CONVÍVIO MÉDICO
Hoje estava um grupinho de pessoal da Saúde reunido a um canto e num burburinho frenético chamando mais elementos para engrossarem aquela plateia de curiosos que estava a deliciar-se escutando o novíssimo toque polifónico de um telefone móvel de um médico que o exibia triunfante: pedia que lhe ligassem para o aparelho que ao despertar "dizia": chichi cocó, chichi cocó.
Foi mais um momento de convívio de alto nível cultural a que já estou habituado a assistir... felizmente de longe.
quinta-feira, julho 31, 2003
quarta-feira, julho 30, 2003
SANTANA LOPES ESCREVE A UM MORTO
Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, enviou um cartão a Machado de Assis, escritor brasileiro falecido em 1908. Vejam toda a história no post 076 de Textos de Contracapa
Santana Lopes, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, enviou um cartão a Machado de Assis, escritor brasileiro falecido em 1908. Vejam toda a história no post 076 de Textos de Contracapa
SEM COMENTÁRIOS
Esta saiu hoje no jornal A Bola (também leio, também leio)
«Deficientes contestam lugares de borla atrás do ecrã»
«Arrumados na arrecadação como cidadãos de segunda»
«Arrumados como objectos numa arrecadação. Esta medida do Sporting pode parecer grandiosa mas não tenho dúvidas de que estamos perante uma solução de recurso face a erros no projecto do recinto. Soa a esmola. Apetece-me sugerir ao Benfica, em cujo estádio haverá zonas em que o tecto está mais baixo, que ofereça esses lugares aos anões, cidadãos atacados pela artrose ou políticos pequeninos. Ou então às marcas de electrodomésticos que façam televisores só com som».
Esta saiu hoje no jornal A Bola (também leio, também leio)
«Deficientes contestam lugares de borla atrás do ecrã»
«Arrumados na arrecadação como cidadãos de segunda»
«Arrumados como objectos numa arrecadação. Esta medida do Sporting pode parecer grandiosa mas não tenho dúvidas de que estamos perante uma solução de recurso face a erros no projecto do recinto. Soa a esmola. Apetece-me sugerir ao Benfica, em cujo estádio haverá zonas em que o tecto está mais baixo, que ofereça esses lugares aos anões, cidadãos atacados pela artrose ou políticos pequeninos. Ou então às marcas de electrodomésticos que façam televisores só com som».
PACHECO PEREIRA – GINJINHA OU ARSÉNICO?
Decorria a campanha para umas eleições presidenciais. Eu estava em Macau e resolvi apoiar uma candidatura pelo que enviei um e-mail a um dos coordenadores do "site" do candidato respectivo. Em nota de rodapé brinquei um bocadinho confessando-me saudoso do programa "flash back" da TSF e admitindo que talvez fosse pela falta que as opiniões de JPP me faziam.
Na volta do correio electrónico recebo o agradecimento do apoio e, também em nota de rodapé, lá vinha na mensagem isto: «O PP (Pacheco Pereira) é uma instituição nacional; é como a ginjinha ou o arsénico. Pick your choice».
Cometo hoje, a largos anos de distância, esta inconfidência para partilhar com o leitor amigo o "espírito" da frase. Mas também para dizer uma coisa: para além da pequena malícia contida na frase, há nela uma verdade que se vem afirmando consistentemente – JPP vem "independentizando-se" politicamente e afirmando-se intelectualmente ao longo do tempo, e hoje, se não é uma instituição nacional, é certamente um sério candidato a senador do País –. Honra lhe seja feita.
Apenas uma fraqueza de certo vulto lhe aponto (mas quem é perfeito para todos?): a tese dele sobre a invasão do Iraque não há meio de se ver confirmada – antes muito pelo contrário – e aguardamos a prometida reanálise da mesma.
