físico de laboratório do que como um compincha alegre e bon vivant que nos vem contar o que viu e ouviu durante a semana e quais as "malandrices" que descobriu nalguma declaração ou medida dos poderosos. Apoia descaradamente Bush e a "luta" deste contra o terrorismo e isto, como se sabe, não é nada popular (neste pormenor, Marcelo, embora tendo a mesma posição que Pacheco, nunca foi muito claro sobre isso; nunca foi entusiasta da invasão e ocupação do Iraque e até tem criticado Bush de vez em quando).

Marcelo, com o seu à vontade e enorme capacidade comunicacional, magro e vestido à manequim, ginasticado ma non tropo, sempre de sorriso aberto e olhos azuis faiscantes, consegue "vender", com enorme facilidade, qualquer "mercadoria" ao telespectador. Assume até, algumas vezes (vezes meticulosamente escolhidas por especialistas na matéria), um humanismo ternurento trocando prendas com os pivots do Jornal.

Um must!

Quem é que uma vez disse (e com razão naquela altura) que «ninguém compraria um carro em segunda mão a Marcelo»? Pois agora, não só se compra o carro de olhos fechados como ainda se tem orgulho em mandar gravar no mesmo o nome do vendedor. Foi esta a enorme volta que a TVI e Marcelo deram à imagem deste último.

À imagem deste potencial candidato de sucesso a eleições presidenciais.