sexta-feira, janeiro 21, 2005

A LÍNGUA DE TITÃ

Pacheco Pereira, perante um ataque bem desferido por Francisco Louçã ao demagogo Paulo Portas, num debate na SIC, dizendo-lhe, quando Portas perorou sobre o "direito à vida", «O Senhor não pode falar do direito à vida porque nunca gerou vida. Não sabe o que é gerar vida. Eu tenho uma filha. Eu sei o que é um sorriso de uma criança.» - Pacheco Pereira, dizia-mos - tomou-se de dores e toca a escrever, talvez sem pensar um segundo sequer (damos-lhe esse benefício), que, e citamos:

Não constitui para mim surpresa o reaccionarismo [sublinhado nosso] do Bloco de Esquerda. São-no muito mais do que se pensa, ocultados pelo folclore das "causas fracturantes" e por uma imprensa que os descrimina positivamente. A frase de Louçã contra Portas, que tive ocasião de ouvir numa síntese televisiva (de um debate que não vi), é um perfeito exemplo do que daria um pequeno escândalo, fosse o seu autor outro que Louçã.

Antes de continuar deixe-me perguntar a Pacheco Pereira o seguinte: tem alguma dúvida que se as posições fossem inversas Paulo Portas não diria o mesmo a Francisco Louçã? Com esta pergunta sempre lhe vou dizendo que achei que Louçã usou alguma demagogia quando disse o que disse. Mas fez muito bem: a direita demagoga merece ser tratada de vez em quando com o mesmo veneno que ela usa. Para lhe sentir o sabor e saber que não está a lidar com patetinhas.

Voltando à vaca fria:

Onde está o reaccionarismo da frase de Louçã? Onde se pode extrair dessa frase a conclusão de que ela é, «contrária aos avanços e transformações sociais, que resiste às tendências revolucionárias»?

Se a frase é reaccionária, então - ou nós temos dicionários diferentes, ou um de nós está a falar a língua de Titã e não o Português.