EXCERTOS DE UM ARTIGO DE CLARA FERREIRA ALVES NO DIÁRIO DIGITAL 09/06/03
«… Democrático e felizmente europeu, o povo português desatou a viver à grande e à francesa ao cabo de anos de penúria. Aos políticos de convicção sucederam-se epígonos, rapaziada deslumbrada pelo arrivismo, as benesses, o poder, a influência, a flatulência da riqueza fácil. E a figura do enriquecimento sem causa…
… E, justamente, quem, à direita, era o paladino de uma nova cultura política, um novo Portugal, mais sério e mais limpo, mais sofisticado e mais patriota? Paulo Portas, o jornalista e director de O Independente. Que presumia de homem honrado e honrado justiceiro.
E que aconteceu? O mesmo Portas acabou ministro, é certo, mas, não resistiu ao Jaguar e ao dinheiro fácil. Passou de uma vida materialmente modesta e delirantemente ambiciosa a uma vida de cheques gordos e escorregadios, de ligações perigosas. Caiu na ratoeira do arrivismo social, vício que presumira em certas figuras políticas que tanto criticara e vituperara por razões de classe. Macário Correia, Jorge Lacão e Duarte Lima, entre outros, foram fuzilados no Independente por serem de famílias pobres, por não serem finos. E eis que o distinto e trepador Portas vai agora a tribunal responder por ter subido muito na vida em muito pouco tempo.
O retrato do povo português é isto: de repente, apareceram as rugas e a decadência, o vício e a degenerescência. Muito de repente. Dorian Gray não é bonito de ver. Nós também não.»