sexta-feira, junho 27, 2003

DOIS RETRATOS DO QUOTIDIANO MEDIÁTICO

1. Há casos de sucesso radiofónico que quando levados para televisão resultam numa pepineira de todo o tamanho.
Júlio Machado Vaz teve um enorme e merecido sucesso com o programa “O Sexo dos Anjos”, aí há uns anos, na TSF. Desde algum tempo a esta parte debita, num canal da televisão por cabo, aquilo que parece ser sempre a mesma conversa mil vezes repisada, mil vezes gasta e chatérrima que nem potassa. Não há pachorra!

2. Mesmo estando apenas na rádio, o “Freud e Maquiavél”, de Carlos Amaral Dias (CAD) e Carlos Magno (CM), aos domingos na TSF, também está a entrar nesse ritmo de vira o disco e toca o mesmo. Não tem havido domingo santo em que o “simbólico” não toma conta do programa. De uma ponta à outra – parece que não há nada neste mundo cuja carga simbólica não seja a coisa mais importante a ter em conta –. Para além disso temos que saber sempre onde esteve e o que fez Amaral Dias na semana que passou; onde estará na próxima semana e o que vai fazer; onde escreveu e o quê, num fenómeno cabotinístico deprimente que culmina com aquela pose de adolescente-que-vestiu-fato-pela-primeira-vez que apresenta semanalmente num canal da tv por cabo; quando não resolve somar a tudo isso a publicitação da agenda política da sua excelsa filha, militante do Bloco de Esquerda.

A busca de simbolismo em tudo o que mexe levou, há três ou quatro programas atrás, CM a apelidar de “fantástico” o facto por ele presenciado em Sevilha quando um polícia ou segurança espanhol retirou a tampa a uma garrafa de água que Belmiro de Azevedo pretendia transportar para dentro do estádio onde se iria disputar a final da taça uefa (vai em minúsculas para ter simbolismo). É óbvio que o polícia ou lá o que era quis impedir que Belmiro transformasse a garrafa num projéctil, mas CM viu mais longe e foi pena não ter compartilhado com os ouvintes a profunda análise simbólica que fez de tão fantástico acto. Se tivesse um blogue teria oportunidade de me mandar calar mas sempre explicaria a coisa para deleite dos intelectuais. É pena seguir as regras de PRD.