terça-feira, julho 20, 2004

BELO, BELÍSSIMO!

Neste último fim-de-semana Salmoura foi à sua "petite Marmeleira" onde remexeu o conteúdo de um baú com papéis velhos de cerca de trinta, vinte e cinco anos. Encontrou alguns textos curiosos (resiste a dizer que são interessantes) que decidiu dar à estampa na blogosfera pelo que acaba de criar um blogue onde os publicará.

Nada melhor, crê Salmoura, que inaugurar o novo blogue com um texto que é tão só:

Um dos mais belos textos narrativos que jamais alguém terá um dia escrito.

Avaliai por vós mesmos. Deliciai-vos! É a palavra exacta para o acto sublime que consiste em ler

"Exaltação da Tortilha de Banana"


O narrador é o escritor cubano, Enrique Lanza, hoje (onde estará?) um cinquentão. Em 1975 Lanza vivia em Havana onde escrevia e desenhava na cadeira de rodas a que o reduzira um acidente de automóvel. Foi sentado nessa cadeira que produziu a bela narrativa que começa assim:

«Em certas ocasiões, especialmente feriadas, preparada pela mão incrível de meu pai, aparece na nossa mesa uma tortilha de bananas, de um sabor e de um aspecto entre o onírico e o pornográfico... A banana, como é bem sabido, apresenta, no seu estado natural, um aspecto nitidamente falusco; mas quando se torna friável, num estado avançado de maturação, e se mistura com ovo batido, o seu aspecto muda de uma maneira crisálica, convertendo-se numa espécie de incrível filete público. Poucas vezes - creio - se viu tamanha transformação na História, salvo no caso, talvez, da estranha aventura de Orlando, e na história - bastante desprezível, por certo - de determinados transformistas de feira barata.
Seja como for, a execução desta tortilha por parte de meu pai é sempre um labor de natureza particularmente mística.»


E mais à frente:

«Preparadas as bananas, seleccionados os bocados mais delicados, procede-se à imersão dos ovos batidos na frigideira. Estes ovos não podem ser ovos normais e correntes, como esses que é possível passar por água; pelo contrário, enquanto que naqueles é recomendável uma palidez quase botticéllica, os ovos para a tortilha de bananas devem ter, nas suas gemas, um pouco de Van Gogh e um pouco de Breughel, e nas suas claras, um branco puramente construtivista, ascético, quase - e é delicioso este quase - virginal.»

Como, por certo, gostou destes dois exemplos da bela escrita de Enrique Lanza, aqui tem, para seu deleite, em
O BAÚ DE SALMOURA, a narrativa completa.