Decorria a campanha para umas eleições presidenciais. Eu estava em Macau e resolvi apoiar uma candidatura pelo que enviei um e-mail a um dos coordenadores do "site" do candidato respectivo. Em nota de rodapé brinquei um bocadinho confessando-me saudoso do programa "flash back" da TSF e admitindo que talvez fosse pela falta que as opiniões de JPP me faziam.
Na volta do correio electrónico recebo o agradecimento do apoio e, também em nota de rodapé, lá vinha na mensagem isto: «O PP (Pacheco Pereira) é uma instituição nacional; é como a ginjinha ou o arsénico. Pick your choice».
Cometo hoje, a largos anos de distância, esta inconfidência para partilhar com o leitor amigo o "espírito" da frase. Mas também para dizer uma coisa: para além da pequena malícia contida na frase, há nela uma verdade que se vem afirmando consistentemente – JPP vem "independentizando-se" politicamente e afirmando-se intelectualmente ao longo do tempo, e hoje, se não é uma instituição nacional, é certamente um sério candidato a senador do País –. Honra lhe seja feita.
Apenas uma fraqueza de certo vulto lhe aponto (mas quem é perfeito para todos?): a tese dele sobre a invasão do Iraque não há meio de se ver confirmada – antes muito pelo contrário – e aguardamos a prometida reanálise da mesma.
terça-feira, julho 29, 2003
(De um e-mail enviado aos autores de O Projecto)
Penso ser de divulgar blogues de autores que estão fora do mundo circular dos "letrados" para que os leitores percebam que há outras formas de encarar e reflectir o mundo, o Homem e a (sua) vida; romper a muralha de palavras com que às vezes somos cercados para libertar sentimentos, gestos, formas, cores, texturas; aliar a escrita à arte para glorificar a Natureza e dar sentido à Vida. Em suma: mostrar toda a riqueza que se pode obter da diversidade.
Penso ser de divulgar blogues de autores que estão fora do mundo circular dos "letrados" para que os leitores percebam que há outras formas de encarar e reflectir o mundo, o Homem e a (sua) vida; romper a muralha de palavras com que às vezes somos cercados para libertar sentimentos, gestos, formas, cores, texturas; aliar a escrita à arte para glorificar a Natureza e dar sentido à Vida. Em suma: mostrar toda a riqueza que se pode obter da diversidade.
MUITO OBRIGADO
Salmoura nunca pediu a ninguém que o "linkasse". Mas fica triste por ver-se a pertencer a um enormíssimo gueto de blogues. E confessa esta fraqueza que combate diariamente com afinco e com trabalho.
Hoje, contudo, Salmoura rejubila pois foi "linkado", voluntariamente, pelo blogue O Projecto [Ideias totalmente avulsas sobre arquitectura e cidade(s)] que teve a gentileza de escrever isto:
«Antes de ir de férias (e outros afins) convém fazer mais uns links. Uns novos, outros por esquecimento, outros simplesmente porque sim. Aí estão o THOMAZ vs CUNHAL, A Sombra, o Salmoura, O Comprometido Espectador e o Diários de Lisboa. Tudo boas leituras.»
Salmoura devolve a imerecida vénia a O Projecto linkando-o e abstendo-se de lhe dar por ora o merecido elogio para fugir à lógica do toma-lá-dá-cá. Mas sempre vai dizendo ao leitor amigo: não leia só aqueles que sabem escrever porque são do campo das letras; leia também textos de técnicos, de pessoas de outros ramos do saber e de outras artes – arquitectura, medicina, engenharia, etc. –, podem ser por vezes obtusos mas trazem inovação no modo de dizer e de ver as coisas e a vida. E se quiser deliciar-se com belas imagens (quadros ou fotografias) visite a Montanha Mágica e passeie vagarosamente por O Projecto. E se ainda lhe restar tempo visite Salmoura porque aqui também gostamos de arte. Embora a nossa arte seja outra de que não falamos (pelo menos por enquanto). Por recato e por pudor, por humildade verdadeira.
