quinta-feira, fevereiro 10, 2005

O COLO DE AGUSTINA
(OU O DIREITO À ASNEIRA)

A escritora Agustina Bessa Luís declarou num jantar que apoia Santana Lopes «porque ele é um homem comum e o mundo tende cada vez mais a ser das pessoas comuns».

À primeira vista esta declaração de Agustina parece ser uma tirada de grande lucidez reflectindo uma análise profunda que até agora escapara a todos, mesmo aos espíritos mais sagazes. Mas infelizmente parece que não é bem assim.

Deixem-me só perguntar a Agustina se quando ela precisa de um ginecologista, por exemplo, se entrega nas mãos de uma pessoa comum para a observar e tratar.

Está mais que claro que assim não é.

Assim como Agustina Bessa Luís vai a um ginecologista quando precisa de um ginecologista, assim também os eleitores portugueses, quando precisam de eleger um Primeiro Ministro, devem votar num candidato capaz e preparado para exercer o cargo de Primeiro Ministro e não num homem comum qualquer, como, por exemplo o é (e ficámos a saber isso com Agustina), Pedro Santana Lopes.

Que alguém apoie Santana Lopes por uma questão de clubismo político, ingenuidade, falta de capacidade de análise, etc., entende-se. Mas que Agustina Bessa Luís o faça com este argumento tão estapafúrdio, é caso para total estupefacção.

Nós sabemos bem, pela leitura dos livros de Agustina Bessa Luís, que a autora gosta muito de pessoas comuns (motoristas, criados, moços de recados, costureiras, jardineiros, polícias, etc.). Mas cremos que não lhe ficaria mal moderar um pouco esse seu entusiasmo quando se trata de escolher alguém para dirigir o Governo de Portugal.

A não ser que Agustina só tenha dito o que disse por estar mais que certa da derrota de Santana Lopes e tenha querido com essas declarações apenas dar um pouquinho de colo a tão maltratado bebé de incubadora.