terça-feira, janeiro 18, 2005

DESMENTIDO

Nunca pensei que uma singela tentativa de ironia me pudesse causar tanta dor de cabeça como a que tenho vindo a ter desde que escrevi a posta aqui mais abaixo intitulada "Elogio da Modernidade" na qual tentei ironizar com o facto de o computador de um banco me ter dado, em nome da gerência, os parabéns pelo meu aniversário.

Quando escrevi essa posta estava longe de pensar que essa tentativa de ironia fosse levada tão a sério como acabei por verificar que aconteceu por parte de alguns amigos e leitores deste blogue.

Na verdade, tudo o que escrevi então era quase pura ficção. Que outra finalidade não tinha senão dizer isto: vejam lá ao que estamos a chegar. As máquinas assumem cada vez mais o papel dos seres humanos e, indo por este caminho, se lhes formos admitindo acriticamente esse tipo de acções qualquer dia estaremos entregues a elas e não nos daremos conta do afastamento que teremos em relação à família e aos amigos.

Na verdade, e ao contrário do que eu escrevi:

a) Não uso telemóvel;
b) A minha máquina fotográfica é uma velha Canon Ftb de 1973 - quem me dera ter uma máquina digital - ;
c) Relógio de pulso tenho um, mas qual automático qual quê - uso um Swatch de plástico mais riscado que uma folha de papel almaço. Para ver as horas muitas vezes tenho que adivinhar a posição de um ou mesmo dos dois ponteiros do dito;
d) Como PDA uso uma agenda que anualmente o banco cujo computador me deu os parabéns me costuma oferecer todos os meses de Dezembro; vou lá ao balcão religiosamente quinze dias antes do Natal perguntar humildemente ao Sr. Magalhães: «o meu amigo já me arranjou a agendazinha para o novo ano, já?!»
e) A minha Momblanc é da marca Bic (Bic cristal de ponta normal);
f) Computador, em casa não há, aliás, casa não há - há barracão;
g) No barracão a aparelhagem Hi-Fi resume-se a um transistor de bolso, da marca Philco, dos anos sessenta, que eu costumava usar encostado ao ouvido, todos os domingos de futebol, entre as três e as seis horas da tarde, para não perder pitada e poder estar a par dos acontecimentos e poder assim discutir de cátedra, lá na tasca da esquina, com quantos sabichões por lá assentavam arraiais depois dos jogos de futebol para analizar cada pormenor de cada jogo desse dia;
h) De livros, aqui o barracão só tem A Bola, O Jogo, Record, Borda d'Água e uma ou outra revista Maria que surripio no eléctrico a alguma velhota mais distraída;
i) Mas agora... atenção e alto lá! - gatos há, sim senhor: o Alex, o Picasso e o Gauguin. Menti quando disse que eram persas e não sei que mais. Mas são de facto três gatos. São gatos vadios que recolhi do lixo em Beirolas numa tarde de chuva que por lá passei à cata de embalagens de cartão para vender. Os coitaditos, muito pequeninos e esfaimados, nem andar ainda sabiam, e miavam, miavam, miavam. Não tive coragem de os deixar lá e então trouxe-os aqui para a barraquita onde vivo e onde me fazem companhia partilhando comigo a sopa que o meu árduo trabalho na fábrica me permite.

P.S.
Disseram-me que vai haver eleições e que os patrões da minha fábrica irão à viola se não for o PSD a ganhar. Que grande violão será preciso para os receber!!!