Salmoura nunca pediu a ninguém que o "linkasse". Mas fica triste por ver-se a pertencer a um enormíssimo gueto de blogues. E confessa esta fraqueza que combate diariamente com afinco e com trabalho.
Hoje, contudo, Salmoura rejubila pois foi "linkado", voluntariamente, pelo blogue O Projecto [Ideias totalmente avulsas sobre arquitectura e cidade(s)] que teve a gentileza de escrever isto:
«Antes de ir de férias (e outros afins) convém fazer mais uns links. Uns novos, outros por esquecimento, outros simplesmente porque sim. Aí estão o THOMAZ vs CUNHAL, A Sombra, o Salmoura, O Comprometido Espectador e o Diários de Lisboa. Tudo boas leituras.»
Salmoura devolve a imerecida vénia a O Projecto linkando-o e abstendo-se de lhe dar por ora o merecido elogio para fugir à lógica do toma-lá-dá-cá. Mas sempre vai dizendo ao leitor amigo: não leia só aqueles que sabem escrever porque são do campo das letras; leia também textos de técnicos, de pessoas de outros ramos do saber e de outras artes – arquitectura, medicina, engenharia, etc. –, podem ser por vezes obtusos mas trazem inovação no modo de dizer e de ver as coisas e a vida. E se quiser deliciar-se com belas imagens (quadros ou fotografias) visite a Montanha Mágica e passeie vagarosamente por O Projecto. E se ainda lhe restar tempo visite Salmoura porque aqui também gostamos de arte. Embora a nossa arte seja outra de que não falamos (pelo menos por enquanto). Por recato e por pudor, por humildade verdadeira.
domingo, julho 27, 2003
ASSALTO NO RIO DE JANEIRO
Aqui há uns anos houve um congresso médico no Rio de Janeiro. As mulheres dos congressistas, durante o dia, para se prevenirem dos assaltos, organizavam-se em pequenos grupos para visitarem a cidade.
Certo dia uma dama mais afoita, na impossibilidade de ser acompanhada, resolveu aventurar-se sozinha: saiu do hotel, apanhou o primeiro "ônibus" que lhe apareceu tendo cuidadosamente escolhido um lugar à janela, que lhe permitiu colocar a mala a bom recato entre o corpo e o autocarro.
Na paragem seguinte entrou um senhor com um ar muito suspeito que se sentou ao lado dela.
E não é que algumas centenas de metros mais à frente ela descobre que já não tem no pulso o relógio?...
Encheu-se de coragem e com toda a calma deste mundo abriu a mala, retirou uma lima de unhas bem forte que trazia consigo, espetou-a firmemente entre as costelas do ladrão, e enquanto apontava para dentro da mala aberta disse-lhe decidida ao ouvido – ponha aqui o relógio, e já! –; o ladrão nem pestanejou: deixou cair o relógio dentro da mala que a senhora fechou de imediato tendo o assunto ficado solucionado na maior discrição.
A senhora resolveu então regressar logo ao hotel pois não estava para correr mais riscos no Rio de Janeiro.
Quando entrou no quarto, entre furiosa e desencantada, contou logo ao marido o que lhe tinha acontecido; ao que este lhe respondeu – querida, o teu relógio está na casa de banho –.
Foi quando abriu, curiosa, a mala e constatou com surpresa que lá tinha dentro o relógio do senhor.
Aqui há uns anos houve um congresso médico no Rio de Janeiro. As mulheres dos congressistas, durante o dia, para se prevenirem dos assaltos, organizavam-se em pequenos grupos para visitarem a cidade.
Certo dia uma dama mais afoita, na impossibilidade de ser acompanhada, resolveu aventurar-se sozinha: saiu do hotel, apanhou o primeiro "ônibus" que lhe apareceu tendo cuidadosamente escolhido um lugar à janela, que lhe permitiu colocar a mala a bom recato entre o corpo e o autocarro.
Na paragem seguinte entrou um senhor com um ar muito suspeito que se sentou ao lado dela.
E não é que algumas centenas de metros mais à frente ela descobre que já não tem no pulso o relógio?...
Encheu-se de coragem e com toda a calma deste mundo abriu a mala, retirou uma lima de unhas bem forte que trazia consigo, espetou-a firmemente entre as costelas do ladrão, e enquanto apontava para dentro da mala aberta disse-lhe decidida ao ouvido – ponha aqui o relógio, e já! –; o ladrão nem pestanejou: deixou cair o relógio dentro da mala que a senhora fechou de imediato tendo o assunto ficado solucionado na maior discrição.
A senhora resolveu então regressar logo ao hotel pois não estava para correr mais riscos no Rio de Janeiro.
Quando entrou no quarto, entre furiosa e desencantada, contou logo ao marido o que lhe tinha acontecido; ao que este lhe respondeu – querida, o teu relógio está na casa de banho –.
Foi quando abriu, curiosa, a mala e constatou com surpresa que lá tinha dentro o relógio do senhor.
quinta-feira, julho 24, 2003
PIU-PIU
É sabido que os doentes esquizofrénicos têm a particularidade de condensarem frases inteiras em uma ou duas palavras.
Esta foi escrita ou dita – já não me lembro bem – por António Lobo Antunes:
“Havia no Hospital Júlio de Matos um doente que, sempre que determinado médico passava por ele, se punha a dizer em voz alta: piu-piu, piu-piu.
Certo dia o clínico resolveu interpelá-lo – ouve lá, oh fulano, o que é que você quer dizer com piu-piu, diga lá – ao que o doente lhe respondeu – puta que o pariu –."
É sabido que os doentes esquizofrénicos têm a particularidade de condensarem frases inteiras em uma ou duas palavras.
Esta foi escrita ou dita – já não me lembro bem – por António Lobo Antunes:
“Havia no Hospital Júlio de Matos um doente que, sempre que determinado médico passava por ele, se punha a dizer em voz alta: piu-piu, piu-piu.
Certo dia o clínico resolveu interpelá-lo – ouve lá, oh fulano, o que é que você quer dizer com piu-piu, diga lá – ao que o doente lhe respondeu – puta que o pariu –."
UMA AUTÊNTICA TRAGÉDIA. UM HORROR. 90%
Quando pergunto a um médico se tem Internet e ele me responde “não, não tenho”, penso logo: este é dos que só sabem falar do Sporting, do Benfica e do Porto; de gajas e de automóveis; de cifrões, patologias e terapêuticas. Mais nada. Nada de nada.
E raramente assim não é.
É de fugir! Garanto-vos.
E o pior é que são muitos, são muitíssimos assim.
E se falarmos em livros, então é que a coisa fica mesmo preta – atrevo-me a dizer que mais de 90%, pura e simplesmente, não lê – compram jornais desportivos e é um pau –.
Acreditem que é verdade. Façam um teste quando forem ao médico. Se saírem de lá com algo mais que uma chalaça já é muito bom. Muito bom mesmo.
Quando pergunto a um médico se tem Internet e ele me responde “não, não tenho”, penso logo: este é dos que só sabem falar do Sporting, do Benfica e do Porto; de gajas e de automóveis; de cifrões, patologias e terapêuticas. Mais nada. Nada de nada.
E raramente assim não é.
É de fugir! Garanto-vos.
E o pior é que são muitos, são muitíssimos assim.
E se falarmos em livros, então é que a coisa fica mesmo preta – atrevo-me a dizer que mais de 90%, pura e simplesmente, não lê – compram jornais desportivos e é um pau –.
Acreditem que é verdade. Façam um teste quando forem ao médico. Se saírem de lá com algo mais que uma chalaça já é muito bom. Muito bom mesmo.
quarta-feira, julho 23, 2003
INAUGURAÇÃO
Foi inaugurado mais um blogue em português. E cito-me: chama-se África Minha e destina-se por inteiro àqueles que de longe, das américas e de Cabo Verde, me lêm com regularidade aqui no Salmoura e não compreendem porque é que nada lhes digo sobre Cabo Verde e sobre África.
"África Minha" será por vezes ingénuo (muitas vezes propositadamente ingénuo) porque "África Minha", mesmo sendo apenas um blogue, é um pouco o berço onde o autor fará, às vezes, a sua regressão para se sentir inocente, santo e reconfortado. Por isso desde já peço as maiores desculpas aos intelectuais de serviço por irem encontrar lá abundante matéria para me baterem desalmadamente. Batam-me, mas com carinho porque lá serei sempre criança.
Foi inaugurado mais um blogue em português. E cito-me: chama-se África Minha e destina-se por inteiro àqueles que de longe, das américas e de Cabo Verde, me lêm com regularidade aqui no Salmoura e não compreendem porque é que nada lhes digo sobre Cabo Verde e sobre África.
"África Minha" será por vezes ingénuo (muitas vezes propositadamente ingénuo) porque "África Minha", mesmo sendo apenas um blogue, é um pouco o berço onde o autor fará, às vezes, a sua regressão para se sentir inocente, santo e reconfortado. Por isso desde já peço as maiores desculpas aos intelectuais de serviço por irem encontrar lá abundante matéria para me baterem desalmadamente. Batam-me, mas com carinho porque lá serei sempre criança.
CUIDADO COM AS CITAÇÕES
Aos poucos, aqui e ali pela blogosfera fora, mais ali que aqui, vão-se esboçando as “normas de conduta” para os blogueiros, vindas das cabecinhas pensadoras que temos todos que venerar.
A “Tábua da Lei” que, qual Moisés ,um dia alguém nos mostrará e nos tentará obrigar a cumprir, não tardará muito a aparecer. Para já é ponto assente que temos que ter muito cuidado com as citações. É proibido fazer demasiadas citações não vá isso banalizar os nomes dos autores citados. Se esta proibição não for voluntariamente acatada teme-se que se venha a obrigar o blogueiro citador a pagar royalties.
É impressionante a tendência natural que certos intelectuais têm para o conservadorismo mais serôdio. Ou então para a apropriação indevida de direitos sobre propriedade alheia.
Assim como a Aspirina foi parar ao supermercado dessacralizando a farmácia, assim também a Internet (com os blogues e tudo o resto que se lhe assemelha) veio dar voz aos marginalizados da escrita dessacralizando os jornais, as revistas, e, qualquer dia, também os próprios livros.
Como dizia o meu avô – de cada vez que tomava conhecimento de mais alguém detido pela PIDE – «O caminho para a liberdade é inexorável, meu neto». "Inexorável" – foi a primeira palavra "difícil" que me lembro de ter ouvido pronunciar. E lembro-me ainda como se fosse hoje –.
Aos poucos, aqui e ali pela blogosfera fora, mais ali que aqui, vão-se esboçando as “normas de conduta” para os blogueiros, vindas das cabecinhas pensadoras que temos todos que venerar.
A “Tábua da Lei” que, qual Moisés ,um dia alguém nos mostrará e nos tentará obrigar a cumprir, não tardará muito a aparecer. Para já é ponto assente que temos que ter muito cuidado com as citações. É proibido fazer demasiadas citações não vá isso banalizar os nomes dos autores citados. Se esta proibição não for voluntariamente acatada teme-se que se venha a obrigar o blogueiro citador a pagar royalties.
É impressionante a tendência natural que certos intelectuais têm para o conservadorismo mais serôdio. Ou então para a apropriação indevida de direitos sobre propriedade alheia.
Assim como a Aspirina foi parar ao supermercado dessacralizando a farmácia, assim também a Internet (com os blogues e tudo o resto que se lhe assemelha) veio dar voz aos marginalizados da escrita dessacralizando os jornais, as revistas, e, qualquer dia, também os próprios livros.
Como dizia o meu avô – de cada vez que tomava conhecimento de mais alguém detido pela PIDE – «O caminho para a liberdade é inexorável, meu neto». "Inexorável" – foi a primeira palavra "difícil" que me lembro de ter ouvido pronunciar. E lembro-me ainda como se fosse hoje –.
terça-feira, julho 22, 2003
BOLSA REANIMA COM FUNERÁRIAS A SUBIR
O “Público” noticia hoje:
Médicos falam em "colapso total dos cuidados de saúde primários em 2013"
A ser verdade, que grande notícia é para os “empresarializadores” da gestão dos serviços de Saúde que fervilham no governo, e sobretudo para as empresas privadas beneficiárias potenciais do colapso do Serviço Nacional de Saúde.
E também para as agências funerárias. Já agora…
O “Público” noticia hoje:
Médicos falam em "colapso total dos cuidados de saúde primários em 2013"
A ser verdade, que grande notícia é para os “empresarializadores” da gestão dos serviços de Saúde que fervilham no governo, e sobretudo para as empresas privadas beneficiárias potenciais do colapso do Serviço Nacional de Saúde.
E também para as agências funerárias. Já agora…
BLOGUES NA nTV
Estive há bocadinho a assistir a um pouco da conversa sobre blogues (que ainda decorre e vai durar um bom bocado, creio) que Francisco José Viegas levou ao programa "Livro Aberto", da nTV. Depois de uma primeira ronda pelos convidados, feita por FJV, dei comigo a recordar Raul Rego, já falecido, antigo director do extinto jornal “República”. Quem conheceu o personagem e quem lia os seus editoriais ficava sempre de boca aberta quando o ouvia falar: tinha imensa dificuldade em ser erudito a falar – tinha mesmo, muitas vezes, dificuldades de expressão verbal – mas escrevia que era uma beleza, muitas vezes com erudição assinalável.
Porque terei eu relacionado uma coisa com a outra, não sei. Há por aí alguém que tenha assistido ao programa e que queira tentar uma resposta?
Estive há bocadinho a assistir a um pouco da conversa sobre blogues (que ainda decorre e vai durar um bom bocado, creio) que Francisco José Viegas levou ao programa "Livro Aberto", da nTV. Depois de uma primeira ronda pelos convidados, feita por FJV, dei comigo a recordar Raul Rego, já falecido, antigo director do extinto jornal “República”. Quem conheceu o personagem e quem lia os seus editoriais ficava sempre de boca aberta quando o ouvia falar: tinha imensa dificuldade em ser erudito a falar – tinha mesmo, muitas vezes, dificuldades de expressão verbal – mas escrevia que era uma beleza, muitas vezes com erudição assinalável.
Porque terei eu relacionado uma coisa com a outra, não sei. Há por aí alguém que tenha assistido ao programa e que queira tentar uma resposta?
domingo, julho 20, 2003
ATENÇÃO, BLOGUEIROS
Com tempo dilatado hoje, andei um pouco mais que habitualmente pela blogosfera a farejar uma variedade grande de blogues sem seguir qualquer critério: abria a lista, apontava ao acaso e lá ia eu… e fiquei no fim da ida com a impressão de que andam no ar ventos fortes tentando limpar o pó sujo que blogueiros menos letrados que os sopradores dos ventos estão a atirar à blogosfera poluindo-a vergonhosamente. PRD já quis legislar sobre a blogosfera por motivos diferentes; agora são outros os candidatos a domadores e seleccionadores. Esta coisa de dar voz a toda a gente – mesmo quando só quem quisermos ler é que lemos – é uma chatice de todo o tamanho para certas elites intelectuais. Que não evitam a contradição evidente que é o facto de que gostariam que todos lêssemos muito para lhes chegarmos aos calcanhares, mas não querem que digamos ou mostremos que lemos porque isso é “tarefa” reservada aos consagrados. Eles quando estão tristes têm todo o direito de o dizerem em trezentas e vinte e quatro palavras redondas, às florzinhas, perfumadas e servidas em bandeja de prata cravejada de rubis; quando nós dizemos apenas “estou triste” porque só sabemos dizê-lo assim, acham que deveríamos mas era estar calados pois não é forma de exprimir sentimentos.
Estou com medo. E só sei dizê-lo assim. Virá alguém buscar-me a casa de madrugada como acontecia noutros tempos?
Com tempo dilatado hoje, andei um pouco mais que habitualmente pela blogosfera a farejar uma variedade grande de blogues sem seguir qualquer critério: abria a lista, apontava ao acaso e lá ia eu… e fiquei no fim da ida com a impressão de que andam no ar ventos fortes tentando limpar o pó sujo que blogueiros menos letrados que os sopradores dos ventos estão a atirar à blogosfera poluindo-a vergonhosamente. PRD já quis legislar sobre a blogosfera por motivos diferentes; agora são outros os candidatos a domadores e seleccionadores. Esta coisa de dar voz a toda a gente – mesmo quando só quem quisermos ler é que lemos – é uma chatice de todo o tamanho para certas elites intelectuais. Que não evitam a contradição evidente que é o facto de que gostariam que todos lêssemos muito para lhes chegarmos aos calcanhares, mas não querem que digamos ou mostremos que lemos porque isso é “tarefa” reservada aos consagrados. Eles quando estão tristes têm todo o direito de o dizerem em trezentas e vinte e quatro palavras redondas, às florzinhas, perfumadas e servidas em bandeja de prata cravejada de rubis; quando nós dizemos apenas “estou triste” porque só sabemos dizê-lo assim, acham que deveríamos mas era estar calados pois não é forma de exprimir sentimentos.
Estou com medo. E só sei dizê-lo assim. Virá alguém buscar-me a casa de madrugada como acontecia noutros tempos?
"TEXTOS PRÉ-BLOGUE"
Esta manhã JPP refere no Abrupto que andou pelos diários de Tolstoy e pelo de Kafka à procura de textos pré-blogue. Dá exemplos e conclui que «O carácter fragmentário da escrita “cabe” na página e favorece a citação.»
Na sequência dessa observação de JPP, tenho para mim que qualquer bom leitor de Português, volta não-volta, coloca à cabeceira (como fez há dias o Bicho Escala Estantes ) o “Livro do desassossego" de Fernando Pessoa, digo, de Bernardo Soares, exemplo acabado de texto pré-blogue.
Para avivar a memória dos seus apreciadores aqui fica uma citação do mesmo:
«Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho –, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros.»
Terá isto a ver, alguma coisa, com o prazer de blogar?
Esta manhã JPP refere no Abrupto que andou pelos diários de Tolstoy e pelo de Kafka à procura de textos pré-blogue. Dá exemplos e conclui que «O carácter fragmentário da escrita “cabe” na página e favorece a citação.»
Na sequência dessa observação de JPP, tenho para mim que qualquer bom leitor de Português, volta não-volta, coloca à cabeceira (como fez há dias o Bicho Escala Estantes ) o “Livro do desassossego" de Fernando Pessoa, digo, de Bernardo Soares, exemplo acabado de texto pré-blogue.
Para avivar a memória dos seus apreciadores aqui fica uma citação do mesmo:
«Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas. Talvez porque a sensualidade real não tem para mim interesse de nenhuma espécie – nem sequer mental ou de sonho –, transmudou-se-me o desejo para aquilo que em mim cria ritmos verbais, ou os escuta de outros.»
Terá isto a ver, alguma coisa, com o prazer de blogar?
SONHOS
Sonhei esta noite que a blogosfera se tinha enriquecido com os blogues de António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente e Vasco Graça Moura. Este com outro blogue além de o Pipi.
Para me consolar da desilusão que o acordar do sonho me causou vou deitar mão de alguns recortes de artigos, sempre actuais, que Vítor Cunha Rego dispersou pelos jornais.
Sonhei esta noite que a blogosfera se tinha enriquecido com os blogues de António Mega Ferreira, Vasco Pulido Valente e Vasco Graça Moura. Este com outro blogue além de o Pipi.
Para me consolar da desilusão que o acordar do sonho me causou vou deitar mão de alguns recortes de artigos, sempre actuais, que Vítor Cunha Rego dispersou pelos jornais.
sábado, julho 19, 2003
ABRENÚNCIO!
Hoje não vou comprar o “Expresso”: abre com o Bibi da Casa Pia; passa pela Filomena Pinto da Costa, às turras com o marido dela – o “Senhor Presidente”, como lhe chama Carlos Magno – e aterra na revista “Única” com a desengordurada Margarida da “Abraço”.
Querem coisa pior para o fim de semana?
Safa!...
E só deve safar-se mesmo o cartoon de António.
Hoje não vou comprar o “Expresso”: abre com o Bibi da Casa Pia; passa pela Filomena Pinto da Costa, às turras com o marido dela – o “Senhor Presidente”, como lhe chama Carlos Magno – e aterra na revista “Única” com a desengordurada Margarida da “Abraço”.
Querem coisa pior para o fim de semana?
Safa!...
E só deve safar-se mesmo o cartoon de António.
O PIPI E VASCO, VASCO E O PIPI – UM TESTE
Proponho-vos um exercício interessante: ler mentalmente o Pipi com a voz e a cadência conhecidas de Vasco Graça Moura. Já fiz isto várias vezes tendo ficado sempre com a quase certeza de que é ele o autor do blogue. É certo que o desmentido publicado em verso, no Abrupto, deve ser tido em conta – mas lá que isso não me convence, não convence mesmo –.
Proponho-vos um exercício interessante: ler mentalmente o Pipi com a voz e a cadência conhecidas de Vasco Graça Moura. Já fiz isto várias vezes tendo ficado sempre com a quase certeza de que é ele o autor do blogue. É certo que o desmentido publicado em verso, no Abrupto, deve ser tido em conta – mas lá que isso não me convence, não convence mesmo –.
sexta-feira, julho 18, 2003
VIVA LA MUERTE
Não podia ser de outra forma: Portugal, como apoiante incondicional da invasão do Iraque, tem todo o direito de colaborar activamente na reconstrução daquele país, e de beneficiar das contrapartidas inerentes, na proporção do seu envolvimento no conflito.
É portanto de saudar e apoiar o envio dos 120 militares da GNR para o Iraque pois não se admite que lá continuem a morrer apenas americanos e ingleses. O envolvimento em conflitos militares não pode ser apenas retórico.
Venham de lá, então, os mortos portugueses que o governo está sedento de protagonismo e o nosso ministro hiperglosso precisa de tema para se mostrar.
Nota:
Fui ao dicionário da Academia e vi que não contempla “hiperglosso”: língua volumosa – que mal cabe na boca (esta parte não pertence ao significado).
Não podia ser de outra forma: Portugal, como apoiante incondicional da invasão do Iraque, tem todo o direito de colaborar activamente na reconstrução daquele país, e de beneficiar das contrapartidas inerentes, na proporção do seu envolvimento no conflito.
É portanto de saudar e apoiar o envio dos 120 militares da GNR para o Iraque pois não se admite que lá continuem a morrer apenas americanos e ingleses. O envolvimento em conflitos militares não pode ser apenas retórico.
Venham de lá, então, os mortos portugueses que o governo está sedento de protagonismo e o nosso ministro hiperglosso precisa de tema para se mostrar.
Nota:
Fui ao dicionário da Academia e vi que não contempla “hiperglosso”: língua volumosa – que mal cabe na boca (esta parte não pertence ao significado).
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